Título: Maiores oportunidades estão em nichos de mercado
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2007, Brasil, p. A6

O Brasil tem potencial de aumentar as exportações de um conjunto de 100 produtos manufaturados para a China. A lista, feita a partir de estudo do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), reúne itens de maior valor agregado de 14 setores, entre os quais máquinas, veículos, tecidos de algodão, couros, motores e petroquímicos. Esses produtos já são exportados para a China, mas em muitos casos não alcançam 1% de participação no mercado chinês.

Na opinião de especialistas em comércio exterior, as oportunidades para a indústria brasileira na China estão em nichos. São produtos diferenciados, de maior valor unitário e qualidade, em setores como têxteis e calçados. Mas o incremento para a pauta, resultante destas exportações, não será significativo em valores, diz o economista Fernando Ribeiro, da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

Para as empresas brasileiras que apostam nestes nichos, vale a pena estar presente e conhecer a China, cujos setores crescem a taxas robustas e influenciam a dinâmica dos mercados. Vale como estratégia comercial, mesmo tendo contra a desvantagem da distância que separa a China do Brasil e as dificuldades internas do país, como o câmbio apreciado, a logística deficiente e os custos de produção.

É o que algumas empresas já fazem. A Santista Têxtil tem planos de dobrar as exportações de denim diferenciados, em termos de padrão de qualidade e acabamento, para a China este ano em relação a 2006, diz o presidente da empresa, Ricardo Weiss. Os volumes exportados pela Santista para a China não são expressivos, mas com produtos inovadores a empresa consegue competir e participar do mercado.

No setor calçadista, a fabricante Bordallo, de Franca (SP), pretende investir na marca Anatomic Gel, diz Moema Pimentel, sócia da Ghetz Brazilian Footwear. A Ghetz representa a marca na Europa e na Ásia. Em 2006, a Bordallo vendeu 10 mil pares de sapatos para a China ao preço médio de US$ 30 o par.

Moema diz que os sapatos da Bordallo vem sendo exportados para a China com a marca do cliente, uma grande loja de departamentos, mas a idéia é tornar mais visível o nome Anatomic Gel, cujo conceito é o conforto. "Nas lojas nossos sapatos são vendidos ao lado dos Armani", diz Moema.

Apesar desses exemplos, o Brasil continua a ser exportador de commodities para a China. Em 2006, cinco dos dez principais produtos exportados para a China foram básicos (minério, soja, petróleo, ferro-ligas e fumo em folha). Outros quatro se incluem nos semimanufaturados (celulose, óleo de soja, couros e peles e madeira serrada). De manufaturados nos dez maiores, só motores para veículos.

Análise da Funcex mostra que apenas 10,4% das exportações brasileiras para a China, em 2006, eram de manufaturados. Em 2005 o percentual era de 16,8%. Já as importações feitas da China se aproximam da pauta de país desenvolvido com teor tecnológico e valor agregado crescentes, diz o CEBC.

Rodrigo Maciel, secretário-executivo do CEBC, diz que as empresas brasileiras precisam atacar o mercado chinês. Como as exportações da China para o Brasil crescem mais do que as vendas brasileiras para o mercado chinês, o país tem atuado mais em ações de defesa comercial tentando restringir as exportações chinesas.

A Petroflex vê a China como um mercado em expansão, mas esbarra em dificuldades internas, no Brasil, para crescer de forma mais acelerada na Ásia. Em 2006, exportou 8,3 mil toneladas de borrachas sintéticas para a China por cerca de US$ 15 milhões. O principal produto é o látex de ESBR, no qual a empresa tem participação de 35% no mercado chinês. Embora a participação do produto seja relevante, é uma exceção. "2007 será um ano para entendermos melhor o mercado chinês", diz Wanderlei Passarella, presidente da empresa.

A Braskem também planeja entender melhor as mudanças que ocorrem na China. A empresa avaliará a viabilidade de instalar um escritório naquele país, diz Walmir Soller, diretor de mercados internacionais de poliolefinas. A Prensas Schuler, de Diadema (SP), também identifica novas oportunidades na China. Ainda neste primeiro semestre embarcará uma nova linha de prensas para uma montadora chinesa. (FG)