Título: Não discuto as sentenças do Supremo, diz Dilma
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2012, Política, p. A6

No mesmo dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) definiu as penas dos ex-dirigentes petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares no julgamento do mensalão, a presidente Dilma Rousseff afirmou que acata as decisões da Suprema Corte brasileira. Em entrevista ao jornal espanhol "El País", publicada ontem, Dilma disse que como presidente da República não pode se manifestar sobre as determinações do STF, mas fez ponderações. "Acato suas sentenças [do Supremo], não as discuto. O que não significa que ninguém neste mundo de Deus esteja acima dos erros e das paixões humanas", afirmou.

A entrevista foi feita há uma semana, em Brasília, quando Dirceu foi condenado a 10 anos e 10 meses de prisão, Delúbio a 8 anos e 11 meses e Genoino a 6 anos e 11 meses.

Dilma evitou falar sobre o escândalo do mensalão, que marcou a primeira gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva., mas defendeu seu antecessor. "Poucos governos fizeram tanto para controlar o gasto público quanto o do presidente Lula", afirmou, citando ações como o Portal da Transparência, com a divulgação das contas públicas, e a Lei de Acesso à Informação, que obrigada a divulgação do salário de servidores.

"Sou radicalmente a favor de combater a corrupção, não só por uma questão ética, mas também por um critério político", disse Dilma. "Falo agora da corrupção dos governos, não a de outro tipo, como a das empresas, que também existe. Um governo é 10 mil vezes mais eficiente quanto mais controla, mais fiscaliza e mais impede os desvios", afirmou. "Não há meio termo nesse aspecto".

Na entrevista, concedida às vésperas da Cúpula Ibero-americana de Cádiz, Dilma criticou as medidas adotadas pela Europa para tentar superar a crise econômica. "Não creio que o problema da Europa seja seu modelo de Estado de bem-estar. O problema é que aplicaram soluções inadequadas para a crise e o resultado é um empobrecimento das classes médias. A esse ritmo se produzirá uma recessão generalizada", declarou.

A presidente disse que o Brasil viveu problema semelhante quando o Fundo Monetário Internacional impôs ao país um processo de "ajuste", "austeridade", com o corte de gastos. "Esse modelo quebrou quase toda a América Latina nos anos 80. As políticas de ajuste por si mesmas não resolvem nada se não houver inversão, estímulo ao crescimento."

Dilma declarou que o euro é um projeto inacabado e que se a Europa quiser resolver seus problemas terá de finalizá-lo. "A moeda única europeia é uma das maiores conquistas da humanidade, ainda mais em um continente tão castigado pelas guerras e disputas internas. É um fenômeno econômico, social, cultural e político, mas que está incompleto. Não pode seguir assim se quisermos vencer a crise", afirmou.