Título: Política monetária dos EUA teve efeito bom para Brasil
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 06/12/2012, Finanças, p. C6

O bom desempenho das exportações brasileiras aos Estados Unidos e a ausência de movimentos expressivos de investimento especulativo dos EUA no mercado brasileiro são a prova de que a política monetária americana trouxe ao país mais efeitos positivos do lado comercial que negativos do lado financeiro, defende o subsecretário do Tesouro americano para Finanças Internacionais, Charles Collyns.

A política de redução de juros e aumento da oferta de dólares nos EUA é acusada pelo governo brasileiro de provocar desvalorização artificial da moeda americana e prejudicar o Brasil com uma "guerra cambial".

"Numa época em que os investidores estão, em geral, com aversão ao risco, cautelosos, não temos visto fluxos de capital particularmente grandes dos Estados Unidos aos emergentes", disse. "A atração de capital no Brasil tem sido feita mais por meio de investidores estrangeiros diretos que por fluxos de portfólio", argumentou, em entrevista ao Valor, pouco antes de voltar aos EUA após encontros com autoridades no BNDES, Ministério da Fazenda e Banco Central, além de economistas do setor privado.

Os encontros com autoridades brasileiras são uma parte pouco visível do bom relacionamento diplomático bilateral estabelecido há oito anos e mantido desde o princípio do governo Dilma Rousseff. As trocas de informações não eliminam as divergências, como as seguidas acusações do governo brasileiro contra a chamada "guerra cambial", mas reduzem os pontos de atrito. Collyns, que escreveu artigos contra a mão pesada na política de câmbio por parte de países do Leste Asiático, chegou a listar argumentos em defesa da política cambial brasileira, pouco antes de deixar o Brasil, terça-feira.

"O Brasil está claramente preocupado com movimentos excessivamente rápidos na taxa de câmbio", disse, lembrando os efeitos da valorização do real sobre a competitividade da indústria brasileira, nos últimos dois anos. "Nessas circunstâncias, as autoridades tomaram ações para assegurar que os movimentos de câmbio não fossem exagerados, foram sensíveis para responder a circunstâncias difíceis". É uma situação diferente da dos países asiáticos, em que a depreciação artifical do câmbio pode gerar medidas defensivas de outros países criando uma "armadilha de crescimento baixo."

Collyns deixou o país antes da última medida do governo que removeu parte das barreiras impostas à entrada de capital no país. Decreto presidencial reduziu de dois para um ano o prazo dos empréstimos externos sujeitos à cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 6%. Na terça-feira, o Banco Central já tinha ampliado para cinco anos o prazo para antecipação de receitas de exportações.

Ressalvando não ser especialista em economia brasileira, Collyns rejeitou as avaliações que apontam uma mudança de rumos na política macroeconômica do país. "Não houve grande mudança no arcabouço macroeconômico; os fundamentos ainda estão no lugar." Ele atribuiu boa parte da frustração dos investimentos no país às incertezas no cenário internacional, mas disse ter ouvido das autoridades que a falta de definições no marco regulatório para infraestrutura é um dos motivos que atrasam as decisões de investidores.

Collyns comentou ainda estar otimista em relação a um acordo em "duas etapas" entre o governo Barack Obama e a oposição republicana para evitar o chamado "abismo fiscal" - os cortes automáticos de despesa e extinção de benefícios fiscais, em janeiro, que podem retirar cerca de US$ 600 bilhões de circulação, ameaçando interromper a recuperação da economia. Os republicanos reconhecem que a solução deve incluir medidas de aumento da receita, para reduzir o déficit fiscal, e o governo aceita negociar cortes maiores nos programas de apoio social, argumentou. Segundo o subsecretário do Tesouro, as negociações serão "um tanto ruidosas", com aspectos de "teatro", mas confia alcançar um acordo até 20 de dezembro.