Título: Latinos temem menor crescimento
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 12/03/2007, Finanças, p. C10

Os presidentes dos bancos centrais da Argentina, México e Chile manifestaram preocupação com o efeito que a volatilidade financeira nos mercados internacionais e a desaceleração nos Estados Unidos terá nas perspectivas de crescimento de suas economias.

A avaliação é de que a alta volatilidade deve continuar por mais tempo, dependendo do aprofundamento do ajuste nos EUA. Apesar da percepção de continuação do dinamismo das economias emergentes, certos dirigentes monetários notaram que não dá para ignorar que a economia global está entrando na fase de menor crescimento dos últimos anos.

Ou seja, o período de bonança na economia global não terminou, mas menor crescimento internacional significa menor impulso de fora sobre as economias da América Latina.

A avaliação é de que no cenário atual os países da América Latina precisarão trabalhar mais na produtividade doméstica. Uma autoridade monetária estima que, no caso do Brasil, a expansão econômica vai depender muito de investimentos em infra-estrutura e de grandes empresas como Petrobras, de forma que o país pode crescer 4% a 4,5% enquanto mundo cresce 3,5%.

A volatilidade nos mercados e as perspectivas da economia americana estão no centro das reuniões dos principais bancos centrais no Banco de Compensações Internacionais (BIS), em Basiléia. A preocupação maior é com a economia americana e não com a Ásia.

"Volatilidade é o nome do jogo, tem efeito nas perspectivas de crescimento, impacto na renda dos cidadãos e no padrão de consumo", disse Martin Redrado, presidente do Banco Central argentino. "Quando a economia americana se resfria, nós (na América Latina) temos pneumonia."

Para Vittorio Corbo, presidente do BC chileno, é cedo para se dizer se o "ajuste" no mercado terminou, depois da queda nas bolsas, que provocou perda de valor de US$ 3,3 trilhões desde que começou no dia 27 de fevereiro.

Guillermo Ortiz, presidente do BC do México, estima que a economia dos EUA terá queda de 1% do PIB este ano, ficando em 2%. Por sua vez, a economia mexicana, altamente dependente da situação no vizinho, só cresce 3,5% comparado a 4,8% no ano passado.

Autoridades monetárias insistiram que a economia global está sólida e que a América Latina, em todo caso, está muito melhor preparada para afrontar choques, com cambio flexível, por exemplo. "A Europa está bem, o Japão está bem. Mas a economia americana está desacelerando e não sabemos onde termina o ajuste", acrescentou Corbo. "Mas nem tudo é ruim, há indicadores bons também", tratou de precisar o mexicano Ortiz.

A visão geral é de que o aprofundamento da crise nos mercados depende dos indicadores da economia americana, especialmente em termos de custo do trabalho e produtividade. Cifras fracas sobre produtividade americana causaram preocupação, mas o melhor nível de emprego, divulgado na sexta-feira, reativou o apetite de muitos investidores por papéis de maior risco. "Somos dependentes dos números da economia americana", lamentou um responsável da área bancária.

Martin Redrado acha que os mercados financeiros estão reagindo de forma mais realista sobre os riscos do que há duas semanas. Considera que as quedas dos preços dos ativos não foram suficientemente grandes para afetar o crescimento econômico nas nações industrializados.

"Mas várias incertezas e preocupações permanentes, principalmente no mercado imobiliário, mercados de derivativos e como novos produtos se comportarão e afetarão outros investimentos", acrescentou o executivo.

"Temos que ser vigilantes sobre como os mercados terão efeito no resto da economia. Os bancos centrais estão fazendo seu trabalho e vendo quais são os padrões de inflação. A preocupação central continua sendo inflação e como lidar com isso", disse Redrado.

O presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, também está na Suíça e participa da reunião no BIS. Nesta segunda-feira, haverá encontro dos principais emergentes com o G-10, os maiores bancos centrais das nações industrializadas.