Título: Jobim e Dilma se acertam
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Fonte: Correio Braziliense, 07/12/2010, Política, p. 5

Venda de caças, violência no Rio de Janeiro e aviação civil temperam encontro de três horas que indica a permanência do ministro Diego Abreu

A presidente eleita, Dilma Rousseff, passou o dia de ontem reunida na residência da Granja do Torto com integrantes da equipe de transição e futuros ministros. O mais longo dos encontros ocorreu à tarde, quando a petista recebeu o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Na pauta, a permanência dele na pasta, até por ser um nome bem avaliado pelos integrantes da cúpula das Forças Armadas. Filiado ao PMDB, ele não entrará na cota do partido, mas deverá fazer parte de uma escolha pessoal de Dilma, aconselhada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Durante as quase três horas de encontro, Dilma e Jobim conversaram sobre a manutenção das Forças Armadas nas atividades de ocupações de morros no Rio de Janeiro, sobre aviação civil e sobre aeroportos. Essas duas últimas áreas a presidente eleita pretende tirar da competência do Ministério da Defesa. Ambos também teriam tratado da compra de novos caças para a Aeronáutica brasileira. O impasse sobre a aquisição das aeronaves se arrasta há mais de um ano, sendo que permanecem na disputa pela venda dos caças a França, os Estados Unidos e a Suécia.

O investimento para a compra da aeronave preferida de Lula, o francês Rafale, será de pelo menos US$ 4 bilhões. O presidente já afirmou em entrevistas que pretende tratar do assunto com Dilma e com Jobim, o que reforça que é praticamente certa a permanência do ministro na Esplanada.

Jobim saiu sem dar entrevistas. A assessoria de Dilma não confirmou o convite, mas não descartou a possibilidade de Jobim permanecer. A reportagem do Correio apurou que houve o convite oficial e o aceite.

Rotina Pela manhã, os ministros indicados Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência), atual chefe do gabinete de Lula, e Antonio Palocci (Casa Civil), deputado federal do PT paulista, estiveram reunidos com Dilma. Também participaram do encontro o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o ex-ministro de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger. Todos saíram sem falar com os jornalistas. A assessoria do governo de transição limitou-se a informar que era uma reunião de rotina.

Desde a última quinta-feira, a presidente eleita não vai ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), sede do governo de transição. Na sexta-feira e também ontem, Dilma despachou na Granja do Torto, local onde ela deverá morar até 1º de janeiro, data marcada para a posse e quando deverá se mudar para o Palácio da Alvorada.

Afeita a entrevistas coletivas durante a campanha, Dilma só falou com a imprensa duas vezes depois de eleita. A última há 24 dias, em Seul, na reunião do G-20. Na última sexta, a presidente eleita confirmou a indicação de Gilberto Carvalho e de Antonio Palocci, por meio de nota publicada pelo gabinete de transição. O mesmo texto anunciava o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) para o cargo de ministro da Justiça. Ontem, aliás, Cardozo recebeu a visita do ex-ministro da pasta Tarso Genro, eleito governador do Rio Grande do Sul.