Título: Bolívia adere ao Banco do Sul para desenvolver gás
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Fonte: Valor Econômico, 12/03/2007, Internacional, p. A9

A Bolívia adere hoje ao Banco do Sul, uma iniciativa do presidente venezuelano, Hugo Chávez, para garantir uma fonte de financiamento alternativa às instituições internacionais de desenvolvimento, como o Banco Mundial. A adesão boliviana se dá num momento em que Chávez promete ajudar o governo do presidente da Bolívia, Evo Morales, a desenvolver a exploração de suas reservas de gás natural, como forma de combater a pobreza no país andino.

Chávez, que esteve ontem em La Paz para assinar acordos de cooperação com a Bolívia, afirmou que grupos de oposição bolivianos impediram a Venezuela de construir uma usina de liquefação de gás no país, um dos projetos que ele diz serem essenciais para que os bolivianos recebam mais por suas riquezas naturais. O presidente venezuelano, entretanto, não disse quais seriam esses grupos de oposição.

"Estamos prontos para fazer isso [construir a unidade de liquefação]", disse Chávez. "Não é possível que a Bolívia exporte gás sem o liqüefazer ou sem produzir petroquímicos."

A Bolívia, país mais pobre da América do Sul, tem a segunda maior reserva de gás natural do continente, atrás apenas da própria Venezuela. Apesar das confusões nos processos de renegociação dos contratos com as multinacionais que exploram o gás no país (leia texto abaixo), o presidente boliviano quer atrair investimentos para o setor. Analistas dizem que, como não conseguiu trazer mais empresas privadas, Morales estaria jogando suas fichas no Banco do Sul.

A instituição, que até agora só tinha como membros a própria Venezuela e a Argentina, deve servir de apoio para que os países-membros avancem no que Chávez chama de "socialismo do Século XXI".

Especialistas põem em dúvida o funcionamento da instituição. Pouco se sabe sobre como ela se constitui e como pretende constituir suas reservas. Se constituídas em dólar, isso pode, no mínimo, representar um risco cambial para os países participantes.

O arcabouço legal da instituição não foi ainda apresentado e não se sabe como ele pretende exigir garantias para os empréstimos - nem como essas garantias seriam executadas, levando-se em conta que os projetos de desenvolvimento podem não dar certo.

O início de suas atividades, entretanto, deve ser mais voltado para as ações de reconstrução, e não de construção de fábricas. O presidente venezuelano prometeu que o Banco do Sul liberará US$ 15 milhões para ajudar as vítimas das inundações que têm atingido a Bolívia.

O presidente venezuelano falou ontem num estádio na cidade de El Alto, nas cercanias de La Paz, e acusou o presidente americano George W. Bush, que está em giro por cinco países da América Latina, de planejar derrubá-lo e derrubar o presidente Morales.

Ele disse também que espiões infiltrados em seu governo tentaram bloquear a revolução socialista com manobras tão prosaicas quanto não repassar mensagens telefônicas feitas pelo presidente cubano, Fidel Castro.

Chávez partiu da Bolívia ontem em direção à Nicarágua.