Título: Furlan defende escolha de Jorge e diz que ministro "não precisa ser Pelé"
Autor: Landim, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 26/03/2007, Brasil, p. A2

Um ministro não precisa ser o Pelé, mas um bom técnico capaz de montar o time." A afirmação é do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, ao ser questionado se seu sucessor, Miguel Jorge, pode enfrentar dificuldades por não vir do setor produtivo, um dos temores dos empresários. Jorge, que foi indicado para o posto e deve tomar posse na quinta-feira, ocupava uma das vice-presidências do Banco Santander.

Furlan, cuja família é uma das donas da Sadia, acrescentou que "administrar é bom-senso" e ressaltou que médicos tiveram bom desempenho no Ministério da Fazenda e na Câmara dos Deputados, referindo-se ao ex-ministro Antonio Palocci e ao atual presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia. Ele também fez uma alusão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "É o presidente sindicalista que mais deu resultado para os investidores", diz.

Furlan afirmou que a orientação de Lula é que Jorge concentre seus esforços em uma política de desenvolvimento voltada para o mercado interno. "Com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é preciso olhar para a política industrial", disse. Ele citou algumas medidas que estão para sair do papel e que seu sucessor poderia perseguir: investimentos para a área de semicondutores, maior desoneração para o setor de bens de capital e simplificação da abertura e fechamento de empresas.

O ministro está se despedindo do cargo coordenando uma missão de empresários ao Uruguai, solicitada por Lula para promover investimentos com o parceiro do Mercosul. Ao longo de 31 meses à frente da pasta, Furlan fez 136 viagens ao exterior e passou 451 dias fora do Brasil.

Furlan disse que sua administração se concentrou na promoção da exportações e reconheceu que a política industrial demorou para decolar. "É preciso um bom tempo para convergir e coordenar. Não tem efeito imediato. Depende de projetos, investimentos, absorção de tecnologia", afirmou. "Já no campo das exportações o resultado é imediato", completou. Furlan acredita que o crescimento da economia do país teria sido muito prejudicada em 2003 e 2004 se não fosse o crescimento das exportações.

Para o ministro, a tarefa nesse campo está cumprida, já que as exportações alcançaram um patamar favorável e seguem crescendo 15% ao ano, apesar da valorização do real. "Muitas empresas já conseguem conviver com essa taxa de câmbio."

Furlan acredita que é muito difícil reverter a situação. Ele exemplificou dizendo que o Banco Central comprou US$ 15 bilhões de reservas, o dobro do saldo de US$ 7,5 bilhões da balança comercial brasileira. "E qual foi o resultado para a balança comercial brasileira?", questionou.

Furlan disse que sugeriu aos setores preocupados com a valorização do real que ofereçam sugestões para lidar com o problema. Ele contou que a Tarifa Externa Comum (TEC) do setor têxtil está prestes a ser elevada para 35%, a exemplo do que foi feito para o setor de calçados. Outra demanda dos setores é o aumento de acordos bilaterais com países ricos.