Título: Desafio é elevar a competitividade, afirma presidente
Autor: Exman, Fernando; Campos, Eduardo; Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2012, Brasil, p. A3

Em um esforço para tentar resgatar a confiança do empresariado, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que algumas das medidas de estímulo à economia adotadas pelo governo durante o ano ainda surtirão o efeito esperado.

Dilma reafirmou o compromisso de sua administração com a redução dos preços da energia elétrica, sinalizando que o governo usará recursos do Orçamento para garantir uma maior competitividade do Brasil. A presidente também demonstrou estar decidida a agilizar a aprovação e reduzir a burocracia para a liberação de financiamentos ao setor, e instou a indústria a elevar os investimentos no país.

Em discurso na abertura do Encontro Nacional da Indústria, evento promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Dilma aproveitou para fazer um balanço da sua administração. Reconheceu que o desempenho da indústria em 2012 foi "bastante precário". Ponderou, por outro lado, que o setor vem se recuperando e o crescimento industrial terá de ser muito mais "pujante" nos próximos meses e anos. Para isso ocorrer de forma efetiva, destacou a presidente, a indústria terá de investir mais.

"Várias medidas que nós tomamos em 2012 ainda não têm seus efeitos completos apresentados, e nós temos certeza que elas irão se difundir pelo sistema econômico e vão sinalizar um novo estágio do nosso desenvolvimento", disse a presidente a uma plateia repleta de empresários.

Destacando que o Brasil precisa aproveitar suas riquezas naturais para diversificar a base produtiva nacional, fortalecer a indústria e investir em capital humano, Dilma afirmou que o principal desafio de seu governo é elevar a competitividade da economia. "Eu fiz da defesa de uma indústria forte e mais competitiva uma questão central para o nosso desenvolvimento", afirmou. "Acredito que uma indústria forte é o nó estratégico para que o Brasil tenha, de fato, um desenvolvimento sustentável."

O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, defendeu o que chamou de "corajosas" medidas governamentais de estímulo aos investimentos e de redução dos custos de produção. "A ampliação da taxa de investimentos públicos e privados é condição obrigatória para viabilizar o necessário aumento da produtividade, que caracteriza os ciclos de expansão prolongados observados em outros países. Esse é o grande desafio", disse o presidente da entidade.

Mesmo assim, segmentos do empresariado ainda demonstram cautela. Ao responder a uma pergunta sobre onde estava "espírito animal" do empresário, e por que não há crescimento do investimento, Jorge Gerdau, presidente do Conselho de Administração da Gerdau e da Câmara de Competitividade criada pelo governo, argumentou que é preciso analisar a conjuntura internacional e onde o Brasil se situa na atual crise. Segundo ele, o maior índice de importação vem sendo um agravante enfrentado pelo setor produtivo no mercado interno.

"O espírito animal está mais presente do que nunca. O animal aprendeu a ser cuidadoso na hora certa", afirmou Gerdau. "Não conheço empresário medroso." Para ele, o empresário anda de acordo com a situação do mercado. "Somos animais do mercado."

Em seu balanço, Dilma destacou a redução do patamar da taxa básica de juros da economia. Ela lembrou que a taxa de juros real brasileira encerrará o ano mais próxima dos níveis praticados no mercado internacional.

"Vivemos um período de transição, no qual os investimentos do setor real da economia tenderão ser mais atrativos que as demais oportunidades de investimento. E que também instrumentos variados de crédito surgirão como forma de permitir um nível de participação significativa do setor privado-financeiro no financiamento da atividade no nosso país", disse.

A presidente ressaltou que o Banco Central realizou esse movimento de forma cautelosa. Lembrou que decisões do governo possibilitaram tal alteração, como mudanças nas regras da poupança. A queda dos juros também proporcionou a redução da valorização do real, disse a presidente, fazendo com que o atual "mix de câmbio e juros" seja mais propício ao desenvolvimento produtivo e permita a redução do custo do investimento.

Aos empresários presentes, Dilma relembrou que o governo tem buscado remover gargalos de infraestrutura. "Até o fim de dezembro, vamos lançar o plano de investimentos para os aeroportos regionais - também um marco para viabilizar a aviação regional no nosso país-, bem como novas concessões aeroportuárias para os aeroportos chamados centrais", antecipou a presidente. "É nosso objetivo retomar, em março e novembro de 2013, os leilões de blocos de petróleo e gás, tanto na área do pós-sal como na área do pré-sal."

Outro tema sensível ao empresariado foi abordado pela presidente: Dilma afirmou que o Executivo tem se esforçado para reduzir a carga tributária, focando as áreas mais importantes, devido às dificuldades observadas nos últimos anos na aprovação de uma reforma tributária estrutural.

"Chamo a atenção para a desoneração da folha de pagamento que estamos promovendo ao mudar a base de contribuição para o INSS, da folha para o faturamento", afirmou a presidente, para quem a redução do custo da mão de obra no Brasil ocorre sem perdas de direitos trabalhistas. "No contexto atual e internacional, é, de fato, algo que nos distingue."

Segundo a presidente Dilma, o Executivo desonerou diversos setores, está utilizando as compras governamentais para estimular a indústria e adotou um novo regime automotivo para incentivar o investimento em inovação. A presidente também destacou as medidas adotadas pelo governo para elevar a qualidade da educação e a qualificação da população.