Título: Confiança na economia é decisiva para apoio a Dilma, diz Kassab
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 19/11/2012, Política, p. A7

Instalado no comando do maior centro financeiro e industrial do país, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, prepara-se para arrematar o projeto arquitetado há dois anos que resultou no cisma do Democratas (DEM) e na reativação da sigla PSD: compor a base do governo e desde já anunciar apoio à reeleição da presidente Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto.

Kassab sustenta sua decisão na constatação de que a atual maioria do PSD apoia o governo e numa aposta ousada: depois de um período de desconfiança no governo, a iniciativa privada voltará a investir. "Estou confiante nisso", disse o presidente nacional do PSD ao Valor. Na terça-feira, 13, Kassab jantou no Palácio da Alvorada e conversou com Dilma sobre a conjuntura e o futuro da pareceria.

A relação, segundo Kassab, estava realmente "abalada". Havia desconfiança com a intervenção do Estado na economia. Mas um fator fundamental para a "retomada da confiança" foi "estabilidade social". Ele cita a manutenção do índice de emprego. A indústria não demitiu e preferiu aguardar os desdobramentos da conjuntura. "A confiança está sendo readquirida, a aprovação da presidente continua muito alta e um dos principais motivos do apoio da população é o emprego", diz.

Sem falsa modéstia, o prefeito diz "tudo foi feito como deveria" na criação do PSD. Nem sempre. Quando iniciou as tratativas para o relançamento da sigla, por exemplo, Kassab não dizia mas duvidava da candidatura de José Serra (PSDB) à sua sucessão. Àquela altura, ele já negociava com Lula e Dilma. Serra saiu candidato. Kassab fez o que dizia a todos os interlocutores políticos e aos jornalistas: Com Serra no páreo, ele o apoiaria por uma questão de lealdade política.

Kassab considera que já pagou a dívida que tinha Serra. Os dois já conversaram sobre os novos caminhos que o prefeito planeja percorrer. "Ele (Serra) entendeu", diz. Além de uma transição tranquila na prefeitura, as preocupações do prefeito agora são assegurar a unidade do partido no apoio a Dilma agora e em 2014.

"Quando o partido foi criado nós afirmamos que não queríamos cargo, pois teríamos uma atuação independente", diz Kassab. E assim foi do final de 2011 até agora. Para 2013, Kassab quer antecipar a decisão de 2014. O prefeito acha que uma coisa está atada a outra. Se o PSD entrar agora para base de apoio ao governo e indicar um nome para o ministério, deve também se comprometer com o projeto da reeleição da presidente. "Quero que seja uma decisão oficial", afirma.

Acertado o apoio do PSD ao governo Dilma, a presidente deve pedir um nome do partido para o ministério. "Se ela pedir, nós temos quadros para oferecer", diz o presidente do PSD. O nome mais citado, até agora, é o do mineiro Paulo Safady Simão, presidente da Confederação Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Safady leva a vantagem de ser de Minas Gerais num ministério com apenas um mineiro (Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio).

Mas o próprio Kassab, ao ser questionado sobre o assunto, não descarta a possibilidade de o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos, ser indicado. Afinal, o governador Geraldo Alckmin rompeu com o PSD ao demitir seu vice do cargo de secretário do Desenvolvimento e de se candidatar contra a reeleição de Kassab, nas eleições de 2008.

Além disso, Afif tem uma história relacionada às microempresas, às quais seria destinado o novo ministério prometido por Dilma na campanha eleitoral. Para virar ministro, Afif teria de renunciar à vice-governadoria. A simples menção a sua saída do governo Alckmin causa incômodo ao PSDB e satisfação ao PT, que hoje vê como real a possibilidade de governar São Paulo.

Kassab diz que a transição entre seu governo e o de Fernando Haddad (PT) está correndo bem. Ele elogia a escolha dos secretários do prefeito eleito, inclusive de Jilmar Tatto para a Secretaria de Transportes. Segundo ele, grande parte do prestígio da senadora Marta Suplicy, em São Paulo, deve-se ao que ela, como prefeita (2001-2005), fez nessa área. "E quem influiu foi o Tatto", assegura o prefeito.