Título: Chinaglia uniu o PT, mesmo sem ser unanimidade
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2007, Política, p. A9

O médico Arlindo Chinaglia, 51 anos, está longe de ser uma unanimidade no PT, mas unificou o partido em torno de sua candidatura a presidente da Câmara. Em crise devido aos sucessivos escândalos que o envolveram ao longo do governo Lula, a sigla vislumbrou na candidatura do líder do governo na Câmara a chance de se rearticular, especialmente o PT paulista, o mais atingido pelas denúncias. Chinaglia foi secretário de Marta Suplicy, por exemplo, mas a ex-prefeita não morre de amores pelo deputado. No entanto, empenhou-se como poucos por sua eleição, sendo que Cândido Vaccarezza, um dos deputados de São Paulo mais ligados a Marta, assumiu a linha de frente da campanha.

De qualquer forma, Chinaglia era o melhor nome que o PT tinha a apresentar na Câmara. Como líder do governo Lula, o deputado estabeleceu pontes com outros partidos, sobretudo aqueles associados ao mensalão: PP, PTB e PL. Um de seus principais interlocutores no fim do primeiro mandato de Lula, por exemplo, era o deputado José Janene, um dos acusados de participar do esquema mensaleiro, mas que foi absolvido pela Câmara, como os demais à exceção de José Dirceu (PT-SP) e Roberto Jefferson (PTB-RJ). A ligação constrangia setores do PT. O que não impede que todos agora o apóiem.

Chinaglia liderou o Sindicato dos Médicos de São Paulo, mas sua atividade política começou antes mesmo da redemocratização do país como militante do Partido Operário Revolucionário Trotskista. Ele se formou na Universidade de Brasília (UnB). Enquanto estudava, trabalhava no Banco do Brasil. É um andarilho. Formado, partiu para fazer residência médica em Porto Alegre (RS). De volta a São Paulo - ele nasceu em Serra Azul - , dirigiu a Associação dos Médicos Residentes do Hospital do Servidor Público. Nos anos 80, já filiado ao PT, elegeu-se três vezes presidente do Sindicato dos Médicos.

A partir de hoje Chinaglia cumpre seu quarto mandato de deputado federal. Como nos tempos de militância sindical, também na Câmara voltou-se para os temas ligados à saúde. "Atuou prioritariamente na Seguridade Social", como informa em sua biografia. Presidiu a CPI dos Medicamentos, revelou a lista dos maiores devedores do INSS e teve intensa atuação na comissão especial que regulamentou os planos de saúde. Chinaglia é um dos fundadores do PT e foi secretário-geral do partido, mas afastou-se do grupo predominante, a Articulação, e hoje é um dos principais líderes da tendência Movimento PT, que integra o chamado Campo Majoritário.

Antes de seguir para Porto Alegre, Chinaglia trabalhou como médico residente no Hospital Regional de Taguatinga, cidade satélite de Brasília, onde era conhecido como "Doutor Neto" - ele ainda hoje é um fervoroso admirador do líder e poeta angolano Agostinho Neto. Chinaglia foi líder em todos os escândalos que ocorreram durante o governo Lula. Primeiro da bancada do PT, em 2003, quando Waldomiro Diniz, então na Casa Civil, foi denunciado de receber propinas. Depois como líder do governo, no escândalo do mensalão (compra de votos de deputados). "Fui o único líder governista a defender sistematicamente o presidente Lula no período", costuma dizer, com orgulho. (RC)