Título: Medo de "traições" mobiliza candidatos à presidência do Senado
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2007, Política, p. A8

Na disputa pelo comando do Senado Federal nos próximos dois anos, os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e José Agripino (PFL-RN) se enfrentam hoje no plenário, a partir das 10h, sob o temor de traições em ambos os lados. Para ganhar, um dos dois candidatos precisa ter, no mínimo, 41 dos 81 votos. Numa contabilidade dita pessimista por apoiadores de Renan, ele partiria de 46 votos certos. Agripino manteve o otimismo. Disse que hoje terá os 41 votos necessários.

Renan Calheiros, atual presidente, determinou ao secretário geral, Raimundo Carrero, que tome todas as providências para garantir o sigilo da votação. Os senadores usarão cédulas e só poderão entrar na cabine de votação sozinhos. O próprio Renan explicou ontem que o sistema de painel eletrônico não é adequado porque os movimentos dos dedos que o parlamentar precisa fazer para votar podem ser identificados.

"O objetivo é garantir o direito democrático da inviolabilidade do voto", disse. Ele se reuniu com Agripino para acertar as regras da eleição de hoje. Participaram o presidente e o líder do PSDB, senadores Tasso Jereissati (CE) e Arthur Virgílio (AM). Até o início dessa conversa, Renan dizia ainda estar lutando "pelo consenso". Uma hora e meia depois, saiu admitindo a disputa.

Se na Câmara a eleição pela presidência rachou a base governista, a do Senado ameaça deixar seqüelas na oposição. Senadores tucanos temem que o PFL responsabilize o PSDB por uma eventual derrota de Agripino.

Avaliam que, embora a bancada pefelista (17) tenha assumido compromisso público de votar unanimemente em Agripino, o índice de traições pode ser alto no PFL. E, como a votação é secreta, a conta de uma eventual derrota poderá ser apresentada ao PSDB. Entre os tucanos, há desconfiança de até seis traições no partido.

No PSDB, apenas um dos 13 senadores declarou voto a Renan: João Tenório (AL), que assumiu na vaga do governador Teotônio Vilela (PSDB), eleito com o apoio do presidente do Senado. Mas o pemedebista espera contar com mais votos entre os tucanos.

Em tese, Renan manteve o favoritismo ao longo da campanha. Mas o fator surpresa não pode ser totalmente descartado. Aliados de José Agripino contabilizavam a favor do pefelista votos não declarados no PMDB e no PT, de senadores que estariam insatisfeitos com o tratamento recebido do governo Luiz Inácio Lula da Silva.

No fim da tarde, surgiu a informação de que o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que ganhou exposição nacional quando presidiu a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, estaria se lançando candidato. A idéia não prosperou. Depois de reunir-se separadamente com vários senadores, Delcídio negou a intenção, que havia sido confirmada anteriormente por sua assessoria.

O PMDB tem a maior bancada (20 senadores), sendo que dois anunciaram voto em Agripino: o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PE) e Garibaldi Alves (RN), conterrâneo do pefelista e seu aliado político no Estado. Pelo menos dois se diziam indecisos, aguardando negociações: Almeida Lima (SE) e Mão Santa. Almeida Lima enfrentava problemas partidários no Estado. Pela manhã, o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), chegou a oferecer a Almeida Lima convite para retornar ao partido, com a possibilidade de ser candidato a prefeito de Aracaju pelo PSDB.

Renan ganhou apoio formal do PT, em reunião da bancada. Delcídio Amaral não participou. O pemedebista não arriscou um prognóstico. "Não me aventuro a fazer projeção nem no meu partido, que dirá no PT", afirmou.

Renan e Agripino decidiram que a composição dos demais cargos da Mesa Diretora será discutida apenas hoje, depois de definida a eleição do presidente. Será respeitado o critério da proporcionalidade. Mas deverá haver disputa pelos cargos na Mesa e comissões mais importantes.

Renan assumiu com o PFL e o PSDB o compromisso de não formar bloco com o PT. A tentativa de criar o bloco PT e PMDB (que chegaria a 31 senadores) era defendido pelos petistas. Sem a formação desse bloco de partidos governistas, a oposição mantém seus espaços na Casa. Tucanos e pefelistas sentiram-se vitoriosos. " O acordo corresponde à força política que a oposição tem no Senado " , afirmou o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).

Aliado estratégico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde o primeiro mandato, Renan rejeita o rótulo de candidato governista, que Agripino tenta colar nele. O pemedebista também assumiu compromisso de realizar sessão no Senado para votar os vetos presidenciais (a medidas legislativas aprovadas no Congresso), sem esperar pela decisão da Câmara. Também fizeram acordo para apressar a votação das medidas provisórias, para evitar o trancamento da pauta de votações.