Título: Câmbio afeta produção da indústria de bens de consumo
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2007, Brasil, p. A4

A produção da indústria brasileira cresceu 0,3% em fevereiro na comparação com janeiro e 3% em relação ao mesmo mês do ano passado. No acumulado do bimestre, avançou 3,8%, e na taxa de 12 meses, 2,8%. Os dados da Pesquisa Industrial Mensal (PIM-PF) foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na avaliação do coordenador da área de indústria da instituição, Sílvio Sales, o resultado de fevereiro consolida um quadro de estabilidade nos últimos quatro meses para a média da indústria, onde as variações com ajuste sazonal têm oscilado perto de zero.

Ele destacou que a exceção à regra vem sendo dada pela atividade de bens de capital. Em fevereiro, a produção de máquinas e equipamentos aumentou 14,3% em relação ao mesmo período de 2006. No bimestre, a alta é de 16%. Para Sales, o dinamismo dos bens de capital sinaliza a manutenção da capacidade de produção do parque industrial brasileiro, apesar da influência negativa do câmbio sobre alguns ramos ligados aos bens de consumo, como apurou a pesquisa.

Em fevereiro, a produção de bens duráveis caiu 2,9% em relação a igual mês do ano passado. Esse fraco desempenho pode ser atribuído ao real apreciado, já que a taxa negativa registrada na comparação com fevereiro do ano passado ocorreu por pressão de reduções nas produções de automóveis (menos 5,8%), celulares (menos 7,2%) e eletrodomésticos da linha marrom (menos 26,9%). Neste último item, a queda foi influenciada pela base de comparação do ano passado, que era muito alta em função da preparação para a Copa do Mundo.

O declínio da produção de celulares foi influenciado por redução nas exportações do produto e preocupa o setor, porque a desvalorização cambial está tirando a competitividade do celular "made in Brazil".

Aluízio Byrro, principal executivo para a América Latina da Nokia Siemens, disse que os dados da Abinee do bimestre mostram uma redução nas exportações de celulares. "O câmbio é um dos fatores que influenciam esta queda", afirmou. Ele alertou que a indústria de telecomunicações instalada no Brasil vem perdendo a competitividade para exportar.

A penetração dos importados aumentou bastante no bimestre entre os bens duráveis. O volume importado desses produtos cresceu 43,9%, ante uma expansão de 0,7% da produção doméstica.

A indústria automobilística, no período, teve queda de 12,8% nas exportações, aumento de 6,1% nas vendas internas, redução de 2,5% na produção doméstica e expansão de 325,8% nas importações de veículos. Este percentual sofreu influência de uma base muito baixa de comparação, mas está avançando, disse Sales, do IBGE. No ano passado, houve aumento de 89,1% nos licenciamentos de importados. Os dados são da Anfavea, entidade que representa os fabricantes de veículos. Em 2006, o licenciamento de vendas nacionais e mais importação de veículos cresceu 13,7%. No primeiro bimestre deste ano, 14,8%.

Os dados do IBGE revelam ainda que os semiduráveis - calçados e vestuário - estão perdendo mercado interno, pela concorrência dos importados, e também vendas externas. No bimestre, a importação (em volume) de calçados e vestuário cresceu 18,9% e a produção doméstica, 1,7%. No período, o setor calçadista isoladamente já acumula uma queda de produção de 10,4% e, o setor de vestuário apresenta taxa negativa de 4,1%.

Sales concorda que as importações também são fortes no segmento de bens de capital. No primeiro bimestre deste ano, as compras externas de máquinas e equipamentos cresceram em volume 31%. Neste caso, a influência da absorção doméstica desses bens é benigna, pois aumenta a produtividade da indústria e favorece os investimentos, conclui o coordenador do IBGE. (Colaboraram Heloisa Magalhães, do Rio, e Ana Paula Grabois, do Valor Online)