Título: Diretor nega irregularidades na ANA
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 07/12/2012, Política, p. A5

O diretor-presidente da Agência Nacional de Águas (ANA), Vicente Andreu, minimizou ontem a influência no órgão do ex-diretor de Hidrologia Paulo Vieira, suposto chefe da quadrilha que fraudava pareceres técnicos de órgãos federais, afastando assim ao máximo a ligação de Vieira com o governo.

Em audiência pública na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, Andreu ressaltou que a ANA não é alvo de investigação da Polícia Federal e garantiu que nenhum procedimento da agência foi manipulado pelo grupo.

"[Tenho] completa convicção de que nada envolveu a ANA nos seus procedimentos regulatórios. Não houve fiscalização motivada por pedido do Paulo, não houve outorga motivada por pedido pessoal do Paulo, não houve contrato. Nada aconteceu em função da deliberação dele", afirmou. Para o presidente, Paulo Vieira utilizou-se do "espaço que o cargo lhe proporciona, para delinquir junto a um conjunto de pessoas de outras organizações de esfera pública e privada".

Vieira, que está afastado do cargo e chegou a ser preso pela PF, entregou ontem pedido de demissão à Presidência da República.

Andreu disse que diante da falta de conhecimento técnico da área, a ANA reduziu os poderes da diretoria de Hidrologia, ocupada desde maio de 2010 por Paulo Vieira.

"Ele era uma pessoa desconhecida do sistema nacional de recursos hídricos e pelas organizações do sistema. Tomamos uma decisão, no âmbito da diretoria, de que deveríamos reduzir a possibilidade de exercício discricionário em relação a alguns temas", explicou. Segundo ele, embora pareça contraditório, uma área mais técnica "é muito menos suscetível" à opinião do diretor.

Além disso, ao longo dos últimos dois anos, a instituição suspendeu o tradicional rodízio entre os diretores. Andreu contou que desde o início, Paulo Vieira manifestou desconforto com as mudanças.

"Ele não aprovava essa indicação, ele gostaria de ter vinculado a seu mandato áreas como regulação, fiscalização e administrativa", declarou. "Foi um mecanismo que nós encontramos para reduzir, senão eliminar - eu acredito que eliminamos -, a condição de uma posição que poderia ser diferente".

O presidente da ANA definiu Paulo Vieira como uma pessoa "ambiciosa", "complexa" e que "disputava autoridade" com os demais diretores. Ao longo do mandato, no entanto, Vieira teria mudado de comportamento e se afastado das decisões da agência.

Vicente Andreu confirmou ainda que Vieira tinha ambição de concorrer a deputado estadual. Apesar de ser filiado ao PT, ele dizia que seria candidato pelo PR. "Ele mencionava diversas vezes que tinha pretensão de sair em chapas com o deputado federal Valdemar Costa Neto", disse Andreu após participar de audiência pública na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado. Valdemar Costa Neto foi condado a sete anos e dez meses de prisão por envolvimento no escândalo do mensalão.

Segundo o presidente da ANA, a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha - também indiciada pela PF por envolvimento com a quadrilha -, chegou a visitar a sede da agência algumas vezes. Mas Andreu, que é ex-militante do PT, afirmou que "nunca recebeu nenhum pedido de Rosemary e nem de ninguém do governo".

Andreu disse que Vieira também dizia ser próximo de José Dirceu. Como é amigo do ex-ministro da Casa Civil, o presidente da ANA disse que ligou para o petista para se aconselhar, uma vez que tinha uma "relação tumultuada" com Vieira. "O Zé me disse: "Não conheço, apertei a mão dele duas vezes na vida, [ele] fica falando o meu nome. Faz o que você acha que deve fazer"", contou.