Título: PSDB lança Aécio a 2014 e resgata legado de FHC
Autor: Junqueira, Caio; Sousa, Yvna
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2012, Política, p. A11

O PSDB lançou ontem a candidatura do senador Aécio Neves (MG) a presidente da República em 2014 e ainda apontou qual discurso os tucanos devem adotar durante a campanha. Sai o enfoque moralista de Geraldo Alckmin, em 2006, e de José Serra, em 2010, e entram o resgate do legado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e as críticas dos efeitos da gestão petista na economia.

Coube a FHC dar o tom a ser seguido pelos tucanos até a sucessão presidencial. Foi o primeiro a falar sobre a candidatura Aécio, logo no início do encontro com prefeitos eleitos pelo partido para discutir gestão municipal. "A lei é que diz quando pode lançar candidato, mas outra questão é o partido [lançar]. Acho que o senador Aécio é um nome e portanto tem de, desde já, assumir suas responsabilidades de líder político, com uma plataforma mais forte para que o partido ofereça para correr o Brasil", declarou. Ao lado de Aécio e de FHC, o deputado Sérgio Guerra (PE), presidente nacional do PSDB, foi mais incisivo. "Aécio é seguramente o candidato da grande maioria do PSDB. É unânime no partido que ele é o candidato em 2014", disse.

No entanto, Aécio recusou o papel, ao menos por ora. "Temos antes que apresentar ao Brasil a nova agenda dos próximos anos, que fale da gestão, da refundação da federação. Acredito que o momento do lançamento tem que ser de forma natural. Não é esse o momento ainda", disse. De acordo com ele, seu papel será cumprido na construção dessa agenda "mas sem açodamento" para "aí sim, no amanhecer de 2014, apresentar uma candidatura". "A decisão correta no tempo errado não terá o resultado que se espera", concluiu.

A essa altura, porém, o fato já estava consumado e o senador mineiro até chegou a assumir um discurso de candidato, baseado em desacertos na condução da economia do país. "Há um sentimento novo e claro de mudança e cansaço. Seremos o país que menos vai crescer. Se nos colocarmos ao lado de outros países, vamos perceber o tempo perdido. O que há é uma desconexão desse governo, do ufanismo da propaganda oficial, da realidade palpável de todos os brasileiros. O crescimento é pífio na economia", disse Aécio.

Finalizou com a necessidade de alternância de poder, na única vez em que citou "ética" em sua fala de mais de 20 minutos. "Consigo entender por que o governo não avança na infraestrutura. É porque o governo do PT abdica de ter um projeto reformado de país, para ter exclusivamente um projeto de poder e nós estamos, com isso, infelizmente, assistindo esse quadro degradante. Somos oposição, seremos oposição e vamos construir um projeto alternativo a este que está aí. O PSDB é o partido da ousadia, do compromisso com a ética e com a eficiência. Nunca o Brasil precisou tanto de uma alternância de poder".

O discurso foi aperfeiçoado por FHC, que falou o dobro do tempo de Aécio e foi aplaudido de pé. Sua ideia central é a de que o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "surfou" na boa onda da economia mundial até 2008 mas, com o fim desse período, o governo petista se perdeu na ineficiência operacional e na falta de rumo para reagir. "A conjuntura não é mais a mesma. Agora falta estratégia, estamos como cabra-cegas", disse ele.

A partir daí, elencou alguns dos principais entraves econômicos por que passa o país. Começou com o impasse gerado na renovação dos contratos de concessão do setor elétrico, permeado de "despreparo e arrogância". Depois, criticou o "disparate" das novas regras do setor petrolífero que tornaram a Petrobras "a única empresa de petróleo do mundo que com barril a mais de US$ 100, perde valor". Criticou também o modelo de privatização dos aeroportos, "mal feito, onde companhias menores ganham justamente porque tem a Infraero participando". As críticas alcançaram ainda a flexibilização do tripé econômico -câmbio flexível, metas de inflação e responsabilidade fiscal- e o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), classificado por ele como "Orçamento com propaganda". "Uma ponte é o PAC. Uma rua é o PAC. Mas quando você vai ver, o investimento caiu." O ex-presidente sempre pontuou sua fala com feitos de seu governo que, segundo ele, o PSDB também precisa resgatar no seu discurso. "Vamos reivindicar o que fizemos, mas olhando para a frente que, já está em marcha."

O presidente do Instituto Teotonio Vilela, Tasso Jereissati, disse acreditar nesse discurso "econômico" daqui em diante. Ressaltou, todavia, que o viés ético não foi abandonado. Mas que o partido agora deve relacioná-lo à gestão. "A ineficiência e inoperância do serviço público tem a ver com corrupção. Você vê o tipo de gente que é nomeada para as agências. Compadrio e corrupção, uma coisa está ligada à outra", afirmou. Candidato a presidente do PSDB em 2002 e 2010, José Serra não compareceu ao encontro. Seus aliados afirmaram que ele estava com os netos no exterior.