Título: Aécio busca aproximação com Estados para partilha de programas
Autor: Moreira, Ivana e Vilella, Janaina
Fonte: Valor Econômico, 26/03/2007, Política, p. A18

O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), transformou a experiência de seus primeiros quatro anos de governo na senha de aproximação com seus pares nos Estados. Em menos de três meses desde a posse, pelo menos seis governadores já foram a Minas ou receberam a visita de Aécio ou seus técnicos para a partilha de informações sobre projetos como o Déficit Zero, um dos mais propagandeados de sua administração, ou os programas de combate à violência.

A lista de governadores que tem buscado inspiração nas experiências mineiras não se restringe aos correligionários de Aécio: os pemedebistas Sérgio Cabral Filho (RJ) e Paulo Hartung (ES), os tucanos José Serra (SP) e Yeda Crusius (RS) e o pefelista José Roberto Arruda (DF).

Além disso, dois colaboradores do governo Aécio foram convidados para o secretariado de outros Estados. Luiz Flávio Sapori, secretário adjunto de Defesa Social, foi convidado para a Secretaria de Defesa do Pernambuco, mas acabou continuando no cargo em Minas. Simão Cirineu Dias, era adjunto da Fazenda no início do primeiro mandato, foi convidado para assumir a Secretaria de Planejamento do Maranhão e voltou, neste governo, para ser o titular do cargo.

Entre seus pares, o mais próximo é Sérgio Cabral, que já fez duas viagens à tiracolo de Aécio. Em fevereiro, o governador mineiro levou Cabral a Washington, para audiências no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). A instituição financeira de fomento tem sido parceira de vários programas implementados por Aécio e chegou a liberar recursos para Minas tendo como contrapartida do Estado o cumprimento de metas de desenvolvimento social e de aprimoramento da máquina pública em vez da usual contrapartida em dinheiro por parte dos governos estaduais. Na quinta-feira da semana passada, Aécio e Cabral embarcaram para a Colômbia, ao lado de José Roberto Arruda. Foi o colombiano Luis Alberto Moreno, presidente do BID, quem os convidou para conhecer os programas de combate à criminalidade que mudaram a realidade de Bogotá e Medellín nos últimos anos.

Os três governadores tiveram em Bogotá encontro com Luis Alberto Moreno e autoridades do governo colombiano ligadas à defesa social, além do ex-prefeito da cidade, Enrique Peñaloza. A taxa de homicídios em Bogotá foi reduzida de 80 por cem mil habitantes, em 1993, para 18 por cem mil, no ano passado, uma queda de 77,5%. Foram também a Medellín.

Ao explicar o sentido da viagem a Bogotá, Aécio foi claro sobre seus objetivos: "Tudo que eu ouvi falar da Colômbia, eu quero ver de perto. É óbvio que nessas conversas, nós vamos falar também das nossas experiências. Que bom se pudermos agregar alguma coisa que seja à Colômbia, seja a alguns estados do Brasil, seja um outro país".

A aproximação com Cabral começou logo depois da eleição, no ano passado, quando o governador do Rio foi a Minas para uma reunião com Aécio e os secretários responsáveis pelo Déficit Zero.

Como uma espécie de conselheiro do governador do Rio, que lhe aponta o caminho das pedras para o saneamento financeiro e ao combate à criminalidade, Aécio garante prestígio em território onde é mais do que conhecido e onde costuma passar a maior parte dos seus fins de semana - um capital que não poderá ser desprezado quando chegar a hora de definir quem será o candidato à Presidência pelo PSDB.

Se o colega carioca for bem sucedido em suas empreitadas, caberá ao mineiro uma fatia do crédito, o que poderá lhe render importantes apoios no Estado e também dentro da ala do PMDB ligada a Cabral. "O Aécio não dá ponto sem nó", diz fonte próxima ao governador. O próprio Aécio já sinaliza essa expectativa: "O Sérgio buscou experiências importantes em Minas Gerais logo no início do seu governo. A sua gestão tem uma boa inspiração em Minas, o que me orgulha muito", comentou Aécio, em uma entrevista no sábado. "Quero buscar na garra do Sérgio, em sua capacidade cultivar a equipe, experiências também para Minas. Estaremos junto na tentativa de construir um país diferente".

No início deste mês, Cabral viajou para Minas para conhecer os projetos de Aécio de perto. O governo mineiro tem dois programas focados na aproximação de policiais com a comunidade. Segundo Aécio, os projetos conseguiram, entre 2004 e 2006, reduzir em 50% os índices de homicídio onde foram implementados.

Aécio, entretanto, não quer se aproximar apenas de Cabral. O tucano pretende estreitar os laços com governantes de diferentes legendas: "Existe uma geração de governantes, de vários partidos - Arruda, Eduardo Campos, de Pernambuco, (Marcelo) Deda do PT, do Sergipe, Eduardo Braga, do Amazonas -, que pensam muito parecido. Acho que essa pode ser a grande novidade da política brasileira: uma geração de pessoas que acredita na gestão eficiente, nos resultados, em equipes qualificadas e que querem ousar, avançar, construir o futuro", disse o tucano.

Apenas no relacionamento com o governo federal os governadores do Rio e de Minas mantêm comportamentos distintos. Enquanto Cabral está em lua-de-mel com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Aécio tem se mostrado mais cauteloso em sua relação com o governo federal.