Título: Brasil cresce pouco e fica para trás na AL
Autor: Santos , Chico
Fonte: Valor Econômico, 10/12/2012, Brasil, p. A3

O raquitismo que acometeu o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro nos últimos dois anos, e a constatação que outros indicadores importantes - taxa de investimento, taxa de poupança e inflação - são piores do que os da maioria dos grandes países da região, deu munição aos economistas liberais e abriu novo debate no cenário macroeconômico.

Afinal, o que provoca o baixo crescimento brasileiro? Ele deriva da crise internacional, como se tornou senso comum interpretar, ou de distorções internas, cuja veracidade seria comprovada pelo desempenho melhor dos vizinhos, especialmente aqueles que também adotam o regime de metas de inflação, como Chile, Colômbia, México e Peru? Os ortodoxos estão com a segunda opção, mas há também cobrança de correção de rumo no "front" heterodoxo.

O economista Armando Castelar, pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), procura demonstrar em palestras e artigos que o Brasil está ficando para trás em relação aos seus pares do que e chama de G-5 da América Latina (além do Brasil, México, Chile, Colômbia e Peru). "Há algo de verde-amarelo na desaceleração recente", aponta um trecho da apresentação feita por Castelar durante evento em homenagem aos 70 anos do economista Régis Bonelli, também da FGV e da PUC-Rio.

Com a ajuda de projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), Castelar mostrou que, no biênio 2011-2012, enquanto o Brasil cresce a uma taxa média em torno de 2% ao ano, o Chile chega a 5,1%, a Colômbia, 5,3%, o México, 3,8%, e o Peru, que vem em longa trajetória de crescimento elevado, 6,2%. A taxa da América Latina como um todo será de 3,8%, resultado nada "bombástico", mas, mesmo assim, quase o dobro da taxa brasileira.

Em artigo publicado quinta-feira pelo Valor, Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central e hoje sócio-diretor da consultoria Schwartsman & Associados, afirma que, no ciclo recente, a curva de crescimento brasileira desvinculou-se, para pior, da tendência histórica de ser semelhante à dos demais países da região.

Segundo o artigo de Schwartsman, "os dados sugerem que o baixo crescimento nacional é um fenômeno local. Já as causas são objeto de debate feroz, embora minha explicação favorita ainda aponte para o esgotamento do processo de incorporação de mão de obra ociosa como um culpado provável".

Os dados compilados por Castelar, e outros pesquisados pelo Valor, especialmente no site da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), mostram que, em grande parte dos indicadores, o Brasil perde para economias mais robustas e abertas da região. A taxa de investimento como proporção do PIB é, no período 2005-2011, de longe, a menor, 18,7% ao ano, contra 22,5% do Chile, 22,7% da Colômbia, 25,2% do México e 22,8% do Peru.

Com a taxa de poupança doméstica, principal determinante da capacidade de investir, acontece o mesmo. No período 2010-2011, segundo dados da Cepal, a brasileira ficou em 17,5% ao ano. A segunda pior do grupo foi a da Colômbia, mais de dois pontos percentuais superior (19,7%). O México aparece com 23,8%, o Chile, com 23,8% e o Peru, com 24,5% ao ano.

Ironicamente, a Argentina, vista com olhos desconfiados por grande parte dos economistas brasileiros, aparece com taxa de poupança anual de 25,6% no período, o que talvez explique o crescimento de 8,8% do PIB em 2011, o maior entre os grandes da região.

No investimento estrangeiro direto (IED), o Brasil, sozinho, representa cerca da metade do total recebido pelos seis grandes países - US$ 66,66 bilhões atraídos em 2011. Quando o IED é visto como proporção do PIB, entretanto, o país cai para o último lugar, com apenas 1,62%, contra 6,95% do Chile, no outro extremo. O Brasil aparece também nas primeiras colocações em taxa de desemprego (5,9% no primeiro semestre de 2012 e na variação do salário real (3,7% no mesmo período).

Para Castelar, está claro que o Brasil está crescendo pouco em relação às perspectivas, e correndo o risco de conviver "com bons fundamentos, mas em um ambiente que não leva ao crescimento". Esse ambiente inclui fatores como infraestrutura ruim e uma economia fechada. A corrente de comércio brasileira (exportações mais importações) é a menor, em torno de 20% do PIB, contra quase 80% do Chile.

O momento, na visão do economista, é propício a que se abra um debate sobre o modelo econômico, que ele considera um híbrido entre os mais estatizantes, como o da Venezuela, e os mais abertos, como os do Chile, México, Peru e Colômbia.

O presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, concorda em parte com as teses defendidas por Castelar. Para ele, "o crescimento baseado na expansão do consumo está aparentemente esgotado" e o Brasil precisa abrir sua economia e investir na expansão da oferta.