Título: CSN perde Corus, mas aumenta seu valor
Autor: Balarin, Raquel e Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 01/02/2007, Empresas, p. B6

Benjamin Steinbruch sonhou por cinco anos com a aquisição da anglo-holandesa Corus. Perdida a oportunidade, a pergunta ontem era o que o empresário fará com a CSN a partir de agora. Não há opções de aquisição compatíveis com o sonho de Steinbruch de subir ao topo do ranking siderúrgico.

Um objetivo, o empresário já conseguiu: aumentou significativamente a visibilidade -e, por tabela, o valor - de sua mina de ferro Casa de Pedra. "Se a Corus vale US$ 13 bilhões, imagine a CSN, que tem a mina", diz um banqueiro de investimento. Há tempos Steinbruch reclamava que o valor das ações da CSN não refletia o potencial de Casa de Pedra. E mesmo antes de fazer a oferta pela Corus, chegou a anunciar que faria a abertura de capital do ativo.

Essa pode ser sua opção agora? Embora alguns profissionais do mercado financeiro considerem que sim, interlocutores do empresário dizem que não vai haver IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ações) e há quem diga que tudo não passou de marketing.

Do ponto de vista estratégico, o IPO não faz sentido porque, na prática, ao abrir o capital de Casa de Pedra, Steinbruch estaria tirando valor da CSN para dividi-lo com os novos minoritários. "Sem levar a Corus, ele já nem precisa do dinheiro", afirma um interlocutor de Benjamin. Além disso, a preferência que a Vale do Rio Doce tem sobre o minério excedente de Casa de Pedra (aquele que não é utilizado pela CSN e suas subsidiárias) dificulta a negociação de contratos de longo prazo.

Passada a fase de "caçadora", a CSN volta à condição de caça dentro da consolidação do setor siderúrgico. A empresa tem baixo custo e produção própria de minério, está capitalizada e provou ter acesso a crédito. Antes de adquirir a Arcelor, no ano passado, a Mittal já havia se aproximado de Steinbruch. Agora, na negociação com a Corus, o empresário brasileiro procurou Lakshmi Mittal para se aconselhar e a possibilidade de se unir à Mittal não é descartada por Steinbruch. Há sinergias importantes entre CSN e Arcelor Brasil.

Um banqueiro de investimentos, porém, diz que, depois da Arcelor, dificilmente a Mittal teria condições de comprar o controle da CSN. A Arcelor Brasil fabrica placas de aço laminadas e o negócio poderia ser dificultado pelos órgãos de defesa da concorrência. "A concentração pode ser um pretexto para dificultar a venda para um estrangeiro", diz o executivo.

Uma das opções seria a alienação do controle a um grupo estrangeiro que não tivesse operações no Brasil. A chinesa Baosteel - que tinha o projeto de uma siderúrgica no Maranhão, em parceria com a Vale, que não foi adiante - é apontada como interessada.

Mas o futuro da CSN também pode passar por grupos nacionais. No início de 2006, Jorge Gerdau e Steinbruch negociaram uma fusão entre a Gerdau e a CSN. A operação não foi adiante porque os dois empresários têm visões estratégicas diferentes. Gerdau, por exemplo, acredita que há uma grande oportunidade de expansão no segmento de aços especiais. Sem a Corus, as conversas podem ser retomadas. Teriam a benção do governo, que vê com bons olhos a consolidação do setor no país e a expansão internacional de grupos locais.

Um amigo de Steinbruch não descarta uma aproximação entre os dois grupos nacionais, mas acredita que dificilmente a solução seria uma fusão, por conta do forte personalismo dos dois empresários. O mais indicado, diz ele, seria a venda do controle da CSN para a Gerdau. Mas Steinbruch estaria disposto a deixar o controle da siderúrgica? "O Benjamin não é um siderúrgico, um homem que nasceu no setor. É um 'tycoon', um investidor financeiro", diz. "Se fosse ele, venderia a CSN para a Baosteel e iria brincar de outra coisa."

Enquanto pensa a estratégia futura de sua empresa, Benjamin não deve perder de vista "tarefas domésticas", especificamente no campo societário. Depois de comprar a participação da família Rabinovich, há quase dois anos, não esconde o plano de assumir as ações de seu tio, Eliezer. Também gostaria de comprar as participações de seus irmãos Ricardo e Elizabeth. Dentro da CSN, também adota a estratégia de recomprar ações no mercado e, com isso, ampliar a participação dos controladores na empresa.