Título: Petrobras mantém planos de investimentos na AL
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 26/03/2007, Empresas, p. B7

Os problemas enfrentados pela Petrobras em alguns países da América Latina não arrefeceram o interesse da estatal pela região. E nem tiram o tom paciente da voz do diretor da área internacional da companhia, Nestor Cerveró, quando discorre com sobre negociações com estatais de alguns países da região que elegeram lideranças populares, como Evo Morales (Bolívia) e Hugo Chávez (Venezuela).

Cerveró disse que a América Latina continua sendo prioridade da companhia, que também aposta em Angola e na Nigéria. Neste país, a Petrobras vai investir US$ 1,81 bilhão referente à sua participação nos campos gigantes Akpo (onde tem 10%) e Agbami (16%).

Até 2011, estão previstos US$ 12 bilhões no exterior. Em volume, a maior parte (US$ 2,72 bilhões) irá para os Estados Unidos, onde a estatal investe fortemente na exploração e produção de petróleo e gás e na ampliação da refinaria que adquiriu no ano passado. A América do Sul vai receber US$ 3,4 bilhões, sendo a maior parte, US$ 2,5 bilhões, destinados à Argentina.

Na Bolívia, a Petrobras entrou esta semana com recurso administrativo junto à Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) contra a cobrança de US$ 32 milhões acima do previsto nos contratos de produção assinados dia 29 de outubro. Já foram pagos US$ 90 milhões acima do previsto nos contratos. A soma é dividida pelos três sócios dos campos de San Alberto e San Antonio, os maiores produtores de gás do país. À Petrobras coube US$ 11,2 milhões por mês - 35% da sua participação.

"Eles fizeram uma prorrogação do Decreto Supremo e não achamos isso correto. Tanto que estamos entrando com recurso, uma vez que o próprio Congresso já aprovou os contratos. Há um problema de regulamentação. Enquanto isso, estamos chiando e pagando", resume.

Ele explicou que apesar da estatal ter negociado o pagamento de um valor adicional pelos líquidos mais nobres que vêm com o gás da Bolívia, a empresa não vê viabilidade econômica no pólo petroquímico da fronteira, que seria construído no Mato Grosso do Sul. No máximo, espaço para uma unidade separadora para retirar insumos nobres, como GLP.

"Hoje, o cenário mudou. Esse pólo foi desenvolvido há quatro anos com a Braskem e a Repsol mas desde então mudou o preço do gás e a situação do mercado petroquímico. Hoje temos um projeto gigantesco de refinaria e petroquímica no Rio e a viabilidade que foi estabelecida em 2003 já não está dentro das mesmas condições."

Cerveró antecipou que tem planos de investir na distribuição de biocombustíveis no Equador, onde a companhia teve a produção paralisada por manifestantes alguns dias atrás. Ele vai assinar novos acordos de produção conjunta com a PetroEquador durante a visita do presidente Rafael Corrêa ao Brasil. A estatal brasileira já investiu US$ 200 milhões em exploração no Bloco 31, dentro do Parque Nacional de Yasuní, na fronteira com o Peru, mas ainda discute com o governo o local exato de instalação da unidade de produção.

O executivo diz que a configuração original do projeto previa que as instalações ficariam fora do parque, que também abriga a reserva indígena Huaorani, e perto de um rio para facilitar o escoamento. O governo da época pediu que ficasse dentro do parque para evitar o surgimento de aglomeração habitacional de baixa renda, com possibilidades de invasão da reserva. "Refizemos o projeto", afirma.

Tempos depois, nova reviravolta. "Com a mudança de governo (do presidente Lucio Gutiérrez, que foi deposto) nos disseram que todas as instalações tinham que ficar fora do parque e voltamos à configuração inicial. Recebemos a primeira aprovação em setembro do ano passado. Mas só vamos produzir depois que recebermos a licença de operação", explicou.

Na Venezuela, a Petrobras já perfurou três poços para delimitar as reservas de petróleo do campo de Carabobo, onde terá participação minoritária de 40%. A sócia é a PDVSA, com 60%. A estatal já estuda antecipar o início da produção na área, de 200 mil barris/dia de óleo pesado, e também estuda investir em uma unidade para melhorar a qualidade desse petróleo. A expectativa é que Carabobo comece a produzir antes da refinaria de Pernambuco, no Brasil, onde a PDVSA terá 40%.

No Oriente Médio, a companhia tem investimentos na Turquia, Líbia e Irã, onde analisa investimentos de exploração e produção no Mar Cáspio em exploração e produção em águas rasas.