Título: SAP investe em centro de pesquisa no Brasil
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 14/03/2007, Empresas, p. B3

A fabricante de sistemas de gestão empresarial SAP irá investir US$ 40 milhões na construção de um centro de pesquisa e desenvolvimento (P&D) no Brasil. Com o recurso, que deve ser aplicado nos próximos três anos, a companhia quer ampliar a sua unidade de engenharia de software implantada em junho do ano passado, na cidade de São Leopoldo (RS). O projeto, que começou com 30 profissionais, deverá somar 800 profissionais até meados do próximo ano.

Único centro de P&D da empresa em toda a América Latina, esta será a nona unidade de desenvolvimento da SAP em todo o mundo. Para dar conta da empreitada, a empresa trouxe ao Brasil o holandês Erwin Rezelman, diretor-geral dos centros globais de serviços da SAP. Há dez anos na empresa, Rezelman fez as malas e se mudou para o país com uma função muito clara: colocar de pé a nova unidade de desenvolvimento da empresa.

Aos 39 anos de idade, o executivo viveu os últimos três na China, onde a SAP concentra hoje cerca de mil engenheiros. Antes disso, morou seis anos no Japão, de onde também cuidou da construção do centro de P&D da Índia, hoje com mais de 3 mil colaboradores. "Acho que deu para acumular uma boa experiência", disse Rezelman, em entrevista exclusiva ao Valor.

A partir da nova unidade, a SAP pretende ampliar a colaboração entre seus times de engenharia em outros países, fortalecer a proximidade com clientes da América Latina e endurecer o jogo no mercado brasileiro de software de gestão. Até meados do ano passado, a SAP era apontada como líder destes sistemas no país, com 23% de participação. Essa liderança, porém, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), foi perdida para a brasileira Totvs, que - ao integrar operações da Microsiga, Logocenter e RM Sistemas - passou a ter 24% do setor.

Rezelman não se intimida, e adianta que o centro de P&D já está trabalhando para entregar, ainda neste ano, pacotes de sistemas preparados para pequenas e médias empresas, o principal filão da Totvs. "Estamos fazendo um investimento forte, de porte similar ao que fizemos na China", diz o executivo. "Nossa iniciativa trará outros parceiros para a região".

O objetivo é concluir a instalação do centro de P&D até meados do ano que vem. "Há muitos pontos em comum entre os projetos. O entusiasmo é similar. A grande diferença está em como este entusiasmo se converte em ação."

Na Ásia, segundo o executivo, há pressa para tudo, o que já não acontece no Brasil. "Se eu fosse escritor, meu livro sobre a China se chamaria 'O amanhã é hoje'", diz. E se a obra fosse sobre o Brasil? "Acho que a batizaria de "O amanhã nunca vem", diz Rezelman, que logo se adianta para explicar o tom jocoso da afirmação. "Isso não é uma crítica negativa, acho que é o estilo de vida. Aqui as pessoas têm suas vidas, elas aproveitam o tempo, essa é a diferença. Na China, não se aproveita a vida."

No clima de "carpe diem", Rezelman diz que ainda não sabe quando irá embora do Brasil, nem qual será seu próximo destino. Está casado com uma brasileira e se contenta em dizer apenas que "ainda é muito cedo para pensar nisso".