Título: Presidente do Equador apóia estímulo ao etanol
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2007, Brasil, p. A2

Apontado como um dos chefes de Estado sul-americanos sob influência do presidente venezuelano, Hugo Chávez, o presidente do Equador, Rafael Correa, firmou ontem 15 memorandos de entendimento com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e alinhou-se na defesa do incentivo ao etanol como combustível.

Correa defendeu a criação do Banco do Sul, proposta de Chávez, mas, ao contrário do venezuelano, disse que a nova instituição não deveria atuar financiando o desenvolvimento. Acertou com o presidente brasileiro uma reunião de ministros da Fazenda dos países sul-americanos para discutir o futuro banco - Chávez quer firmar o convênio constitutivo da nova instituição durante a cúpula de presidentes para energia, na Venezuela, em duas semanas. "Estamos prontos para um lauto jantar, com muitos talheres, não para um fast food", comentou o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, numa crítica à pressa do venezuelano para formação do novo banco.

Correa agradeceu a Lula pela intervenção no encontro com o presidente americano, George Bush, pela extensão dos programas de redução de tarifa de exportação (ATPDEA) aos países andinos, que se encerram neste ano. "Foi muito importante e digno do presidente Lula, que não tem nada a ver com o ATPDEA", comentou Correa, animado com a promessa de Bush de se empenhar pelo assunto no Congresso americano.

A principal decisão dos presidentes foi o memorando, assinado pela Petrobras e pela estatal equatoriana PetroEcuador, para exploração conjunta de campo petrolífero de ITT, na Amazônia Equatoriana. O campo, com cerca de 190 mil hectares, tem cinco jazidas identificadas e sua exploração deve ser disputada pela petrobrás com a estatal chilena Enap e a SIC, ligada à chinesa Sinopec. Lula disse que a estatal estaria disposta a investir até US$ 1 bilhão no negócio.

O campo está dentro de uma reserva natural, o Parque Nacional de Yasuni, o que provoca protestos de ecologistas. Correa disse que só poderia evitar a exploração se a comunidade internacional se dispuser a compensar o país com metade do valor estimado de produção da reserva, cerca de US$ 700 milhões anuais. "A alternativa para o campo de ITT é uma exploração com redução dos impactos ambientais."

A ecologia, para equatoriano também justifica a campanha do etanol. "Não podemos seguir dependentes do petróleo; o etanol é muito mais amigável ao meio ambiente", argumentou, contestando as acusações de Chávez contra os efeitos danosos ao ambiente da cultura de cana. Lula prometeu a Correa também o apoio brasileiro às obras para a ligação Manta-Manaus, que deverá ampliar as conexões de rodovias e hidrovias existentes entre a capital do Amazonas e o porto equatoriano de Manta, próximo a grandes rotas marítimas de ligação com Ásia. Os equatorianos estimam que são necessários investimentos entre US$ 500 milhões a US$ 800 milhões, e querem apoio do BNDES.

Lula aproveitou para dar solidariedade a Correa na crise política provocada pela destituição de 57 parlamentares contrários à instalação da Assembléia Constituinte. "Desejo toda sorte do mundo nas transformações que está realizando em benefício do povo equatoriano", declarou Lula. (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)