Título: Esplanada, lugar fugaz
Autor: Iunes, Ivan
Fonte: Correio Braziliense, 04/12/2010, Política, p. 8

Dos 24 ministros nomeados por Lula na posse de 2003, apenas Celso Amorim deve sobreviver ao troca-troca de gestores

A foto tirada na data da posse de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, com a primeira equipe ministerial é um exemplo de que a maioria dos ministros nomeados no início de cada governo não costumam ter vida longa na Esplanada (veja quadro). Dos 24 nomeados pelo presidente Lula no primeiro mandato, apenas o comandante das Relações Exteriores, Celso Amorim, deve concluir os oito anos do governo na mesma pasta. O chanceler divide o título de longevidade no cargo com Henrique Meirelles, do Banco Central, e Jorge Armando Félix, do Gabinete de Segurança Institucional.

Assim que tomou posse na Presidência da República em janeiro de 2003, Lula posou com uma equipe de 32 auxiliares diretos, entre ministros, secretários com status ministerial e titulares de cargos de destaque na Esplanada. Dessa foto, além de Amorim, Meirelles e Félix, apenas o atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, permaneceu nos oitos anos de governo, embora em cargo distinto. O histórico de mudanças na Esplanada mostra que o petista trocou cada titular em média de três em três anos.

A primeira leva a deixar os postos foi composta por quatro nomes: Benedita da Silva (Assistência Social) saiu depois de se ver envolvida em denúncias de uso de dinheiro público para ir a um evento religioso; Cristovam Buarque (Educação) foi demitido por telefone; Emilia Fernandes (Direitos das Mulheres) e Miro Teixeira (Comunicações) deixaram as pastas por conta de composições políticas; e José Graziano (Segurança Alimentar), por não conseguir fazer deslanchar o programa Fome Zero, então carro-chefe do governo Lula.

Outros três, Tarso Genro (Desenvolvimento Econômico e Social), Ricardo Berzoini (Previdência) e Jaques Wagner (Trabalho) acabaram remanejados para outras pastas. Genro ficou na Esplanada até o início do ano, como titular da Justiça. Wagner passou a cuidar das Relações Institucionais e depois foi concorrer ao governo da Bahia. Berzoini assumiu o Ministério do Trabalho, mas acabou deixando o cargo para exercer mandatos no partido e na Câmara dos Deputados.

Depois da primeira reforma ministerial, a maior diáspora de ministros aconteceu no rastro de escândalos, o maior deles o do mensalão, que provocou a saída, em momentos distintos, do então chefe da Casa Civil, José Dirceu, além de Walfrido dos Mares Guia (Turismo) e de Luiz Gushiken (Comunicação Social). Acusado de quebrar o sigilo bancário de um caseiro, Antônio Palocci (Fazenda) também deixou o cargo.

Da composição inicial do ministério Lula, dois titulares acabaram, nas eleições de outubro, em lados distintos. Escolhida inicialmente para Minas e Energia, Dilma Rousseff foi nomeada para a Casa Civil e deixou o cargo, em março, para participar do pleito. Senadora pelo Acre, Marina ficou no Meio Ambiente até 2008, quando largou a pasta por divergência com Lula e alegando dificuldades para implementar a agenda ambiental.

Mas há heranças A análise da composição do ministério inicial de Lula com o que deve ser montado por Dilma Rousseff mostra que ao menos dois personagens altamente cotados em 2003 seguirão em alta a partir do ano que vem. Escolhidos para a área econômica do governo Lula, Guido Mantega (Planejamento) e Antônio Palocci (Fazenda) tiveram trajetórias distintas, mas ambos constarão da foto inicial de Dilma no Palácio do Planalto.

Então assessor econômico de Lula, Mantega ainda ocupou a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) até ser nomeado para a Fazenda, pasta para a qual será mantido por Dilma. Depois de cair na esteira das denúncias de que teria quebrado o sigilo bancário de um caseiro, Palocci reconstruiu a carreira política. Venceu eleição para deputado federal e, ao participar da coordenação da campanha presidencial da petista, assumirá a Casa Civil.

