Título: Militares não aceitam comando civil, reconhece Lula
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2007, Política, p. A12

Em jantar com senadores do PT, na terça-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu que as Forças Armadas não aceitam ser comandadas por um civil, no cargo de ministro da Defesa. Segundo Lula, a insatisfação dos militares vem desde que as três forças perderam o status de ministério e se tornaram subordinadas ao Ministério da Defesa, criado no governo Fernando Henrique Cardoso.

Para confirmar seu diagnóstico, o presidente lembrou que os ministros que antecederam ao atual, Waldir Pires, também enfrentaram crises. Por isso, na sua avaliação, o problema atual não pode ser personalizado. Disse que o Ministério da Defesa precisa de uma reestruturação, de um aprimoramento.

Lula afirmou aos senadores que pretende convocar o Conselho de Defesa Nacional nos próximos dias para discutir um programa de investimentos para as Forças Armadas - que já está sendo apelidado como PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do setor. O presidente planeja comprar e modernizar equipamentos e valorizar as carreiras militares.

Órgão consultivo do presidente da República "nos assuntos relacionados com a soberania nacional e a defesa do estado democrático" (lei número 8.183, de 91), o conselho é formado pelo vice-presidente da República, pelos presidentes da Câmara e do Senado e pelos ministros da Justiça, das Relações Exteriores, da Fazenda e dos comandantes da Aeronáutica, Exército e da Marinha.

Segundo Lula, uma solução definitiva para a crise aérea instalada no país passa, necessariamente, pelo fortalecimento da Aeronáutica, com aquisição de helicópteros e equipamentos para os aeroportos e capacitação de pessoal. O presidente mostrou concordar com a desmilitarização do comando do tráfego aéreo, mas não com "uma canetada só".

Em jantar com a bancada do PT do Senado, na terça-feira, o presidente defendeu a "reestruturação" do Ministério da Defesa, mas procurou ser cuidadoso ao falar do ministro da pasta, Waldir Pires. Lula lembrou os 78 anos de idade do ministro e seus "serviços prestados ao país", numa espécie de justificativa por mantê-lo no cargo.

O presidente deixou claro que faz parte da conclusão da reforma ministerial encontrar uma alternativa para o Ministério da Defesa. Alguns senadores entenderam como sinalização de que os dias de Pires estão contados no cargo. Para outros, o presidente quis enfatizar que trocar de nome não resolve o problema.

O encontro dos senadores petistas com Lula era uma reivindicação antiga da bancada. Desde seu primeiro mandato, o presidente teve apenas uma reunião com os senadores do seu partido, num jantar na casa do então líder do governo, Aloizio Mercadante (PT-SP), em dezembro de 2004. O jantar dessa terça foi na casa de Eduardo Suplicy (PT-SP).

Lula ouviu da bancada uma série de queixas represadas. "Chutei o balde", relatou o próprio Mercadante. O ex-líder disse que falta atenção, informação e articulação do governo com a bancada. Afirmou que, muitas vezes, os senadores nem sabem o que estão votando, por falta de orientação do governo.

Diante do ministro Tarso Genro (Justiça), do PT, Mercadante reclamou do período em que ele era ministro das Relações Institucionais. "Ele nunca fez uma única reunião com a bancada", disse Mercadante a Lula.

Outros senadores somaram queixas pessoais. Paulo Paim (RS) mostrou desagrado com o fato de o presidente ter feito uma viagem a Canoas, em seu estado, sem chamá-lo para acompanhar. Serys Slhessarenko (MT) reclamou que ministros petistas visitam seu estado sem informá-la.

Lula, por sua vez, também fez duras cobranças aos senadores petistas. Disse que discursos agressivos da oposição contra seu governo, na tribuna do Senado, ficam sem defesa. Chegou a afirmar que apenas "dois ou três" defendem as ações do Executivo, mas sem consistência. Quando alguns senadores retrucaram que, na maioria das vezes, não dispõem de elementos para reagir aos ataques da oposição, Ao que Lula teria respondido: "Defendam por princípio, por companheirismo. Depois vão e busquem informação".