Título: É inútil colaborar com a Justiça, diz advogado
Autor: Agostine, Cristiane; Rocha, Alda do Amaral;
Fonte: Valor Econômico, 12/12/2012, Política, p. A12

Quando foi à Procuradoria-Geral da República em setembro fazer novas acusações sobre o mensalão, Marcos Valério Fernandes de Souza, ainda tinha a expectativa de que o Supremo Tribunal Federal levassem em conta sua iniciativa de colaborar com o julgamento e o beneficiasse com uma pena mais branda.

Ontem, o criminalista mineiro Marcelo Leonardo, seu defensor, não escondia a frustração. Disse que não poderia confirmar nem desmentir o conteúdo das declarações atribuídas a seu cliente à PGR. Mas, em seguida, observou que "isso ocorreu em setembro, antes da fixação da pena". Valério foi condenado no fim de outubro a 40 anos de prisão.

Leonardo diz que seu cliente foi quem mais colaborou com as investigações. "Desde agosto de 2005, ele forneceu uma lista com todos os beneficiários do mensalão, com repasses, nomes, valores", disse o advogado. Dos 38 réus julgados pelo Supremo, o empresário foi quem teve a maior condenação. "A única observação que tenho a fazer é que estou avaliando que é inútil colaborar com a Justiça", disse o advogado.

Dois advogados de outros réus do mensalão, que conhecem Leonardo e Valério, avaliam que àquela altura do julgamento dificilmente o empresário teria conseguido alguma redução de pena como prêmio por seu novo depoimento.

Segundo publicou em sua edição de ontem jornal "O Estado de S. Paulo", Valério disse o à Procuradoria que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu anuência a que ele tomasse empréstimos bancários para que o PT pagasse parlamentares. Disse também, segundo o jornal, que transferiu dinheiro para Lula - por meio da conta de um assessor - para que o presidente recém-eleito cobrisse despesas pessoais. E ainda segundo o jornal, Valério disse à que foi ameaçado de morte por Paulo Okamotto, do PT.

"É possível que ele estivesse querendo garantir mais segurança na prisão, talvez uma cela especial. Tecnicamente, acho que isso poderia ser feito", disse Paulo Sérgio de Abreu e Silva, defensor de Rogério Tolentino, ex-advogado de Valério. O próprio Abreu e Silva chegou a defender Valério no início do processo.

Leonardo Yarochewsky - advogado de Simone Vasconcelos, ex-funcionária de Valério -, concorda que a intenção do empresário poderia ser pleitear uma condição especial semelhante àquela requerida por quem se sente ameaçado no sistema prisional. "É difícil dizer quais eram as intenções dele, mas talvez quisesse uma proteção na prisão". Ele lembra que o empresário e os demais condenados não são pessoas perigosas, que cometeram crimes de sangue, mas deverão ficar encarcerados com criminosos violentos.