Um terceiro ministro escolhido por Lula que pode parar na Esplanada dos Ministérios a partir de janeiro é o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE). Inicialmente titular da Integração Nacional, o socialista ambicionava ocupar a presidência do BNDES ou o Ministério da Saúde. Preterido no banco, também não deve assumir a pasta social, mas mantém o nome como provável ministeriável. (II)

Primeira convocação

Agricultura Roberto Rodrigues (1º de janeiro de 2003 a 3 de julho de 2006): 1.280 dias

Assistência Social Benedita da Silva (1º de janeiro de 2003 a 23 de janeiro de 2004) 387 dias

Casa Civil José Dirceu (1º de janeiro de 2003 a 21 de junho de 2005): 902 dias

Ciência e Tecnologia Roberto Amaral (1º de janeiro de 2003 a 23 de janeiro de 2004) 903 dias

Comunicações Miro Teixeira (1º de janeiro de 2003 a 23 de janeiro de 2004): 387 dias

Cultura Gilberto Gil (1º de janeiro de 2003 a 30 de julho de 2008): 2.039 dias

Defesa José Viegas Filho (1º de janeiro de 2003 a 4 de novembro de 2004) 673 dias

Desenvolvimento Agrário Miguel Rossetto (1º de janeiro de 2003 a 31 de março de 2006) 1.186 dias

Educação Cristovam Buarque (1º de janeiro de 2003 a 23 de janeiro de 2004): 387 dias

Esporte Agnelo Queiroz (1º de janeiro de 2003 a 31 de março de 2006): 1.186 dias

Fazenda Antônio Palocci (1º de janeiro de 2003 a 27 de março de 2006): 1.182 dias

Integração Nacional Ciro Gomes (1º de janeiro de 2003 a 31 de março de 2006): 1.186 dias

Justiça Márcio Thomaz Bastos (1º de janeiro de 2003 a 16 de março de 2007) 1.536 dias

Meio Ambiente Marina Silva (1º de janeiro de 2003 a 13 de maio de 2008): 1.960 dias

Minas e Energia Dilma Rousseff (1º de janeiro de 2003 a 21 de junho de 2005): 902 dias

Ministério das Cidades Olívio Dutra (1º de janeiro de 2003 a 20 de julho de 2005): 932 dias

Planejamento Guido Mantega (1º de janeiro de 2003 a 18 de novembro de 2004): 687 dias

Previdência Ricardo Berzoini (1º de janeiro de 2003 a 23 de janeiro de 2004) 387 dias

Saúde Humberto Costa (1º de janeiro de 2003 a 8 de julho de 2005) 920 dias

Segurança Alimentar José Graziano Filho (1º de janeiro de 2003 a 23 de janeiro de 2004) 387 dias

Relações Exteriores Celso Amorim (1º de janeiro de 2003 a 31 de dezembro de 2010) 2.923 dias*

Trabalho e Emprego Jaques Wagner (1º de janeiro de 2003 a 23 de janeiro de 2004): 387 dias

Transportes Anderson Adauto (1º de janeiro de 2003 a 15 de março de 2004) 440 dias

Turismo Walfrido dos Mares Guia (1º de janeiro de 2003 a 16 de março de 2007) 1.536 dias

Secom Luiz Gushiken (1º de janeiro de 2003 a 13 de novembro de 2006): 1.412 dias

Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social Tarso Genro (1º de janeiro de 2003 a 23 de janeiro de 2004): 387 dias

Secretaria de Direitos das Mulheres Emília Fernandes (1º de janeiro de 2003 a 23 de janeiro de 2004) 387 dias

Secretaria de Direitos Humanos Nilmário Miranda (1º de janeiro de 2003 a 21 de julho de 2005): 933 dias

Secretaria de Imprensa Ricardo Kotscho (1º de janeiro de 2003 a 6 de novembro de 2004) 675 dias

Corregedoria-Geral da União Waldir Pires (1º de janeiro de 2003 a 31 de março de 2006): 1.186 dias

Gabinete de Segurança Institucional Jorge Armando Félix (1º de janeiro de 2003 a 31 de dezembro de 2010) 2.923 dias*

Banco Central Henrique Meirelles (1º de janeiro de 2003 a 31 de dezembro de 2010) 2.923 dias*

Ministros que devem concluir o mandato com Lula Média: 1.110 dias (3 anos)