Título: Anúncios travados por um "quinto elemento"
Autor: Rothenburg, Denise; Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 04/12/2010, Política, p. 2

PMDB encara a Previdência mais como abacaxi do que como área nobre e exige outro posto de destaque. Dilma resiste e adia confirmações

Temer, vice de Dilma e presidente do PMDB, tenta fazer o meio de campo para que as relações não azedem

A dificuldade em atender o PMDB e deixá-lo com o tamanho que o partido tem no governo Lula emperrou a formação final da equipe de Dilma Rousseff e os anúncios de outros ministros, além dos ¿da casa¿, oficializados ontem. O partido quer o que vem sendo chamado carinhosamente de ¿quinto elemento¿, seja ele espaço político em áreas-chave que não tem hoje ou um outro ministério além dos quatro já oferecidos ¿ Minas e Energia e Agricultura, com ministros escolhidos, e, ainda, Previdência Social e Turismo. Saúde está fora da composição e pode acabar parando nas mãos de um petista.

O problema do PMDB é que o partido considera Previdência mais problemática do que Comunicações ¿ hoje o segundo ministério peemedebista dos senadores, que será o novo pouso de Paulo Bernardo, o atual ministro do Planejamento. O partido de Temer vê ainda o Turismo com peso menor do que Integração Nacional, o segundo ministério da Câmara. Já está certo que Turismo virá de indicação da Câmara. Estão no páreo, por enquanto, os deputados Marcelo Castro (PI) e Mendes Ribeiro (RS). Previdência está na cota do Senado, que prefere outra pasta. Se houver o quinto ministério, Wellington Moreira Franco será o futuro ministro da Previdência.

Repescagem Moreira Franco deixou o cargo para ajudar na campanha e é braço direito de Temer, mas não representa nem Câmara e nem Senado. Se não houver o quinto posto, avaliam alguns, Moreira ficará para a ¿repescagem¿, nos cargos vistosos do segundo escalão. Dilma resiste em ceder o ¿quinto elemento¿, uma vez que há outros partidos a atender e o desejo de deixar a pasta das Cidades com o PP e ver se o partido apoia a permanência de Márcio Fortes, que tem a simpatia da presidente eleita.

Os ministérios do PMDB foram definidos em duas tensas reuniões na terça-feira. Da primeira, participaram Michel Temer, o futuro ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, e o líder peemedebista na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Na segunda, o PMDB buscou o reforço dos senadores: o presidente do Senado, José Sarney, e o líder Renan Calheiros. Temer ponderou que deixasse o anúncio dos nomes dos peemedebistas já escolhidos, Edison Lobão (MME) e Wagner Rossi (Agricultura), para a hora em que estiver tudo fechado. Tudo para não dispersar setores do partido já contemplados, como Sarney. Na lista do quinto elemento estariam o ministério da Pesca e da Micro e Pequena Empresa, hoje na cota do PT.

Devolução Depois da confusão em torno da indicação de Sérgio Côrtes para a Saúde, o PMDB devolveu a pasta. Vetar o nome do secretário do governador Sérgio Cabral seria desprestígio para o comandante do Rio. Aceitá-lo, entretanto, ficaria mal para a bancada e para Temer, que não apadrinhou a escolha. Assim, Dilma desconvidou o secretário. Quem paira sobre o cargo é o ministro Alexandre Padilha, cotado originalmente para seguir na Secretaria de Relações Institucionais. Ontem, ele ficou quase cinco horas reunido com Dilma, Palocci e o presidente do PT, José Eduardo Dutra, na Granja do Torto. De acordo com um parlamentar petista, Padilha tem apresentado a quem o procura ao menos uma credencial para o cargo: o trânsito com prefeituras e governos estaduais, bônus do período como responsável pela articulação política de Lula, além do diálogo com congressistas.

Enquanto Padilha se volta para a Saúde, o governador da Bahia, Jaques Wagner, busca nomes para emplacar no Ministério do Desenvolvimento Social. Embora a titular Márcia Lopes seja favorita, Wagner tem uma lista tríplice: a prefeita de Lauro de Freitas, Moema Gramacho, a chefe da Casa Civil do governo baiano, Eva Chiavon, ou o deputado federal Zezeu Ribeiro (PT-BA). Dilma ainda não disse nem sim nem não. Quer primeiro fechar o PMDB até terça-feira para depois deslanchar o restante.

ANÁLISE DA NOTÍCIA

Instabilidade o horizonte O ministério que a presidente eleita, Dilma Rousseff, anunciará nos próximos dias já vem sendo tratado como gabinete provisório. Dificilmente o desenho em gestação será mantido por quatro anos, dada a insatisfação geral. Nem o PT, que deve ficar com 15 cargos de primeiro escalão, é só alegria. Os aliados consideram hipertrofiada a participação dos paulistas ¿ e nem os paulistas se sentem representados por ela ¿ e atrofiada a representação dos nordestinos, que deram à presidente 75% dos votos. Ali se consolidou uma hegemonia do PT e do PSB. Perderam DEM, PSDB e o próprio PMDB, que só venceu o governo do Maranhão.

No PMDB, a confusão ainda reina, uma vez que o partido é tão grande quanto o PT, não tem nem de longe o mesmo número de ministérios e ainda perdeu espaços de poder e de orçamento. Turismo tem R$ 862 milhões na proposta do Executivo para 2011, contra R$ 4,2 bilhões da Integração Nacional. A Previdência, o maior Orçamento, é ilusão, uma vez que o grosso é destinado a aposentadorias e pensões. O PMDB preferia os R$ 4,3 bilhões das Comunicações e o poder de cuidar da Telebras e de concessões de rádio e TV, negócios sempre em alta. Num mundo em que começa com tantas insatisfações, esteja certo, leitor: vai ter muita gente chacoalhando esse ministério de Dilma até derrubar alguém da árvore.