Título: FMI: crise europeia é grave
Autor:
Fonte: Correio Braziliense, 03/12/2010, Economia, p. 19

Diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional alerta que os problemas na Zona do Euro não devem ser subestimados

Nova Délhi (Índia) ¿ O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, emitiu ontem um sinal de alerta importante para o mundo. Segundo ele, a crise que afeta vários países europeus, atolados em dívidas elevadíssimas, não deve ser subestimada e todos devem ficar em alerta para enfrentar as possíveis consequências. ¿Não devemos subestimar a importância desta crise, que, na Irlanda, tem sua origem principalmente no setor bancário¿, disse Strauss-Kahn, depois de um encontro com o ministro das Finanças indiano, Pranab Mukherjee.

Strauss-Kahn ressaltou, porém, estar confiante em uma solução para os graves problemas europeus. ¿Acho que a decisão que foi tomada na Irlanda¿ que recebeu um socorro de 85 bilhões de euros do FMI e da União Europeia ¿ resolverá os problemas do setor bancário. A economia irlandesa se recuperará rapidamente¿, afirmou. Na avaliação do executivo, apesar de toda a turbulência que sacode a Zona do Euro, não se pode relevar o potencial econômico da região. ¿A crise na Europa continua muito forte¿, destacou Strauss-Kahn. ¿Mas a recuperação mundial avança, ainda que esteja em fase de emergência e frágil¿, frisou.

Segundo o diretor-gerente do FMI, em algumas partes do mundo, na Ásia, na América do Sul e em algumas regiões da África, o ritmo de crescimento tem sido bom. Estima-se que, neste ano, as economias emergentes avançarão pelo menos o dobro da taxa prevista para o mundo e da que se verificará nos países meses ricos do planeta. Não à toa, China, Índia e Brasil vêm atraindo um fluxo fortíssimo de capital estrangeiro, um problemão para as suas moedas.

Mudança no poder Ao mesmo tempo em que chamou a atenção para a crise europeia, o chefe do FMI defendeu uma reforma radical das grandes instituições financeiras mundiais, indicando que o seu sucessor e o novo comandante do Banco Mundial (Bird) não deveriam ser europeu ou norte-americano. Um acordo tácito, que data da época da criação dos dois organismos multilaterais, estabelece que Europa e Estados Unidos se revezem na liderança dos dois órgãos. Strauss-Kahn é francês, e Robert Zoellick, atual presidente do Bird, é norte-americano.

¿O chamado acordo entre os Estados Unidos e a Europa, segundo o qual o chefe do FMI é europeu e o presidente do Banco Mundial, norte-americano, acabou¿, declarou Strauss-Khan, ex-ministro das Finanças da França, que assumiu o cargo no FMI em 2007. Para ele, é justo que os próximos líderes das duas instituições venham de outra parte do mundo.

Desde a sua fundação, em 1946, os 12 presidentes do Bird foram cidadãos norte-americanos, e os 10 diretores do FMI, europeus. Mas o deslocamento do poder econômico para a Ásia, graças a China, Japão e Índia, reforçou as pressões pelo fim desse acordo informal. No começo de novembro, o conselho administrativo do FMI adotou uma reforma proposta pelo G-20, o grupo das 20 nações mais ricas do mundo, que duplicou seu capital e modificou a divisão de poderes, dando mais peso às economias emergentes e à China.

PORTUGAL TENTA SOBREVIVER » Lisboa ¿ O governo português informou ontem que planeja impor limite para os deficits fiscais do país em meio às pressões dos mercados para consolidar as suas finanças. Segundo o secretário do Orçamento de Portugal, Emanuel dos Santos, o governo planejará orçamentos consistentes para os próximos anos, de forma a indicar aos investidores que o equacionamento das contas públicas é para valer. A meta é reduzir para 3% o rombo de quase 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Os custos dos empréstimos a Portugal dispararam ao longo deste ano devido aos receios do mercado na capacidade do governo de honrar seus compromissos em dia. Os analistas acreditam que, independentemente das promessas, o país é o próximo na fila do resgate já concedido à Grécia e à Irlanda pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

ESTÍMULOS MANTIDOS

Frankfurt (Alemanha) ¿ Temendo o caos, o Banco Central Europeu decidiu manter todos os estímulos à economia na Zona do Euro. Além de prolongar o refinanciamento dos empréstimos aos bancos, a instituição sustentou a taxa básica de juros em 1%. Segundo o presidente do BCE, Jean-Claude Trichet, não haverá avanços em relação a essa medidas, a despeito das pressões do mercado financeiro.

Trichet informou que o BCE também prolongará as operações de empréstimo aos bancos nas mesmas condições que deveriam terminar em janeiro, pelo menos até 12 de abril de 2011. Na sua avaliação, o banco ajudará na recuperação econômica da Zona do Euro, que apresenta uma dinâmica ¿positiva¿, ainda que com uma ¿incerteza elevada¿.

Os mercados e os analistas estavam atentos às medidas anunciadas por Trichet, pois muitos bancos dos países mais endividados da Europa dependem da liquidez do BCE para se financiar. Havia a expectativa de um anúncio contundente do BCE sobre seu programa de compras semanais de títulos públicos, para devolver a calma aos mercados e reduzir os juros da dívida de países como Espanha, Portugal e Itália, que alcançaram níveis recordes.

O BCE renovou as suas previsões de crescimento e de inflação para a Zona do Euro. Espera crescimento de 1,4% para 2011 e de 1,7% em 2012. Já a inflação deve ficar em 1,8% no ano que vem e em 1,5% em 2012.