Título: Brasil e México tentam ampliar acordo
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2007, Brasil, p. A7

Brasil e México decidiram acelerar negociações para ampliar o número de produtos que terão acesso preferencial nas duas maiores economias da América Latina. A iniciativa pode atenuar os arranhões deixados pela malograda tentativa mexicana de ingressar no Mercosul como membro associado.

O México considera que foi discriminado nessa tentativa, insinuando que foi dado tratamento facilitado para Hugo Chávez. "Nos impuseram critérios diferentes aos que estabeleceram para a entrada da Venezuela", disse a subsecretária mexicana de negociações comerciais internacionais, Beatriz Leycegui Gardoqui. Ela apontou a exigência para o México ter antes um acordo de livre comércio com o bloco. Para o país, teria sido suficiente os acordos de preferência comercial já assinados com os membros plenos. Segundo fontes mexicanas, só o Brasil resistiu a essa idéia.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, rebateu com vigor a declaração da funcionária mexicana: "Não é verdade. O critério para ingressar no Mercosul é exatamente o mesmo, o país candidato tem de ter antes acordo de livre comércio com o Mercosul." Segundo Amorim, a exigência tem sido feita a "todos os outros países, mas eles (o México) vivem fazendo um pouco essa confusão, é conversinha para enganar, para criar um fato político". Ele notou que "nem membro pleno o México quer ser".

O ministro exemplificou que o Chile "negociou bem" seu ingresso como membro associado e suas exportações para o Brasil são hoje mais beneficiadas do que as dos outros membros do Mercosul.

Em debate no plenário de Davos, na semana passada, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Felipe Calderón também discordaram na avaliação sobre mudanças na América Latina, sem mencionar o nome que flutuava no ar: o de Hugo Chávez, presidente da Venezuela. Para Lula, a América Latina "começou a eleger presidentes que têm responsabilidade para melhorar a vida do povo", uma mudança para melhor, "embora alguns não gostem".

Calderón, por sua vez, disse que o importante é se a região "avança ou retrocede". E retrocesso seria, na sua visão, "volta a ditaduras pessoais vitalícias" e, na economia, "a expropriações e nacionalizações, que só empobrecem ainda mais os pobres".

Lula deu ênfase ao projeto do Mercosul e da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa). Calderón ainda espera a retomada da Alca e acordos preferenciais com o resto do mundo.

As discrepâncias continuaram quando Lula voltou a convidar o México para ingressar no Mercosul. Calderón retrucou que "tensões políticas" na região complicavam a integração regional e mostrou-se mais interessado na relação bilateral.

Ainda duram o Fórum Econômico Mundial, em Davos, as duas delegações acertaram reunião para março ou abril, para ampliar a cobertura do Acordo de Complementação Econômica (ACE) assinado em 2003. No caso do México, o Mercosul tem acordo-quadro que permite a seus membros fechar acordos individuais com o México. Se o ACE se transformar num acordo de livre comércio, será então com o Mercosul.

O México está ansioso para ampliar o comércio com o Brasil por duas razões. Primeiro, a desaceleração da economia dos Estados Unidos já causou queda nas suas exportações. E segundo, quer reduzir o déficit comercial com o Brasil, que foi de US$ 2 bilhões no ano passado.

"Como líderes na América Latina, temos de buscar formas de integração maior entre nós", disse a subsecretária. O ACE 53 reduziu impostos de importação para quase 800 produtos, representando menos de 20% das linhas tarifárias. O ACE 55 liberalizou o comércio de automóveis, mas para caminhões e ônibus ficou para 2018. "É muito pouco, precisamos ampliar a liberalização, explorar o que é melhor nos dois países", completou a subsecretária mexicana.