Título: Defasagem do preço da gasolina caiu desde abril, mas supera 2012
Autor: Pedroso , Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 11/12/2012, Brasil, p. A3

Com altos e baixos, mas nunca com uma diferença inferior a dois dígitos, a gasolina vendida pelas refinarias brasileiras fechou novembro 11% mais barata do que a comprada em refinarias do exterior. O número é quatro pontos percentuais maior do que a distância registrada em novembro do ano passado, mas muito inferior à diferença de 27% registrada em abril deste ano, segundo levantamento da RC Consultores. O percentual indica a defasagem entre o que a Petrobras paga ao importar combustível e o que recebe ao vender no mercado nacional. O quadro do óleo diesel também seguiu o da gasolina ao longo do ano, embora com menor variação.

O resultado, além de trazer prejuízo para o setor de abastecimento da empresa, que no acumulado do ano até setembro registrou perda de R$ 17,3 bilhões, reforça a percepção de que é necessário um reajuste nos combustíveis em breve para a empresa sanar o rombo. No entanto, em função da estagnação da oferta brasileira de combustíveis e do forte aumento da demanda esperada para o ano que vem, o aumento nas refinarias não deve ser suficiente para recuperar o prejuízo de 2012, na visão de analistas do setor.

No mês passado, as refinarias nacionais venderam gasolina a R$ 1,21 o litro, valor que vigora desde julho, quando a Petrobras aumentou os preços em R$ 0,07. Também em novembro último, as refinarias do Golfo do México estavam vendendo o litro a um preço equivalente a R$ 1,36. Para o diesel, o preço nacional do litro em novembro estava em R$ 1,43, e o externo em R$ 1,61.

Quando a diferença entre o preço externo e interno é negativa, a empresa perde em duas frentes, segundo Fabio Silveira, economista da RC Consultores. A primeira é no custo de oportunidade, já que deixa de exportar por um valor mais alto para atender ao mercado nacional. A segunda - e que causa mais prejuízo financeiro -é a importação de gasolina e diesel a um valor mais caro do que é vendido para abastecer à demanda interna.

"Compra-se mais caro do que se vende. Como a oferta de óleos leves está engessada até 2014, quando novas refinarias começam a funcionar, quanto mais aumentar o consumo interno, maior será o prejuízo", diz.

O economista ressalta que a diferença de preços já foi mais acentuada. Em abril, a defasagem ficou em 27%. Em setembro, 26%. A flutuação da diferença em relação aos 11% atuais acontece em função de dois fatores principais: o preço do barril do petróleo e a oscilação do câmbio. No quarto mês do ano, o barril do tipo Brent estava em US$ 124. Em novembro, havia caído para US$ 109. Por outro lado, o dólar estava cotado a R$ 1,85 em abril e R$ 2,10 em novembro. Assim, a queda no preço do petróleo, que levou para baixo os preços das refinarias internacionais, foi contida pela desvalorização cambial, que começou no primeiro trimestre e ainda está em marcha.

A diferença no óleo diesel ficou menor em função de um maior reajuste da Petrobras. Em março, o preço do litro saia da refinaria a R$ 1,23. Em agosto, a R$ 1,43. Por isso, a defasagem rodou entre 10% e 20% ao longo do ano. "No diesel, as diferenças são relativamente menores, porque ele tem papel importante nas receitas da Petrobras. O problema é que o preço não flutua junto com os insumos", afirma Silveira.

Em função desse quadro, Walter de Vitto, analista do setor de petróleo e derivados da Tendências Consultoria, estima que a Petrobras vá reajustar o preço da gasolina no início de 2013. "Projetamos 10% de aumento para, no máximo, até o fim do primeiro trimestre", diz.

O quanto do reajuste deve chegar ao consumidor final é incerto. No entanto, diferentemente da última mudança de preços, que foi absorvida pela extinção da Cide, uma mudança fiscal seria um pouco mais complicada, na visão do analista.

Mesmo esperando aumento menor nos preços, a LCA Consultores prevê impacto substancial do reajuste da gasolina e do óleo diesel na inflação. No cenário de um aumento de 7,5% no preço do gasolina, e de 10% no diesel, a consultoria estima alta de 0,50 ponto percentual no IPCA em 2013.

Fabio Romão, economista da LCA, diz que o aumento deve vir em fevereiro, mês que vai carregar um contrapeso na inflação. "Em fevereiro haverá também o principal redutor do IPCA para o ano que vem, que é a queda no preço da energia elétrica. Isso deve amortecer o impacto da gasolina."

O reajuste na gasolina, contudo, deve servir para apenas mitigar os efeitos da diferença entre preços externos e internos, e não deve fazer com que a relação entre o preço interno e externo se inverta, segundo de Vitto. "Há um segundo problema: o consumo de combustível cresce a taxas importantes. Mesmo que você diminua a distância entre os preços, o prejuízo segue aumentando e você não recupera o que perdeu no ano anterior."

A Tendências estima que o consumo de gasolina cresça 8,4% em 2013 na comparação com este ano. O de diesel possui perspectiva de 6,5% de aumento. "O justo seria os preços flutuarem com o mercado, pois, na situação atual, em que reajustes são decisões mais políticas, alternam-se períodos de prejuízos grandes com outros de lucro, como em 2010", explica de Vitto.

Naquele ano, a relação era inversa, com o câmbio valorizado e o petróleo a preços baixos, em função da crise na zona do euro. Comprando mais barato do que vendia, a Petrobras registrou lucro líquido de R$ 13,7 bilhões no setor de abastecimento. Contudo, a curva começou a virar no ano passado, que fechou com prejuízo de R$ 10 bilhões para a empresa no setor, segundo Lucas Brendler, do Geração Futura.

Brendler estima um crescimento da economia global em torno de 2,5% ano que vem, fato que deve manter o petróleo - e o preço da gasolina nas refinarias do Golfo do México - em patamar parecido ou até maior do que o do fim deste ano. "Há um consenso no mercado, e até dentro da Petrobras, de que deve haver aumento. Mas isso depende da União", afirma Brendler.