Título: ONU faz novo alerta sobre aquecimento
Autor: Chiaretti, Daniela
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2007, Brasil, p. A6

Nesta Sexta-feira Santa, o mundo vai saber o quanto pode sofrer nas próximas décadas. Às 10h da manhã em Bruxelas, 15h em Brasília, será divulgado um documento de 20 páginas, acertado palavra a palavra por representantes de 160 países, para que os responsáveis pelas políticas públicas entendam quais os impactos do aquecimento global. É o resumo dos trabalhos do segundo grupo do IPCC, a sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, órgão da ONU que reúne mais de mil cientistas do mundo todo.

As notícias, já se presume, não são de deixar ninguém saltitante. O que já vazou dá conta da perda geral de biodiversidade, da ameaça a recifes de corais, dos mares avançando sobre a costa, das perdas agrícolas aqui e ali, degelo no Ártico e na Groenlândia, manguezais em risco, florestas caminhando para savanas e savanas caminhando para desertos em uma perversa reação em cadeia. O IPCC pode apontar que sofrerá a pesca, as populações mais pobres em áreas já difíceis - como o semi-árido nordestino -, o turismo. Há risco de mais incêndios em florestas, mais avalanches, mais inundações. Depois de sexta, novamente o recado estará dado: não se sai ileso do processo.

Desde segunda-feira, cientistas e governos discutem sobre os termos de um documento de 20 folhas que resume um calhamaço científico de 700 páginas. Tentam avançar cinco páginas por dia, mas podem passar uma hora discutindo um parágrafo. Americanos, ingleses, chineses, australianos e russos são os mais combativos, conta um membro do IPCC.

O que sairá dali não é um diagnóstico com os efeitos das mudanças climáticas país a país. Trata-se de uma compilação de pesquisas realizadas no mundo nos últimos quatro anos. Pode ter trechos bem genéricos, apontando, por exemplo, para o que todo mundo já percebeu - como primaveras adiantadas, com árvores florescendo antes e pássaros migrando fora de hora. O problema serão as frases mais contundentes - quando os cientistas do IPCC conferem um mais alto grau de certeza às afirmações. A arquitetura do documento deve seguir um formato regional, explorando a situação por continentes e, possivelmente, por setores - recursos hídricos, saúde, comida. Certamente recomendará o que já vem sendo martelado nos últimos meses - só se sai desta armadilha pela via do desenvolvimento sutentável. (DC)