Título: Guerra civil na Síria deixa economia perto de colapso
Autor: Fielding-Smith, Abigail; Peel, Michael
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2012, Internacional, p. A15

A moeda síria passou a sofrer intensa pressão nas últimas semanas, depois que os rebeldes levaram os combates para mais perto do centro da capital e que as potências internacionais começaram a falar em intervenção militar na guerra civil no país.

O valor da libra síria caiu mais de 15% no mercado negro desde o início de novembro, à medida que passaram a se intensificar os problemas militares, diplomáticos e econômicos do regime, aumentando a possibilidade de um eventual colapso da moeda.

A combinação de queda da libra síria, sanções internacionais e asfixia das rotas de suprimento estão encarecendo ainda mais os produtos básicos. Um morador em Damasco disse ter gasto 650 libras sírias (US$ 9) no dia anterior, ao comprar uma galinha cozida, que teria custado cerca de 350 libras alguns meses atrás. "A vida na Síria está muito, muito cara, agora", disse ela. "O valor do dólar está aumentando muito rápido".

No início da insurreição, em março do ano passado, um dólar comprava cerca de 47 libras tanto nos canais oficiais como no mercado negro. A partir de então, o valor da libra não parou de cair, ao passo que as receitas em moeda estrangeira das exportações de petróleo e do turismo praticamente desapareceram.

Até agora, as intervenções do Banco Central conseguiram manter a depreciação em evolução administrável, e o dólar nunca conseguiu comprar mais de 75 libras durante a maior parte do ano.

Mas, em novembro, o câmbio cruzou o patamar de 80 libras, e as tentativas das autoridades de conter o mercado negro aproximando mais o câmbio oficial do paralelo e aumentando a punição a doleiros não impediu que o dólar chegasse a 90 libras nesta semana, segundos moradores de Damasco.

"A situação económica está desastrosa", disse um economista baseado em Damasco. "Eles injetam algum dinheiro, mas após algum tempo ele é absorvido pelo mercado e voltamos à mesma situação".

Não se conhece o montante de moeda forte disponível para que o banco central possa combater a tendência do câmbio. Adib Mayaleh, presidente do Banco Central da Síria, disse em setembro ao "Financial Times" que o país havia gasto menos de 10% de suas reservas em moeda estrangeira desde o início da crise, mas muitos analistas independentes dizem que o número é provavelmente superior a 50%, a não ser que tenha entrado dinheiro de fontes externas.

O BC recusou-se ontem a responder perguntas sobre o montante em suas reservas - oficialmente em torno de US$ 15,1 bilhões em agosto -, sobre a moeda ou sobre o estado da economia.

Analistas dizem que o governo pode acabar tendo de desistir de defender a moeda, para proteger suas reservas. "Creio que há vários indícios de que o governo ficou sob forte pressão nas últimas semanas", disse Jihad Yazigi, editor do boletim de negócios Relatório Síria. "Em algum momento, o BC vai ter de decidir: vamos combater até o último homem?"

A inflação, causada em parte por perturbações na produção, manufatura e suprimento, está pressionando ainda mais o câmbio. Em agosto, o governo anunciou que a inflação estava em torno de 40%. Agora acredita-se que seja de aproximadamente 50%.

O regime, por outro lado, vive uma crise orçamentária, em vista das previsões de que as receitas vão despencar, criando um rombo de 745 bilhões de libras.

Até agora, o regime está pagando salários. Mas economistas dizem que o impacto econômico acumulado de quase dois anos de instabilidade pode logo tornar-se tão difícil de conter quanto a própria insurgência.