Título: Embraer se prepara para atender pedidos e reparar atrasos
Autor: Gómez, Natalia
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2007, Especial, p. A14

Para cumprir ambiciosas metas de produção para os próximos anos, a Embraer pretende contratar 3,7 mil pessoas até o fim do primeiro semestre. O desafio em 2007 será produzir 170 aeronaves, reparando o atraso na entrega de cinco aviões no ano passado. Em 2008, com o início das vendas dos modelos executivos Phenom 100 e 300, o volume de produção deve atingir 195 a 205 jatos, número superior à previsão inicial de 185 aeronaves.

O apertado cronograma explica a pressa da empresa para engrossar sua equipe. "A seleção já está adiantada", afirma o vice-presidente de desenvolvimento humano da companhia, Júlio Franco. Segundo ele, o número de contratações supera a previsão inicial de 3 mil pessoas porque prevê a operação em três turnos de trabalho pela primeira vez desde 1989. A equipe do novo turno trabalhará de segunda a sábado, num total de 38 horas por semana. Os funcionários antigos manterão suas atividades no primeiro e no segundo turno, com jornada semanal de 43 horas.

Segundo Franco, a parte mais difícil é contratar o pessoal de alto escalão, como os engenheiros, que representam hoje mais de 20% dos funcionários da Embraer. Para compensar a escassez de engenheiros aeronáuticos no mercado, a companhia criou um curso de especialização com duração de 18 meses para "adaptar" engenheiros formados em outras áreas. Em cinco anos de existência, o programa formou 640 engenheiros aeronáuticos. Em 2006, foram 80 alunos formados e a previsão para este ano é chegar a 100 pessoas.

O executivo da Embraer explica que apenas 25% dos seus engenheiros são aeronáuticos. O restante, em sua maioria, são engenheiros mecânicos ou elétricos, encontrados com mais facilidade em todas as partes do país.

No caso dos operários, o processo seletivo começa com três meses de antecedência, tempo necessário para treinar a equipe. A exigência mínima para cargos operacionais é o segundo grau completo. Durante os primeiros trinta dias de treinamento, os funcionários da área operacional passam por um curso teórico. Nos dois meses seguintes, os novos operários vão para a frente de trabalho com a orientação dos mais experientes.

Com receio de perder parte das vagas para os municípios vizinhos, a prefeitura de São José dos Campos está fazendo um levantamento com as escolas locais para fazer parcerias que dêem um diferencial para os joseenses. De acordo com o vice-prefeito e secretário de desenvolvimento econômico Riugi Kojima, um trabalho semelhante está sendo feito com a Petrobras e já deu uma qualificação básica para 500 pessoas, com foco nos temporários. "A meta é chegar a 5 mil nos próximos dois anos", afirma.

O expressivo número de contratações anunciado pela companhia não destoa do histórico da Embraer nos últimos dez anos. Neste perído, a empresa ampliou seu contingente de 4,49 mil para os 19,2 mil funcionários registrados em 2006. O investimento anual da empresa em treinamento é de US$ 20 milhões.

O anúncio da criação do terceiro turno na Embraer deixou em evidência a disputa entre dois sindicatos que dizem representar os trabalhadores da empresa: o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e o SindiAeroespacial. O primeiro, fundado há 50 anos, questiona a validade do novo sindicato, criado em abril de 2004.

O diretor executivo da entidade dos metalúrgicos, Edmir Marcolino da Silva, afirma que os trabalhadores são contrários à decisão, que estendeu a jornada dos trabalhadores do novo turno para os sábados. O pleito do sindicato é reduzir a jornada dos operários para 40 horas semanais.

Segundo ele, assim seria possível fazer três turnos de oito horas sem necessidade de trabalhar aos sábados. O representante do SindiAeroespacial, por sua vez, não se opôs à decisão, alegando que apesar de trabalhar aos sábados, o terceiro turno terá uma carga menor, de 38 horas.

O SindiAeroespacial, ligado à CUT, obteve junto ao Tribunal Regional do Trabalho em Brasília um registro para representar a categoria. O Sindicato dos Metalúrgicos, por sua vez, entrou na Justiça contra a decisão e conseguiu suspender o registro em Gavião Peixoto e Botucatu, onde a Embraer mantém atividades. Em São José dos Campos não houve suspensão.

O secretário geral do SindiAeroespacial, Elias Jorge da Cruz, diz que a entidade foi criada para melhorar a representatividade dos trabalhadores do setor aeroespacial. "No mundo todo o setor é organizado separadamente dos metalúrgicos", afirma, citando como exemplos os funcionários da americana Boeing e da européia Airbus. No entanto, os metalúrgicos contestam a representatividade do novo grupo alegando que ele é composto por pessoas ligadas ao alto escalão da Embraer, segundo o advogado dos metalúrgicos, Aristeu César Pinto Neto.

A Embraer afirmou não reconhecer o sindicato dos Metalúrgicos como representante de seus funcionários e nega que esteja negociando o terceiro turno com a entidade. (NG)