Título: Votação tensa
Autor: Iunes, Ivan; Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 03/12/2010, Política, p. 9

A votação do pré-sal funcionou como um teste para três petistas que agem como pré-candidatos à Presidência da Câmara: Marco Maia (RS), João Paulo Cunha (SP) e Cândido Vaccarezza (SP). O confronto direto da habilidade política do trio e da capacidade de negociar com parlamentares da base e oposição em momento de crise e de alta temperatura de ânimos deu vantagem a Cunha. O ex-presidente da Casa foi o responsável por reunir líderes da base e da oposição e por convencer os parlamentares a votar o trecho polêmico da distribuição de royalties quando os deputados ameaçavam derrubar a sessão.

Vaccarezza não se destacou e a presidência de Maia, segundo na hierarquia da Casa e responsável pela reunião, foi duramente criticada pelos colegas. Durante a votação simbólica para analisar destaque do PPS para manter artigo sobre a divisão dos royalties, os parlamentares acusaram Maia de ter contado errado o número de parlamentares que apoiaram a votação nominal da proposta. Os protestos inflamaram o plenário a ponto do petista quase perder o controle da sessão.

A estratégia do governo foi montar uma pauta com cinco itens polêmicos para reunir parlamentares que passaram o ano tentando emplacar a votação de projetos como a regularização das casas de bingo e pleitos de suas bases eleitorais, como a renovação da Lei Kandir. Entre as manobras regimentais utilizadas pela base do governo para aprovar o pré-sal, surpreendeu os parlamentares o ¿não¿ do líder do PR, Sandro Mabel (GO), à orientação da bancada do partido para votar contra o relatório do deputado Antonio Palocci (PT-SP). Com a orientação negativa à matéria, Mabel ganhou o direito de pedir verificação de quorum, tirando dos parlamentares insatisfeitos a oportunidade de utilizar o mesmo artifício para votar o destaque que recolocava, no texto, a proposta do senador Pedro Simon (PMDB-RS) que redivide os royalties do petróleo entre os estados não produtores.

Artifícios ¿Deputados que são a favor dos seus estados, não votem, a fim de que caia esta sessão. Vamos todos obstruir! Foi uma manobra do Sandro Mabel para tirar o direito dos estados na questão dos royalties. Peço aos deputados que não votem e não atendamos essa manobra suja que foi feita agora de última hora¿, protestou o deputado Pedro Fernandes (PTB-MA).

Em um dos momentos de tensão, o deputado Chico Alencar (PSol-RJ) fez duros ataques à estratégia governista. ¿Que palhaçada é esta? Depois de tanta celeuma, não vai ter painel? Faço questão! Agora é o grande golpe! Isso é, com todas as letras, uma baita sacanagem. É um jogo sujo. Todo mundo aqui faz uma grande encenação. Não é hobinhoodiana não; é hollywoodiana de péssima qualidade.¿

A atuação de Palocci na sessão de ontem foi apontada como uma antecipação do trabalho político que o futuro ministro de Dilma Rousseff terá na Esplanada. O deputado Miro Teixeria (PDT-RJ) criticou a estratégia de montar pauta de interesses pontuais, como a lei de bingos, para garantir o quorum, mas elogiou a habilidade política de Palocci. ¿Não estamos procedendo como uma federação, mas como grupos de interesse. Organizou-se uma pauta para atrair público. O Palocci fez um trabalho de maestro¿, resumiu Miro. (JJ)