Título: Rota do tráfico muda para o Centro-Oeste
Autor: Edson Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 03/12/2010, Brasil, p. 12

Operação da Polícia Federal prende 18 pessoas e comprova que estados próximos ao DF, como Goiás e Tocantins, se tornaram o principal caminho para a entrada de drogas no país

Uma nova ação da Polícia Federal, desencadeada ontem em seis estados, e que resultou em 18 prisões, está comprovando que o narcotráfico realmente vem mudando sua rota e se estabelecendo na Região Centro-Oeste. A Operação Cinco Estrelas desbaratou uma quadrilha que tinha como base os estados de Goiás e de Tocantins, para onde eram enviadas grandes quantidades de cocaína, que abastecia o Sudeste do país ou seguia para o exterior. Autoridades brasileiras avaliam que o tráfico pode aumentar na região, à medida que as rotas tradicionais estão mais fiscalizadas após a tomada do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro.

As investigações começaram há um ano, após a apreensão de 350 quilos de cocaína em Paraíso do Tocantins (TO). A partir daí, a Polícia Federal começou a localizar as ramificações da quadrilha, que levava a droga da Bolívia por Rondônia. O pó ficava armazenado em cidades tocantinenses e em Goiânia, onde ficava o elo principal do grupo. No Brasil, o entorpecente era preparado em quantias menores, que seriam vendidas em outros centros, como o Rio de Janeiro, onde a Operação Cinco Estrelas também realizou prisões no dia de ontem. Além disso, houve mais prisões em Palmas (TO), Rondônia, Pará, Mato Grosso e Goiás.

O tráfico era financiado por pessoas que moravam em Tocantins, que também forneciam a logística e os contatos para a quadrilha, além de auxiliar no transporte. Os núcleos de Goiás e de Rondônia eram responsáveis pelo fornecimento da cocaína e intermediavam as negociações dentro do território brasileiro. O pó chegava ao Centro-Oeste pelas estradas ¿ por meio de caminhões de cargas ¿ ou por aviões. No ano passado, a Força Aérea Brasileira (FAB) chegou a dar tiros de advertência em uma aeronave com a droga, que fez pouso forçado em Luziânia, com mais de 150 quilos de pasta-base.

Segundo as autoridades brasileiras, com o aumento da fiscalização nas principais rotas, a tendência é aumentar o chamado tráfico formiguinha. ¿A tendência dos traficantes é reduzir os volumes de droga, e tentar passar com pequenas quantidades¿, acredita o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto. Ele destacou ainda que 11 regiões do país ¿ que fazem divisas com outros países ¿ estão com reforço policial para evitar a entrada de droga. ¿Também está havendo uma integração maior entre os estados com o mesmo fim.¿

Sonegação No Rio, a PF também desbaratou um grupo de empresas que subfaturavam mercadorias importadas da China, dando um prejuízo de pelo menos R$ 10 milhões aos cofres públicos por causa da sonegação de impostos. A Operação Sobrecarga, realizada ontem por 150 policiais e 44 auditores da Receita Federal, prendeu quatro pessoas, entre elas um chinês que morava no Brasil com documentos falsos e que mantinha negócios em paraísos fiscais. Segundo o superintendente adjunto da 7ª Região Fiscal do Rio e Espírito Santo, Marcos Vinícius Vidal Pontes, mais de 50% da renda das empresas eram enviados para o exterior de forma irregular. ¿Eles só podiam mandar para a China de 30% a 40% dos lucros pelo Banco Central, por via legal. Os outros 60% eram mandados por meio de doleiros¿, explica Pontes.

As investigações da Polícia Federal começaram há mais de um ano, depois que a Divisão de Investigações da Alfândega e Imigração dos Estados Unidos (DHS/ICE) repassou para o fisco brasileiro informações sobre a atuação de doleiros que agiam em território americano.