Título: PMDB pede mais um ministério e acena com candidatura em 2010
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2007, Política, p. A5

Reeleito por 80% dos convencionais do PMDB para um novo mandato à frente do partido, o deputado Michel Temer (SP) saiu da convenção nacional de ontem fortalecido para defender o que disse considerar seu "projeto principal" nos próximos dois anos: viabilizar uma candidatura do partido à Presidência da República em 2010, com apoio dos outros partidos da coalizão do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

"Estamos numa coalizão governamental que pode se transformar em coalizão eleitoral. Como maior partido, o PMDB tem o direito de lançar o candidato", afirmou Temer.

O resultado da convenção mostra o fracasso da tentativa de boicote do grupo liderado pelos senadores Renan Calheiros (AL), presidente do Senado, e José Sarney (AP). Dos 558 convencionais do partido com direito a voto, 457 compareceram à convenção realizada em Brasília, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Como alguns deles têm direito a mais de um voto, foram dados, ao todo, 602 votos: 598 aprovando o diretório encabeçado por Temer, dois nulos e dois em branco. Todos os estados estavam representados, mesmo os do grupo de Renan e Sarney. Dos 14 convencionais de Alagoas, um compareceu (Joaquim Beltrão). Do Amapá, quatro dos seis convencionais participaram. O Pará do deputado Jader Barbalho foi onde o boicote mais funcionou: votaram apenas 4 dos 35 representantes do estado. Roraima do líder do governo no Senado, Romero Jucá, enviou dois dos seus quatro convencionais. Do Maranhão, compareceram sete dos 17 com direito a votar. E Rondônia, do líder do PMDB, Valdir Raupp, estava quase totalmente presente: dos 11 convencionais, faltou apenas um.

"Não defendi o boicote", disse Renan após a convenção. Minimizou eventuais consequências da atual divisão que permaneceu no partido. "Foi uma disputa partidária normal no Brasil".

Com a demonstração de força, o grupo representado pela bancada pemedebista da Câmara dos Deputados e pela ala "neolulista", aglutinado em torno de Temer, saiu fortalecido para reivindicar de Lula mais um ministério - além da pasta da Integração Nacional, para a qual deve ser confirmado o deputado Geddel Vieira Lima (BA). "Qualquer participação do PMDB no governo vai levar em conta o tamanho do partido", disse Temer.

A definição da reforma ministerial deve ocorrer entre hoje e amanhã, em encontro do presidente reeleito do PMDB com Lula. A bancada da Câmara reivindica o ministério do Turismo ou o da Agricultura. O nome cotado é o do deputado Eunício Guimarães (CE). Os deputados consideram pouco um ministério para contemplar uma bancada de 92 parlamentares, já que os senadores são representados por duas vagas na Esplanada: Comunicações, com Hélio Costa, e Minas e Energia, com Silas Rondeau, indicado por Sarney, além de diretorias de estatais e cargos nos Estados.

Renan, Sarney e a maior parte da bancada de senadores apoiaram a candidatura de Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), que desistiu da disputa a seis dias da convenção, por falta de votos. Saiu acusando o governo de ter interferido a favor de Temer. O episódio gerou uma crise entre Senado e Câmara. Renan defendeu esvaziamento da convenção, alegando que Temer não representava a unidade do partido e sim a "divisão".

Mas os senadores, com a renúncia de Jobim, foram aderindo a Temer. Seis dos 20 participam do diretório eleito ontem e dois, da Executiva Nacional: Joaquim Roriz (DF) e Gerson Camata (ES).

O ex-governador Anthony Garotinho (RJ) acabou sendo incluído na executiva, depois de muito constrangimento. O governador do Rio, Sérgio Cabral, que apoiou Jobim e compareceu à convenção, reivindicava para si a vaga do Estado na executiva e tentou vetar a participação do ex-governador. Na tentativa de pacificar, o líder do partido na Câmara, Henrique Alves, cedeu a vaga do seu estado, Rio Grande do Norte, já que ele vai ocupar uma vaga como líder. O representante de Garotinho na executiva seria o deputado Geraldo Pudim. Mas a cúpula do partido avaliou que um veto a Garotinho seria inexplicável, já que o ex-governador apoiou Temer. Na convenção, Garotinho fez um discurso moderado. Disse que o partido "não faltará" ao presidente Lula. Ele considerou prematuro discutir candidatura em 2010.

Embora Renan e Sarney não tenham conseguido frustrar a reeleição de Temer, os pemedebistas foram unânimes em defender a unidade partidária. A maior preocupação era dos governadores. "No day after, temos que ajudar Michel a fechar as feridas", disse o governador Paulo Hartung (ES). Segundo ele, os governadores podem ajudar, porque não participaram diretamente dessa disputa eleitoral.

Além de Hartung e Cabral, participaram da convenção os governadores André Puccinelli (MS) e Marcelo Miranda (TO). Eduardo Braga (AM) não pôde ir por causa de uma infecção. Luiz Henrique (SC) viajou para a Alemanha. E Roberto Requião (PR) enviou representantes.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), esteve na convenção e, em discurso, disse que será "eternamente grato" ao PMDB pelo apoio à sua eleição. "Quando o PMDB, que tem a maior bancada, apoiou o candidato do segundo maior partido, mostrou sua capacidade de fazer alianças", disse. Na véspera, o ex-ministro José Dirceu afirmou, em Brasília, que o candidato do governo à sucessão de Lula em 2010 poderá ser um não petista. Segundo Temer, a declaração é "coincidente" com o que tem defendido: um candidato do PMDB com apoio da coalizão.