Título: Marca de Aldo foi a lealdade ao presidente Lula
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2007, Política, p. A9

A rejeição ao PT elegeu Aldo Rebelo presidente da Câmara, em 2005, quando Severino Cavalcanti (PP-PE) caiu em desgraça, acusado de receber propina de um fornecedor da Casa, e teve de renunciar ao cargo. À época, Arlindo Chinaglia, que hoje desafia sua reeleição, já era candidato, mas teve de abrir mão em favor de Aldo porque os demais partidos aliados do governo, especialmente o PMDB, não queriam um petista. O curioso é que o PT e seus principais dirigentes sempre estiveram ligados a este alagoano natural de Viçosa, 51 anos, filho de um vaqueiro e de uma professora que fez carreira política no PCdoB, ainda na clandestinidade, e no movimento estudantil.

Aldo conheceu Luiz Inácio Lula da Silva quando o presidente ainda comandava as greves no ABC paulista. Chamou a atenção de Lula por fazer discursos, nas assembléias de metalúrgicos, em forma de versos, como um repentista nordestino. Em geral agradava à platéia. A partir daí criou-se o vínculo entre Lula e Aldo que, no governo, levaria o deputado comunista primeiro a ser líder do presidente na Câmara, no período 2003-2004, e depois ministro da coordenação política de Lula, entre 2004 e 2005. No Palácio do Planalto bateu de frente com outra importante liderança petista, o então poderoso ministro da Casa Civil, José Dirceu. Em julho voltou para a Câmara. Em setembro, elegeu-se presidente.

Os embates no campo da esquerda não são uma novidade para Aldo. Assim ele se elegeu secretário-geral, em 1979, e presidente da União Nacional dos Estudantes, em 1981. Mas sempre foi leal ao presidente, às vezes até em demasia, segundo seus críticos, para o presidente de um outro Poder e terceiro nome na linha sucessória do presidente da República. Ele não hesitou em engavetar pedidos de impeachment de Lula que apareceram na Câmara.

Na presidência da Câmara, os melhores momentos de Aldo Rebelo se deram quando ele foi receptivo à opinião pública e suspendeu contratos de publicidade, demitiu funcionários fantasmas, encampou projetos como o que acabou com os salários extraordinários dos deputados e o que reduziu o período de recesso dos parlamentares. O pior, sem dúvida, foi quando assumiu uma proposta das Mesas da Câmara e do Senado de aumentar em quase 100% o salário dos congressistas. Chinaglia também apoiou a medida, mas ela acabou carimbada mesmo foi no comunista Aldo Rebelo, que nas reuniões do PCdoB defendia um aumento bem mais modesto.

Admirador de um dos fundadores da República, o marechal Floriano Peixoto (presidente entre 1891 e 1894), Aldo é um nacionalista. Por mais de uma vez já teve seu nome cogitado para ocupar o Ministério da Defesa. É autor de projetos polêmicos, como o que proíbe o uso de estrangeirismos no país e o que institui o dia 31 de outubro como o Dia do Saci - "uma pernada no importado Ralouin de origem Celta" - tem na sua essência a defesa da soberania nacional. "Neste caso, soberania simbolizada por um dos mitos que unifica o Brasil e valoriza a nossa cultura", como justifica em sua biografia. O palmeirense Aldo também tem trânsito no mundo do futebol desde que presidiu a CPI que investigou o relacionamento entre a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e a empresa de materiais esportivos Nike. (RC)