Título: Dilma diz não tolerar corrupção e defende Lula em entrevista ao Le Monde
Autor: Rocha, Alda do Amaral
Fonte: Valor Econômico, 14/12/2012, Política, p. A11

O jornal "Le Monde", um dos mais respeitados da França, trouxe em sua edição de ontem uma entrevista exclusiva, de página inteira, com a presidente brasileira Dilma Rousseff, em que ela afirma não tolerar a corrupção.

Dilma, cuja foto está estampada na capa do jornal, diz na entrevista que a corrupção é "uma calamidade que afeta todos os países". A presidente encerrou na quarta-feira uma visita de Estado à França, um dia depois de virem à tona acusações do publicitário Marcos Valério contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O empresário afirma que Lula teria dado seu aval a pedidos de empréstimos do PT para financiar o mensalão e utilizado recursos do esquema para despesas pessoais.

"Não são as pessoas que devem ser virtuosas, mas as instituições. A sociedade deve ter acesso a todos os dados governamentais. Todos que utilizam fundos públicos têm de prestar contas. Do contrário, a corrupção assola", disse Dilma quando questionada se o Brasil consegue conter a corrupção.

"Eu não tolero a corrupção, e meu governo também não. Se há suspeitas fundadas, a pessoa deve partir", afirmou na entrevista. A presidente ponderou, entretanto, que não se pode confundir "essas investigações com uma caça às bruxas, típica de regimes autoritários e de exceção".

Dilma citou como exemplo do combate à corrupção a Lei da Ficha Limpa que prevê que para ser candidato a uma eleição no Brasil um cidadão não pode ter sido condenado. Além disso, disse na entrevista ao "Monde", que "[no Brasil] o Ministério Público é independente, a Polícia Federal investiga, prende e pune". E fez uma defesa implícita a Lula ao dizer que "quem começou essa nova etapa de governança foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva".

A entrevista com Dilma trata também de outros temas, como as relações bilaterais Brasil-França, crise na Europa, economia e política. Indagada se será candidata à reeleição em 2014, a presidente disse que "este não é o momento para pensar nisso", porque ainda tem "dois anos de governo intensos" pela frente. "Isso seria colocar o carro na frente dos bois".

A presidente repetiu na entrevista que é interesse da França estreitar a parceria com países de fora da zona do euro e que companhias francesas obtêm no Brasil uma parte considerável de seus resultados.

Sobre o fraco desempenho do PIB, Dilma disse que o país está numa fase de transição e que a crise internacional provocou uma desaceleração da economia a partir de meados de 2011, o que levou à adoção de medidas como a queda dos juros. Ela afirmou ainda que desvalorização artificial de moedas de países desenvolvidos fez o real se valorizar, prejudicando a economia brasileira.

Dilma, que depois da França foi à Rússia, disse ao "Le Monde" que o acrônimo Brics não é a invenção de um analista de mercado, que percebeu a emergência de países continentais. "É a construção de uma vontade política comum, apesar das diferenças entre nossos países. (...) Os Brics elevaram o nível de vida de suas sociedades e têm a ambição de se tornarem países desenvolvidos", afirmou. "Acredito que um país que se desenvolve economicamente e socialmente termina por crescer politicamente e democraticamente", disse.