Título: Parcerias contra o mosquito
Autor: Mader, Helena
Fonte: Correio Braziliense, 06/12/2010, Cidades, p. 22

Governo recorre ao Exército com o objetivo de aumentar o contingente de combate ao Aedes aegypti e tentar acabar com criadouros do mosquito antes do verão. Líderes comunitários, integrantes do programa Saúde na Família e SLU também entraram na guerra

Diante da falta de agentes de Vigilância Ambiental para combater os focos do mosquito da dengue, a saída encontrada pela Secretaria de Saúde foi buscar parcerias. No mês passado, o governo local fechou um acordo com o Exército, que liberou 100 militares para percorrer casas e comércios nas áreas de risco. Agentes comunitários de saúde e integrantes do programa Saúde da Família também aproveitam as visitas a pacientes para checar possíveis focos do Aedes aegypti. Moradores de regiões com grandes números de casos e aqueles que sofreram com a dengue atuam como fiscais, monitorando os vizinhos e cobrando a limpeza de terrenos baldios. A regra é acabar com criadouros de mosquitos antes do início do verão, quando o número de casos costuma crescer.

A Vila Planalto foi uma das áreas mais atingidas pela epidemia de dengue este ano. Foram 730 casos de janeiro até agora. Por conta do surto localizado, a região virou símbolo da luta contra a doença. O Serviço de Limpeza Urbana realizou mutirões de limpeza, o Exército visitou a área para alertar a comunidade sobre as formas de prevenção e líderes comunitários se engajaram na causa. Agora, com a volta da ameaça da contaminação, os moradores permanecem atentos ao combate à doença. Mas em algumas partes da Vila Planalto ainda é comum encontrar lixo e entulho acumulados.

Morador da região há 10 anos, o aposentado Rafic Haddad, 65 anos, foi infectado pelo vírus da dengue em março deste ano. Foram quase 20 dias de muito mal-estar, febre, fraqueza e dores no corpo. ¿Foi um pesadelo muito grande para mim. Para piorar, minha esposa estava internada com câncer na mesma época em que eu peguei a doença. Por conta disso, eu não podia nem parar para descansar, tinha que cuidar dela enquanto encarava uma febre muito alta. Foi muito sofrimento¿, relata o aposentado, morador da Vila Planalto.

Desde que encarou as dores da infecção, Rafic redobrou os cuidados. Ele analisa todos os pontos do jardim rotineiramente para ver se há pontos com água parada. Mas seu jardim é um exemplo de como combater a dengue. Os pratos dos vasos têm areia e não há latas ou garrafas vazias armazenadas. ¿Fico preocupado porque não quero passar por isso de novo. Mas não adianta eu cuidar sozinho, todos têm que prestar atenção nisso. Senão, o mosquito pode se reproduzir no jardim do vizinho e vir até a minha casa e me infectar¿, explica o aposentado.

Casos concentrados No Lago Sul, houve 36 casos desde janeiro. Mas pelo menos 22 desses registros ocorreram nos conjuntos 2 e 3 da QI 28 do bairro. O foco da doença provavelmente estava em terrenos ociosos e casas fechadas dessas ruas. Em algumas residências, famílias inteiras tiveram dengue. Desde então, agentes da Vigilância Ambiental visitam esses conjuntos rotineiramente para alertar a comunidade sobre a importância de combater os focos do mosquito.

Morador do Conjunto 3 da QI 28 do Lago Sul, o administrador de empresas Vítor Bizinoto Santos, 24 anos, teve dengue em fevereiro. A mãe, o avô e uma prima do rapaz que veio para a cidade por conta do carnaval também foram infectados pelo vírus pouco depois. Ele lembra dos transtornos que a doença causou. ¿Fiquei sem trabalhar alguns dias e senti muita fraqueza durante pelo menos duas semanas. É uma sensação muito ruim¿, relembra. Vítor conta que todos os moradores da casa sempre foram muito cuidadosos em relação à dengue. Mas a preocupação cresceu ainda mais depois que a família enfrentou quatro casos em menos de um mês. ¿A gente se preocupa muito com essas casas que estão fechadas e vazias¿, acrescenta o administrador de empresas.

Funcionária de uma casa do mesmo conjunto, a empregada doméstica Sirle Silva da Costa Xavier, 33 anos, pegou dengue em fevereiro, na mesma época em que a patroa foi infectada. ¿Tomei remédio para dor e para enjoo e fiquei encostada vários dias. Agora, a gente usa repelente o tempo inteiro para o mosquito não picar de novo¿, revela Sirle. De acordo com o Ministério da Saúde, o uso de repelentes não tem muito efeito no combate à dengue, porque esses produtos têm efeito indeterminado e temporário.

Em 2009, o índice de infestação predial ficou em 1,7%, o que se configura como uma situação de alerta, ou seja, os agentes encontraram larvas do mosquito em 1,7% das residências visitadas. Em 2010, o índice foi considerado satisfatório: 0,6%. Mas isso não impediu o surgimento da epidemia de dengue este ano no Distrito Federal.

O coordenador do Programa de Combate à Dengue da Secretaria de Saúde do DF, Aílton Domício, conta que, diante do deficit de agentes de vigilância, o GDF solicitou ao Exército 500 militares para o combate à dengue. Mas apenas 100 foram liberados e já estão nas ruas. ¿Também temos a expectativa de receber mais 25 da Aeronáutica e 25 da Marinha. Pedimos o apoio por 45 dias mas, possivelmente, vamos pedir a prorrogação por igual prazo. Esse apoio vai ser essencial para controlar o número de casos com a chegada da chuva¿, explica Aílton.

Rosso Na semana passada, o governador Rogério Rosso divulgou as ações de combate à dengue e afirmou que a situação está sob controle. Segundo ele, as áreas mais suscetíveis à doença nesta nova temporada chuvosa são Arniqueiras, Colônia Agrícola Samambaia e o Setor Habitacional Jardim Botânico. Ele negou que haja riscos de uma nova epidemia, mas não mencionou a possibilidade de contratação de novos agentes de Vigilância Ambiental. Rosso afirmou que os administradores regionais e a Agência de Fiscalização do DF (Agefis) vão receber uma recomendação para atuar com mais rigor na autuação de proprietários de terrenos onde forem identificados entulhos e possíveis focos do Aedes aegypti. ¿Essas pessoas serão multadas. Esse trabalho já está sendo feito, vamos apenas intensificar¿, explicou o governador.