Título: Custo menor garante apoio da indústria
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 03/12/2012, Brasil, p. A6

A indústria está fazendo planos sobre o que fazer com os ganhos que espera ter a partir de 2013 com a redução das tarifas de energia elétrica. Daqui a um mês, se a promessa de Dilma Rousseff for cumprida, o setor passará a ter uma redução importante de custos. Pelos planos do governo - expressos na Medida Provisória 579 -, o corte da tarifa chegará a 28% nos segmentos intensivos em energia.

Alguns setores já falam em aumentar a produção; outros, veem a possibilidade de sair do vermelho ou então de ampliar sua competitividade no mercado externo. Para algumas indústrias que fazem uso intensivo de eletricidade, a mudança poderá ser decisiva para manter a produção no Brasil.

A redução em média das tarifas para todos os consumidores - de residências a fábricas - será de 20%, segundo o governo. Hoje, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), é muito frequente que os gastos com energia elétrica representem algo entre 5% a 7% nos custos operacionais da indústria. Há setores em que esse percentual é maior: 25% na indústria de cimento e 40% na de cloro-soda, segundo a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace).

"O que existe nesse momento na indústria é uma expectativa muito positiva de que finalmente começa-se a recuperar a competitividade do país em relação a alguns pontos, entre eles o preço da energia elétrica", diz Paulo Skaf, presidente da Fiesp, um dos defensores mais destacados no meio empresarial da MP 579.

José de Freitas Mascarenhas, diretor de infraestrutura da CNI, diz que há indústrias que estão saindo do Brasil em direção a países limítrofes por causa do preço da energia aqui. É o caso, disse ele, de empresas de alumínio, uma das eletro-intensivas em energia. A queda dos preços vai ajudar o segmento a manter suas atividades no Brasil, embora não o suficiente para disputar com players estrangeiros, avalia Mascarenhas.

A Anglo American fez contas preliminares: a energia elétrica representa atualmente entre 20% a 25% dos custos operacionais da empresa e só com a redução dos encargos setoriais previstos na MP, a empresa poderá reduzir o seu custo operacional entre 3% a 5%, diz o gerente geral de Energia da empresas, Alfredo Duarte.

Segundo cálculos da Fiesp, o preço médio dos contratos de geração que vencem a partir de 2015, poderiam cair dos atuais R$ 90 o MW/h em média para R$ 21. O governo chegou a um valor ligeiramente maior: R$ 27. O que a Fiesp fez e passou a defender, desde 2010, como receita para uma queda acentuada do preços da energia no Brasil foi simples. Tomava os contratos com valor médio de R$ 90 MW/h e subtraía a parcela referente a amortização de usinas que foram construídas há décadas e, em tese, já amortizadas. Sobrava cerca de R$ 20. Ou então, tomava como referência o preço de usinas leiloadas recentemente, e também chegava a custos de R$ 20.

O contraponto ao otimismo de mudanças para a indústria é feito pela Abrace. Segundo Paulo Pedrosa, presidente da entidade, a medida do governo poderá ter um efeito contrário ao desejado e provocar uma elevação imediata - ainda que não permanente - no custo da energia comercializada no chamado mercado livre, onde parte da grande indústria de base do país compra sua energia.

A CNI, segundo Mascarenhas, não acredita que os preços ficarão mais altos para os consumidores livres, mas entende que os maiores beneficiados pela queda de preço serão as empresas que estão no mercado regulado.