Título: Economistas esperam alta de 0,4% no indicador do BC que tenta antecipar PIB
Autor: Lorenzo, Francine De
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2012, Brasil, p. A2

A economia voltou a crescer de forma tímida em outubro, segundo projeções de analistas que acompanham os indicadores de atividade. Apesar do avanço maior tanto da indústria quanto do comércio no período, a média das projeções de nove instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta expansão de apenas 0,4% no Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br) entre setembro e outubro, descontados os efeitos sazonais, resultado que, se confirmado, não chegará a compensar a queda de 0,52% registrada pelo indicador no mês anterior. O IBC-Br, considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), será divulgado hoje. As projeções variam de 0,1% a 0,6%

O resultado positivo esperado para outubro, diz o economista do Bradesco, Robson Pereira, que prevê elevação de 0,5% no indicador, se deve principalmente à expansão da indústria, que ampliou em 0,9% sua produção no período, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "O aumento do comércio no período também é um sinal positivo, mas o mais relevante para o crescimento da economia é a indústria", comenta Pereira, referindo-se à Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo IBGE, que apontou elevação de 0,8% nas vendas do varejo restrito (que exclui automóveis e materiais de construção) e de 8% nas do ampliado (que inclui essas duas categorias).

As diferenças de metodologia e dessazonalização, observa Leandro Padulla, da MCM Consultores, explicam porque o IBC-Br não subirá tanto quanto os indicadores da indústria e do varejo. Pelas suas contas, o IBC-Br terá alta de 0,3% em outubro, o que mostra que a economia brasileira ainda não está suficientemente fortalecida.

"Na hipótese de um crescimento de 0,3% em outubro, estagnação em novembro e avanço de 1% em dezembro, chegaríamos ao fim do quarto trimestre com crescimento de apenas 0,6%, metade da alta de 1,2% contabilizada pelo IBC-Br no terceiro trimestre", afirma. Essa simulação é vista pelo próprio Padulla como otimista, já que as sinalizações até o momento, segundo ele, são de retração no indicador em novembro.

A MCM estima queda de 2,2% nas vendas do varejo ampliado e encolhimento de 1% na produção industrial em novembro, na comparação com outubro, feitos os ajustes sazonais. Em dezembro, a expectativa de fim da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de automóveis, linha branca e móveis promete impulsionar tanto a indústria quanto o comércio.

O ritmo da economia brasileira, diz Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria, segue estreitamente vinculado ao desempenho do setor automotivo. "Novamente veremos em outubro um avanço devido à expectativa de fim do IPI reduzido dos veículos, que puxou os resultados da indústria e do comércio no período. Em novembro, teremos uma nova "ressaca" nesses dois setores e, em dezembro, uma reprise de outubro", afirma a economista, que projeta elevação de 0,5% no IBC-Br de outubro. "Ainda não há uma dinâmica clara de recuperação econômica."

Para Alessandra, se fosse descontado o efeito da cadeia automobilística no PIB do terceiro trimestre, o crescimento de 0,6% sobre os três meses anteriores teria sido reduzido para algo em torno de 0,2%. Da mesma forma, ela entende que se desconsiderada essa influência sobre o IBC-Br de outubro, o crescimento projetado ficaria apenas ligeiramente acima de zero. "Só não seria nulo porque o comércio ainda está forte, puxado pelo aumento da renda", diz.

Segundo Alessandra, o consumo das famílias deve continuar sendo o ator principal do PIB por mais algum tempo, crescendo 2,8% neste ano e 2,9% em 2013. "A economia só vai ganhar tração no segundo semestre de 2013", prevê.

A recuperação econômica, diz ela, ainda depende da indústria captar os efeitos dos cortes nos juros feitos desde agosto de 2011, da desvalorização cambial e das barreiras às importações. "Também teremos concessões e uma aceleração nas obras do PAC, já que a Copa está se aproximando." Com isso, Alessandra espera uma reação do investimento, transformando a queda de 3,7% prevista para este ano em alta de 4,6% em 2013.

"A economia está se recuperando, mas devagar. Se excluirmos esse movimento de sobe e desce da atividade, será possível ver uma trajetória ascendente, ainda que lenta", diz Padulla, que projeta expansão de 0,8% para o PIB em 2012, mesmo percentual estimado pela Tendências.