Título: Cidades do país ficam para trás em lista global
Autor: Pedroso, Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 30/11/2012, Brasil, p. A4

As 13 maiores regiões metropolitanas brasileiras não tiveram bom desempenho econômico em comparação com outras metrópoles mundiais entre 2011 e este ano. Essa é uma das conclusões do estudo elaborado pelo Global Cities Initiative - projeto desenvolvido há cinco anos pelo "think tank" americano Brookings Institution e pelo J.P. Morgan Chase -, que será divulgado hoje em São Paulo. Brasília, que aparece como a melhor metrópole brasileira, ficou em 66º lugar entre as 300 maiores do mundo no período.

Para medir o desempenho das regiões, a pesquisa utilizou os dados das variações do Produto Interno Bruto (PIB) per capita e do nível de emprego entre ano passado e este ano, além de comparar dados como migração, educação e população. Em relação ao Brasil, a surpresa do estudo ficou por conta de São Paulo. A maior mancha urbana do país ficou em penúltimo lugar entre as metrópoles brasileiras e em 217º entre as mundiais, aparecendo na frente apenas de Campinas.

Ao classificar a capital paulista, a pesquisa diz que ela "está atualmente em recessão parcial, com declínio do emprego e do PIB per capita e atrás da média brasileira nos dois indicadores." Salvador, Recife e Rio de Janeiro ficaram em segundo, terceiro e quarto lugares, respectivamente, no ranking brasileiro e em 74º, 99º e 100ºº na lista geral.

O ranking nacional ainda inclui Manaus, Fortaleza, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Baixada Santista e Grande Vitória. As 13 regiões brasileiras examinadas no relatório concentram um terço da população do país, 56% do (PIB) e 77% do volume de investimentos estrangeiros diretos.

Por outro lado, os asiáticos dominaram o topo da lista. Macau teve o melhor desempenho econômico. A China, que possui mais de 40 regiões metropolitanas na lista, emplacou todas entre as cem melhores. Nova Déli e Mumbai também ficaram no pelotão de frente. Nas Américas, Cidade do México foi a melhor qualificada. A Europa apresentou os piores indicadores.

Pelo peso que possuem, as metrópoles ditam o rumo e as tendências das economias dos países, diz Bruce Katz, diretor do Brookings. As 300 regiões do mundo mapeadas pela pesquisa concentravam 19% da população mundial e 48% do PIB mundial no ano passado. A competição e a trocas entre elas estão se tornando mais frequentes, por isso a necessidade de planejamento de longo prazo.

"Não existe uma economia -americana ou brasileira, e sim uma interligação entre metrópoles. Para que tenham sucesso, são necessários três fatores: infraestrutura, educação e inovação", afirma Katz.

Prefeito da cidade americana de Chicago por duas décadas, Richard Daley vê uma tendência de crescimento da força política dessas cidades, em função do peso econômico, com os governos centrais prestando mais atenção a problemas locais. "Às vezes, os governos não gostam desse movimento, mas é algo inexorável. As cidades que não tiverem bom desempenho vão afetar o resultado do país e isso vai fazer os governos colaborarem", diz.

Empresários, representantes do governo dos EUA e de universidades americanas - entre elas, Columbus, Chicago, Portland e Buffalo - estão em São Paulo para participar de um ciclo de palestras para discutir como aumentar as relações entre as metrópoles. A universidade de Columbus, por exemplo, quer promover o intercâmbio de estudantes com faculdades paulistanas. Ano que vem está prevista mais uma rodada de debates, dessa vez em metrópoles americanas e na Cidade do México.

"Queremos melhorar a relação entre os diferentes agentes das metrópoles americanas e brasileiras", afirma Daley, destacando as relações econômicas de São Paulo com Houston e Miami.

No entanto, a região metropolitana de São Paulo não aparece mal colocada apenas nos últimos dois anos. Entre 2007 e 2011, a região ficou em 78º no ranking global, com redução de 2,8% no PIB per capita e aumento de 0,6% no nível de emprego. No período mais longo, entre 1993 e 2007, a região cai mais: aparece em 175º lugar, com crescimento de 1,2% no PIB per capita e 1,8% no emprego.

Para São Paulo melhorar esses indicadores seria necessário solucionar problemas como o trânsito e o aumento da violência, diz Katz, do Brookings. "O investimento estrangeiro não diferencia a periferia do centro. O que se ouve hoje é: aumentou a violência em São Paulo. Esse tipo de situação também cria o custo adicional da segurança privada, porque se começa a usar esse tipo de expediente para poder operar. O trânsito precisa não só de infraestrutura melhor, mas, principalmente, de planejamento urbano eficiente", afirma Katz.

A solução desses problemas e um planejamento eficiente passam por um prefeito que concilie os interesses de diversos grupos, segundo Daley. "O talento cresce onde há oportunidades. Os maiores talentos vão se mudar de lugares onde a educação é deficitária, por exemplo. Uma cidade precisa oferecer qualidade de vida aos cidadãos", afirma.

A região metropolitana do Rio de Janeiro, por exemplo, que concentra 74% do PIB do Estado, tem na mineração a atividade com maior peso. O aumento de investimentos em infraestrutura, em função dos eventos esportivos, e a perspectiva de exploração do pré-sal ajudaram na dinâmica recente da metrópole. Entre 2007 e 2011, o PIB per capita encolheu 2,9% e o emprego cresceu 0,2%. Entre 2011 e este ano, esses indicadores registraram alta de 1% e 2,2%, respectivamente.

Para Katz, como as regiões possuem dinâmicas próprias, elas precisam estudar soluções adotadas outras metrópoles, que apresentem complementaridades. "Os prefeitos que não saírem para o mundo ficarão isolados no século XXI e suas cidades vão encolher. "Dizem que esse é o século da China, o século do Brasil. Esse será o século urbano", afirma.