Título: CPI do Cachoeira terá três relatórios
Autor: Junqueira , Caio
Fonte: Valor Econômico, 20/11/2012, Política, p. A7

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as relações do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com autoridades e empresas deve chegar ao fim neste mês com três relatórios para serem apreciados.

O principal deles ainda ontem estava sendo redigido e revisto. Trata-se do "oficial", a ser apresentado pelo relator, Odair Cunha (PT-MG). Contém centenas de páginas e terá por foco as ações de Cachoeira e da construtora Delta em Goiás. Ou seja, deve pedir o indiciamento do governador Marconi Perillo (PSDB) e não avançar sobre outros Estados cujos governadores, em maior ou menor grau, viram-se envolvidos em denúncias de ligação com o bicheiro e a construtora. Caso de Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ).

Cunha também atua para trazer novidades no relatório, dentro de sua estratégia de minimizar os ataques que sofrerá de direcionamento partidário na condução dos trabalhos da CPI. Por exemplo, deve pedir investigação contra o secretário de Planejamento, Giuseppe Vecci, homem forte de Perillo desde a primeira vez que se elegeu, em 1998, e que em nenhum momento apareceu nas investigações ou teve o nome citado na CPI. O petista pensa incluí-lo por ver nele o homem que, na condição de detentor da chave do cofre do Estado, ter feito repasses suspeitos a muitas entidades ligadas ao esquema Cachoeira.

A estratégia de minimizar críticas também envolve repassar todas as investigações que não avançaram na CPI para o Ministério Público, como as ramificações do esquema de Cachoeira e da construtora Delta em outros Estados e no governo federal.

A tática, contudo, não deve vingar. Os votos em separado que serão apresentados, cada um ao seu modo, tentarão suprir essas lacunas e serão remetidos igualmente aos procuradores junto com o relatório oficial. Um deles está sendo elaborado pelos senadores Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) e Pedro Taques (PTB-MT); e pelos deputados Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e Rubens Bueno (PPS-PR). "Vamos apresentar primeiro uma representação à Procuradoria-Geral da República, na quarta-feira, que será a base do nosso voto em separado. Vamos pedir indiciamento dos governadores citados e também do Fernando Cavendish [ex-dono da Delta]", disse Randolfe.

Eles também pedirão investigação sobre as empresas laranjas que receberam recursos da Delta. "O PT e a base aliada preparam um relatório para atingir a oposição. Inclusive criaram a CPI para isso", afirmou o deputado Rubens Bueno, que critica o outro relatório que será apresentado, do PSDB. Segundo ele, os tucanos farão um voto em separado menos completo que o deles porque não haverá pedido de indiciamento de figuras centrais do esquema, como o também tucano Perillo.

De fato, o relatório dos tucanos tem por foco a construtora Delta e suas ligações com o governo federal muito mais do que os políticos investigados na CPI. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) justifica: "Queremos avançar no que foi investigado pela Polícia Federal pois sabemos que o relatório oficial não fará isso. Vai apenas usar o trabalho da PF e do Ministério Público, sem nenhuma novidade". De acordo com ele, o PSDB não pedirá o indiciamento de Perillo porque sabe que isso constará do relatório de Odair Cunha. "Vamos colocar apenas o que falta no dele", disse.

O relatório de Cunha será lido amanhã à tarde. Haverá pedido de vistas e ele deve ser votado apenas na próxima semana, junto com os outros votos em separados. Entretanto, é praticamente certo que seu relatório será aprovado, tendo em vista que a base governista na CPI detém a ampla maioria na comissão.