Título: Próximo governo priorizará a infraestrutura
Autor: Bertelli, Luiz Gonzaga
Fonte: Correio Braziliense, 06/12/2010, Política, p. 13

Diretor e conselheiro da Fies, presidente da Academia Paulista de História (APH )

Passadas as eleições, a precariíssima condição da infraestrutura nacional apresenta-se como um dos maiores problemas para o próximo governo. Com a falta de adequada infraestrutura o país perde competitividade.

Navios enfileirados nos portos esperam semanas, a fim de desembarcar as cargas, obrigando as empresas ao pagamento das pesadas despesas de sobrestadia. Neste ano, houve uma centena de navios para atracar em Santos.

Estradas plenas de buracos se repetem, acarretando a quebra dos veículos e ocasionando graves acidentes. Aeroportos saturados de viajantes obstaculizam o crescimento da economia. A agonia dos passageiros começa no traslado, diante dos congestionamentos, táxis caros e serviços insuficientes de ônibus. Existe a manutenção de um monopólio estatal, o da Infraero, incapaz de evitar o atulhamento dos saguões de embarque, apesar de acolher 28 mil servidores.

A infraestrutura do país terá especial enfoque diante da escolha do Brasil como sede da próxima copa do mundo de futebol, em 2014 e quando da realização das Olimpíadas, no ano de 2016. Tais competições ensejarão a oportunidade da atração de consideráveis investimentos.

Quando comparada com a infraestrutura de outros 20 países, com os quais o Brasil concorre no mercado internacional, a nação brasileira foi classificada no 17º lugar no quesito qualidade geral, ao empatar com a Colômbia. A nota atribuída foi 3,4, numa escala de 1 a 7, abaixo da mundial fixada de 4,1.

A nossa precária situação de portos, aeroportos, estradas e ferrovias não era desconhecida. Com a divulgação de estudo da LCA consultores, a posição brasileira foi evidenciada mais ainda.

Coube aos franceses a liderança do levantamento das condições de infraestrutura, com a nota 6,6, seguida da Alemanha (6,5) e os americanos do norte (5,9), em terceiro lugar. México, China, Turquia, África do Sul e Chile colocaram-se à frente do Brasil.

Para os analistas da conjuntura nacional, o resultado é o espelho da falta de investimentos, há décadas. A deficiente situação da infraestrutura portuária apresentou a pior situação. O país recebeu 2,6 pontos, enquanto a média global foi de 4,2. A situação das ferrovias é deprimente, não tendo sido pior apenas ao da Colômbia. Em 1958, tínhamos 39 mil quilômetros de ferrovias. Hoje, apenas 29 mil quilômetros.

Se examinarmos a condição das rodovias, o cenário não será diferente (os brasileiros dependem dos caminhões movidos a diesel). Apesar da prioridade concedida ao transporte rodoviário (65% da carga), a qualidade das nossas estradas ficou tão só acima da Rússia, com a pontuação de 2,8, empatando com a Colômbia na penúltima colocação. A opção rodoviária é mais cara e poluidora.

As condições dos aeroportos necessitam ser reformuladas, pois vamos receber, em breve, milhares de turistas, atraídos pelos megaeventos do desporte. Há um mundo de problemas a serem solucionados. Para o presidente da Abdib, Paulo Godoy, o Brasil tem todas as condições de adotar um novo modelo de funcionamento dos aeroportos, na forma de concessões públicas.

Nessa paisagem sombria, a qualidade da oferta da energia brasileira foi a exceção. Foi concedida a nota 5,2, ante 4,6 da média mundial. Com essa pontuação, o Brasil posicionou-se acima dos países integrantes dos Brics, as economias emergentes da Rússia, Índia e China. É indispensável e urgente para as indústrias de base do Brasil darmos um salto de qualidade no setor de infraestrutura.

Não faz muito tempo, tínhamos a mais barata tarifa elétrica do mundo. Contudo, o preço da eletricidade cresceu exponencialmente e bem acima da inflação. Hoje, é um dos mais elevados, recebendo excessiva tributação (cerca de 50%) e o mix para incentivar as exportações dos nossos produtos é descarregado no consumidor doméstico.

A construção das hidroelétricas foi preterida pelas térmicas movidas a derivados do petróleo e carvão, mais poluentes e onerosas. Não conseguimos, ainda, a concordância dos ecologistas e do Ministério Público, no tocante ao aproveitamento do nosso potencial d¿água, um dos maiores de todo o globo.

O grande impulso à infraestrutura aconteceu nos idos de 70, com o governo militar e construção de Itaipu, ainda responsável por um quinto de toda a energia consumida no país. A esperança surge com o novo governo, que anuncia a construção de dezenas de empreendimentos, orçados em R$ 322 bilhões. Se confirmados, deveremos avançar, finalmente, na infraestrutura, transformando o Brasil num vasto canteiro de obras, em consonância com as perspectivas proclamadas de inserção entre as potências mundiais. Enfim, a hora da infraestrutura teria chegado. Contudo, haverá necessidade de eliminação do preconceito em relação à iniciativa privada e ao capital externo, diante da limitação dos recursos do Tesouro Nacional.