Título: Aí vem o POP
Autor: Cotias, Adriana e Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2007, EU & Investimentos, p. D1

É com cara de aplicação popular, para quem quer comprar ações, mas tem medo de perder dinheiro, que as séries de POP (Proteção do Investimento com Participação) começam a ser negociadas amanhã na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Por trás desses papéis que limitam as perdas com ações se tudo der errado, há uma estrutura complexa, que combina a aquisição da ação com opções de compra e de venda. Achou difícil? Pois foi por isso mesmo que a bolsa empacotou para o pequeno investidor um mecanismo de proteção antes só acessível às tesourarias de grandes bancos e gestores.

Foi no sucesso do Papéis Índice Brasil Bovespa (PIBB) - cotas vendidas pelo BNDESPar em oferta pública e que representam as 50 ações mais líquidas da Bovespa - e dos fundos de Vale e Petrobras com recursos do FGTS que a Bovespa e a CBLC se debruçaram para estruturar uma aplicação que garantisse parte do capital investido. Em troca, se as ações e o POP escolhido subirem, o aplicador abre mão de uma fatia do ganho obtido numa data pré-determinada.

O POP vem na medida para o investidor que começa a ficar insatisfeito com os rendimentos atrelados a juros, mas tem pouco apetite para embarcar no sobe-e-desce da bolsa. A iniciativa soma-se a outras adotadas pela Bovespa nos últimos anos a fim de popularizar o mercado de capitais brasileiro e trazer o pequeno aplicador para a renda variável. "Foi a solução para uma objeção comum que a pessoa física tinha quando se falava em bolsa e que era uma barreira de entrada", diz o superintendente-geral da Bovespa, Gilberto Mifano.

O POP é composto pelo tripé ação à vista, opção de venda (que é o direito de vender a ação a um determinado preço numa data futura) e opção de compra (o direito de comprar uma ação numa data futura). A opção de venda é o que dá a proteção ao investidor, pois caso o papel caia ele terá o direito de vender a ação por um preço maior. Já na opção de compra ele se compromete a dividir o ganho caso o papel suba com o outro investidor que está financiando a operação. Essa contraparte recebe 20% ou 30% dos ganhos e o comprador do POP os outros 80% ou 70%.

Se, por exemplo, Petrobras PN está sendo negociada a R$ 50, o investidor pode comprar 100 unidades de uma série de POP com vencimento em agosto a R$ 49 (R$ 4,9 mil) e contar com proteção de R$ 45 por ação. Se a ação cair para R$ 30, o investidor exerce a opção de venda e recebe de volta R$ 4,5 mil, limitando o prejuízo a R$ 400.

Mas se o papel subir para R$ 70, o investidor vai ter 80 das suas unidades de POP (80%) valendo R$ 70 cada, ou R$ 5,6 mil no total. As outras 20 cotas valerão R$ 45 cada - referentes à opção de compra que a outra parte vai exercer - e o investidor embolsará R$ 900 em dinheiro. No total, ele levará R$ 6,5 mil entre ações e dinheiro. No vencimento, essa estrutura toda se desmonta e o aplicador tem de decidir se quer vender as ações equivalentes às 80 cotas que se valorizaram e que agora não contam mais com a proteção. Ele também pode se desfazer do POP no meio do caminho, ao preço em que a série estiver sendo negociada.

"É uma forma sutil de o aplicador pagar pela proteção com os resultados futuros do investimento", diz o diretor de controle da CBLC, Francisco Carlos Gomes. "Se a operação não der lucro, ele não paga nada e, se houver ganho, vai pagar a parcela para quem lhe garantiu a proteção do capital." Na contraparte do POP devem figurar os grandes investidores institucionais, que costumam compor as suas carteiras com opções.

Na largada, haverá POP para sete ações - Petrobras PN, Vale do Rio Doce PNA, Bradesco PN, Usiminas PNA, Telemar PN, Itaubanco PN, CSN ON -, além do PIBB. Haverá séries com vencimento em seis e 12 meses e lotes de 100 unidades. Na hora da escolha, a bolsa considerou as ações mais líquidas do pregão e a diversificação setorial, explica o superintendente de operações da Bovespa Ricardo Nogueira. A cada bimestre, outras séries serão criadas.

Para comprar qualquer das séries de POP o investidor não precisa entender de risco, argumenta Carlos Gomes, da CBLC, e a grande vantagem é levar o pacote de ação e opções numa única ordem de compra, o que reduz os custos. Ele argumenta que a Bovespa e a CBLC não estão acostumando mal o investidor novato porque ele está pagando pela proteção. "Seria paternalismo se essa proteção fosse dada graciosamente, mas são os agentes de mercado que transferem o risco entre si." A Bovespa vai investir R$ 2,5 milhões em uma ampla campanha em jornais, revistas, rádio e TV.