Título: Coooperativa catarinense exportará arroz orgânico
Autor: Jurgenfeld, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 16/02/2007, Agronegócios, p. B11

Produtores do sul de Santa Catarina estão negociando a venda de arroz orgânico para a Europa. Uma das maiores cooperativas de arroz do Estado, a Coopersulca, está prospectando, em parceria com a Câmara Italiana de Comércio e Indústria de Santa Catarina, mercados como Holanda, Portugal, Alemanha, Inglaterra e Itália. O foco maior nos orgânicos e a busca de grandes mercados ocorrem na esteira de preços baixos do arroz convencional no mercado interno.

O produto orgânico é visto como uma alternativa para ganhos maiores pelo produtor. Ele é vendido a um preço cerca de 20% maior do que o arroz convencional, e tem boa aceitação na Europa. "Cliente na Europa querendo comprar tem, mas faltava até agora uma produção em maior escala para que as vendas, quando iniciadas, se tornassem constantes", explica Mauro Beal, secretário-geral da Câmara Italiana.

A maior escala será conseguida na colheita desta safra. A Coopersulca, uma das maiores produtoras de arroz tradicional, vai produzir 2 mil toneladas de arroz orgânico, 20% mais que no ano passado. Segundo Beal, a intenção é enviar um ou dois contêineres por mês.

Santa Catarina é o terceiro maior Estado produtor de arroz do Brasil (atrás do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso) e o de melhor produtividade. A produção do estado foi de 1 milhão de toneladas em 2006, com produtividade média de 7 mil quilos por hectare, o dobro da produtividade nacional. A característica do Estado é de minifúndios, com até 300 hectares de área, o que é visto como positivo para o cultivo do orgânico, mais facilmente produzido em áreas pequenas, por facilitar o controle de pragas sem o uso de defensivos.

Há dois anos, os produtores catarinenses vêm reclamando dos baixos preços de comercialização do arroz convencional. Ao longo de 2006, o preço mínimo estabelecido pelo governo, de R$ 22 pela saca de 50 quilos de arroz em casca não cobriu os custos de produção, de R$ 24,00.

De acordo com o analista da Empresa de Pesquisa Agrícola e Extensão Rural (Epagri/Cepa), Admir Tadeo, a expectativa é de que em 2007, os preços continuem baixos, em R$ 18,50 a saca, mas será uma situação menos desequilibrada porque os custos de produção são estimados em R$ 19.

A Coopersulca, que produz a marca de arroz Fazenda e terceiriza produção para a Camil, pretende realizar as primeiras vendas para a Europa ainda em 2007, segundo o diretor de marketing, Luiz Fernando Bendo.

A cooperativa, com 2 mil associados, não tem ainda contrato assinado com europeus, mas já está se adiantando com a construção uma fábrica moderna para beneficiamento de toda a sua produção, com investimentos de R$ 17 milhões. Com a nova estrutura vai desativar duas fábricas antigas. "Os europeus são bem rigorosos. Temos que estar preparados para quando decidirem visitar as instalações".

A produção de arroz orgânico no Estado iniciou em 1996 por meio de projeto financiado pelo Banco Mundial. Preocupada com o uso de defensivos, a Epagri propôs que o controle de pragas no arroz irrigado fosse feito por meio da criação de peixes como tilápias na mesma área do cultivo.

Como produto indireto desse trabalho, já se esperava o desenvolvimento de uma produção de orgânico. Em cidades como Turvo, Ermo e Jacinto Machado, produtores se integraram ao projeto por meio da Copersulca, que conseguiu o selo de produto certificado há seis anos, pela Associação Orgânica, de SC.

O arroz ainda não figura entre os 23 principais itens orgânicos exportados pelo Brasil, de acordo com dados da Secex. Os embarques desses itens alcançaram, entre agosto de 2006 e janeiro deste ano, US$ 5,552 milhões em receita, e 9,508 mil toneladas.

Embora seja um grande produtor de arroz convencional - com uma colheita estimada em 11,315 milhões de toneladas no ciclo 2006/07, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) - , o Brasil também não é um grande exportador do produto. Em 2006, o país embarcou 430 mil toneladas do cereal.