Título: Petistas tentam evitar segundo turno
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2007, Política, p. A9

O PT desencadeou nas últimas 24 horas uma ampla ofensiva para tentar eleger o deputado Arlindo Chinaglia (SP) presidente da Câmara ainda no primeiro turno, mas a tendência é que a disputa seja decidida entre Chinaglia e o atual presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que disputa a reeleição. O outro candidato é o tucano Gustavo Fruet (PR), que concorre pela chamada "Terceira Via".

O temor dos petistas é que se repita o que ocorreu na eleição de 2005, quando as forças governistas se dividiram, como ocorre hoje, e permitiram a eleição do ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que depois renunciou ao cargo, ao ser acusado de receber propina de um fornecedor da Câmara.

Entre os movimentos do PT para definir a eleição no primeiro turno está a criação de um megabloco com o PMDB e mais seis partidos, com 273 deputados. Esse número (16 votos) é apenas ligeiramente superior à maioria absoluta necessária para um candidato vencer no primeiro turno - 257 dos 513 votos da Câmara dos Deputados. E a expectativa é que o PMDB, maior partido a integrar o megabloco, e o PP, votem divididos. Ou seja, só com um grau de elevada adesão no PMDB e no PP, além de alguma defecção no PSDB, Chinaglia teria condições efetivas de ganhar no primeiro turno. A eleição começa às 15h.

O deputado que for eleito hoje passará a ser o terceiro nome na linha sucessória do presidente da República. E vai administrar um Orçamento de R$ 3,3 bilhões, sendo R$ 115 milhões para investimentos, R$ 629 milhões para despesas correntes e R$ 2,6 bilhões com pessoal.

O presidente da Câmara interfere na pauta de votações e também pode engavetar pedidos de impeachment do presidente com uma simples canetada. Trata-se de um formidável instrumento de poder que o PT passou a considerar vital para seus planos de reaglutinação, depois da crise ética que o abalou em 2005 e 2006, e de manutenção de espaços no governo.

O PT lançou candidato à revelia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que por diversas vezes manifestou preferência pela reeleição de Aldo Rebelo e considerou "lamentável" a divisão dos aliados de seu governo na Câmara. Com o acirramento da disputa, Aldo procurou Lula para dizer que seria candidato nem que fosse para ter só os 13 votos do PCdoB. "O PT não respeita ninguém", reclamou.

O candidato petista Arlindo Chinaglia acusou Aldo Rebelo de alimentar o "preconceito" contra o PT. De saída, a candidatura de Chinaglia parecia imbatível, devido a um acordo celebrado entre o PT e o PMDB, detentores das duas maiores bancadas, com 83 e 100 deputados, respectivamente.

A reação de Aldo começou quando o PFL (65 deputados) decidiu assumir sua candidatura. Na avaliação dos pefelistas, a vitória de Chinaglia significaria o retorno da influência do grupo do ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu sobre o PT. O candidato petista estaria compromissado com o projeto de anistia do ex-ministro. A divisão do PMDB também voltou a ser explicitada, com o antigo grupo governista preocupado com o avanço dos neolulistas no partido. Mas o segundo turno começou a se delinear efetivamente quando a chamada "Terceira Via" indicou o deputado Gustavo Fruet como seu candidato.

O movimento da "Terceira Via" inviabilizou o apoio ensaiado pelos caciques tucanos ao candidato do PT, que provocou uma grande reação dentro do partido. Com Fruet no jogo, o PSDB passou a fazer campanha por ele, mais assumidamente o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que faz corpo-a-corpo com parlamentares pedindo votos para o tucano. Também o governador de São Paulo, José Serra, entrou na campanha, de forma mais discreta. A campanha de Fruet avalia que pode atrair votos do PFL e levar seu candidato para o segundo turno. Os pefelistas negam: retirar o apoio a Aldo agora seria o mesmo que desestabilizar sua candidatura e assegurar a eleição de Chinaglia ainda no primeiro turno.

Se depende da unidade do PMDB e do PP para vencer no primeiro turno, o que é possível, mas pouco provável, Chinaglia depende do PSDB para vencer no segundo turno - no primeiro, embora os dois candidatos apostem em defecções tucanas, o PSDB deve seguir com o candidato da "Terceira Via", pois ficaria ruim para imagem do partido trair um de seus militantes.

A história é diferente no que se refere ao segundo turno. Ao formar o megabloco com o PMDB e outros seis partidos, o PT passou a ter o direito de indicar o primeiro vice-presidente da Câmara, cargo antes previsto para o PSDB, pelo critério da proporcionalidade. Em reunião ontem dos líderes, no entanto, o PT abriu mão da indicação em favor dos tucanos. Tanto Aldo Rebelo quanto Arlindo Chinaglia acreditam que terão alguns votos do PSDB no primeiro turno, e a maioria dos tucanos na segunda rodada de votação.

A disputa dos dois aliados de Lula abriu uma crise entre os partidos que integram o núcleo da coalizão de 11 partidos que o apóiam - PT, PSB e PCdoB, que dariam o tom político da aliança O deputado Beto Albuquerque (PSB-RS) protestou contra a formação do megabloco: "O presidente Lula disse que queria um eixo de centro-esquerda em seu governo. Nós levamos isso a sério. O PT não fez eixo de centro-esquerda, mas de centro direita". O ex-ministro Ciro Gomes teme que a disputa entre os dois aliados criem "feridas insuperáveis", pondo em risco a coalizão.