Título: Financiamento do IFC a agroindústrias do país quase dobra
Autor: Barros, Bettina
Fonte: Valor Econômico, 16/04/2007, Agronegócios, p. B12

IFC, o braço financeiro do Banco Mundial (Bird), está aumentando suas apostas no mercado brasileiro. Especificamente, no agronegócio do país. A expectativa do órgão, sediado em Washington, é dobrar os financiamentos ao setor no atual ano fiscal americano, que se encerra em junho, ficando entre US$ 200 milhões e US$ 250 milhões.

"O agronegócio já representa 40% do nosso portfólio", afirma Marcelo Lessa, encarregado do departamento de agronegócios do IFC para alguns países da América Latina, entre eles o Brasil. No último ano fiscal, o setor representou menos de 20% do total de empréstimos ao país.

Em passagem por São Paulo, Lessa explica que as empresas brasileiras vivem um momento bom. "Há uma confluência de fatores. O Brasil tem vantagens comparativas em relação a outros países em desenvolvimento e houve um incremento de investimentos no país", diz ele, citando como exemplo os aportes no setor de açúcar e álcool. "Nossos investimentos mostram a importância que damos ao Brasil".

De modo geral, o Brasil mantém uma posição favorável no órgão. Durante o ano fiscal de 2006, o país recebeu o maior montante de financiamento entre os latino-americanos nos vários segmentos: US$ 737 milhões. Nesse mesmo período, a carteira total comprometida do IFC no Brasil foi de US$ 1,5 bilhão (dinheiro aprovado mas não necessariamente desembolsado), sendo a segunda maior exposição do órgão no mundo, atrás apenas da Rússia.

No agronegócio, a participação do setor pulou de US$ 20 milhões no ano fiscal de 2001 para US$ 100 milhões em 2005 e US$ 120 milhões em 2006. Neste último, os empréstimos foram destinados à Cosan, maior grupo de açúcar e álcool do país, e a cooperativa de laticínios Itambé.

Segundo Lessa, o IFC trabalha com uma lista de cerca de 20 empresas brasileiras pleiteando empréstimos - duas receberam este mês o sinal verde do órgão, a usina Vale do Paraná, em Suzanópolis (SP) e o Grupo Bertin, segundo maior frigorífico brasileiro.

Os outros casos estão em diferentes estágios de consulta, o que pode resultar em um período de análise de três a seis meses. Por estarem em estudo, os nomes das empresas não podem ser revelados. Lessa, porém, dá pistas: podem receber empréstimos, até junho, outras duas usinas de açúcar e álcool, uma indústria de carne e duas do setor de soja no Sul do país. "Queremos trabalhar com mais valor agregado".

No caso do Bertin, que receberá US$ 90 milhões, o IFC bateu de frente com ambientalistas que acusam o órgão de promover o desmatamento na Amazônia. O frigorífico quer utilizar parte do dinheiro para expandir sua planta em Marabá, no Pará. Lessa discorda. "É a chance de engajarmos com empresas sérias na busca de soluções sociais e ambientais".

Quando se tratam de usinas, o IFC adota a política de investir unicamente naquelas que produzem tanto álcool quanto açúcar. A medida é uma garantia de segurança contra eventuais oscilações de preços dos produtos.

Em biodiesel, a menina-dos-olhos do governo Lula, o IFC ainda não se aventura. "Nos projetos analisados nenhum deles ainda se mostrou econômica e financeiramente viáveis", afirma.

Além do Brasil, o IFC aprovou neste ano fiscal US$ 270 milhões para projetos de álcool e açúcar na Guatemala, Índia e Peru.