Título: Dólar fecha a R$ 2,069, quinta alta seguida
Autor: Osse , José Sergio
Fonte: Valor Econômico, 14/11/2012, Finanças, p. C2

A demanda por dólar em meio a um ambiente de fluxo cambial fraco, aumento nas remessas de lucros por empresas estrangeiras e cenário externo ruim sustentaram a quinta alta consecutiva da moeda americana, maior período de avanço desde o fim de junho. Agora, a valorização dos últimos dias alimenta especulações sobre os próximos passos do Banco Central e se realmente a instituição defenderá o "teto" de sua banda cambial.

Ao fechar em alta de 0,88%, a R$ 2,069, maior cotação desde 28 de junho, a moeda superou o limite de R$ 2,05 pelo segundo dia seguido, dispersando previsões que o BC atuaria quando o dólar chegasse a esse preço. A dúvida agora é se haverá alguma atuação caso a moeda chegue a R$ 2,10, patamar superado logo antes da última intervenção da autoridade monetária na ponta vendedora, em 23 de maio.

"O BC deve entrar nos níveis em que entrou anteriormente", disse Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra de Investimento. Segundo ele, haveria uma espécie de margem de erro, de um ou dois centavos para cima e para baixo sobre a cotação de R$ 2,10, dentro da qual é possível esperar uma intervenção do BC. "A partir de um determinado momento, começam a aumentar demais as preocupações com a inflação."

O estrategista sênior de câmbio do Standard Chartered Bank, Mike Moran, também acredita que o BC interviria com a cotação flertando com R$ 2,10 para evitar problemas inflacionários.

"O BC já mostrou em outras ocasiões que esse é o teto. Embora haja vozes que minimizem a questão da inflação, ela está presente e as expectativas acima de 5% não são boas", disse ele.

Para Luciano Rostagno, estrategista-chefe do WestLB, a pressão inflacionária de um dólar mais valorizado tem contraponto nas commodities, o que permitiria um teto mais elevado para a moeda americana. A banda cambial do BC pode ser flexibilizada dependendo do comportamento das commodities no exterior, disse.

"Como as commodities estão num patamar mais baixo, o BC tem mais margem de manobra, o que permite que o real se desvalorize mais sem criar pressões inflacionárias", disse Rostagno. Ainda assim, ele também acha que a atuação do BC virá perto de R$ 2,10, para evitar descontrole no mercado. "O BC tem sinalizado que apesar de ser favorável a um câmbio mais depreciado, está atento a movimentos bruscos e a altas excessivas."

Uma eventual atuação do BC na ponta vendedora, segundo profissionais de mercado, deve realmente ocorrer na forma de uma operação com derivativos. Isso viria pela não rolagem dos quase US$ 3,1 bilhões em swaps cambiais reversos que vencem em dezembro - cujo efeito é o de uma compra de dólar futuro -, ou pela colocação de swaps tradicionais, que serviriam para anular antecipadamente os swaps reversos, pois têm o efeito de uma venda de dólar futuro.

"Os swaps seriam a opção mais viável por enquanto", disse o economista da Tendências Consultoria, Bruno Lavieri. "Não existe, por ora, problema de liquidez que justifique venda no mercado à vista."

As taxas de juros negociadas na BM&F fecharam em alta pela quarta sessão seguida, puxadas por dúvidas sobre a política monetária. Os dois contratos mais negociados foram o de vencimento em janeiro de 2014, que subiu a 7,38% ante 7,36% na véspera, e o DI de janeiro de 2017 que foi a 8,72% de 8,67%. Com as variações, a diferença entre essas duas taxas atingiu 1,34 ponto percentual, maior degrau desde 10 de outubro. Hoje, as atenções se voltam para o Índice de Atividade Econômica do Banco Central de setembro que sai às 8h30. (Colaborou João José de Oliveira)