Título: Em cenário de incertezas, mercado aguarda resultado da Eletrobras
Autor: Polito , Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 14/11/2012, Empresas, p. B6

Em meio ao impasse com relação à renovação das concessões que vencem até 2017, e que podem comer R$ 29,6 bilhões de sua receita, a Eletrobras divulga hoje o resultado do terceiro trimestre de 2012. Conhecida pelo emaranhado de subsidiárias e dezenas de sociedades de propósito específico (SPEs), e vulnerável à variação cambial [a empresa recebe créditos em dólar devidos pelo governo paraguaio para a construção de Itaipu ], a Eletrobras é considerada imprevisível. E seu resultado financeiro, quase sempre, surpreende o mercado.

De acordo com o Banco Santander, nas condições atuais, sem aceitar as regras do governo para renovar as concessões, a Eletrobras fechará o ano com um lucro líquido estimado em R$ 3,922 bilhões. Como a empresa já acumula ganhos de R$ 3,885 bilhões no primeiro semestre, é de se esperar resultados mais fracos nos dois últimos trimestres de 2012.

A projeção do banco está em linha com o valor previsto pelo Conselho Superior da Eletrobras (Consise), órgão formado por todos os presidentes das subsidiárias da estatal, que trabalha com uma estimativa de lucro de R$ 4 bilhões no ano. O próprio órgão, no entanto, acredita que o resultado pode ser revertido em um prejuízo de R$ 11,146 bilhões, devido ao não reconhecimento, no balanço, da diferença entre o valor contábil dos ativos afetados e os valores reconhecidos para fins de indenização, no processo de renovação das concessões.

Os principais bancos de investimento não arriscam um número para o resultado da empresa a ser conhecido hoje, após o fechamento do pregão da BM&FBovespa. "O mercado presta pouca atenção nisso para ela, pois os números são muito confusos", disse um analista de um grande banco consultado pelo Valor.

"Não tenho muita expectativa positiva. Pelo que tenho visto nos últimos trimestres, há muito descaso com o acionista minoritário e pouca transparência nas informações", afirmou Ricardo Corrêa, analista para o setor elétrico da Ativa Corretora. "Todo tipo de informação que tem chegado mostra que o horizonte é muito ruim", completou.

Apesar do cenário incerto, conta a favor da empresa o progresso nos indicadores de eficiência. Em julho, a relação entre custos de pessoal, material e serviço (PMS) sobre a receita operacional líquida (ROL) da companhia foi de 24,5%. O indicador foi 2,7 pontos percentuais inferior ao registrado no primeiro semestre de 2011.

No terceiro trimestre do ano passado, a Eletrobras reportou lucro líquido de R$ 1,564 bilhão. No segundo trimestre deste ano, a estatal lucrou 2,617 bilhões e, de janeiro a março de 2012, o lucro foi de R$ 1,268 bilhão. A última vez que a companhia registrou prejuízo foi no segundo trimestre de 2009, quando teve perdas de R$ 2,201 bilhões.

Os balanços da Eletrobras, porém, nem sempre inspiram confiança por parte dos investidores. No primeiro trimestre de 2010, por exemplo, a estatal reportou os resultados sem as informações de Furnas, uma de suas principais controladas. Isso porque a subsidiária não tinha fechado seus números dentro do prazo. Os últimos balanços trimestrais da companhia têm sido divulgados sem os dados da Eletrobras Distribuição Acre (ex-Eletroacre) pelo mesmo motivo.

Em outra ocasião, a Price waterhouseCoopers (PwC), responsável pela auditoria independente da empresa, questionou o controle interno da companhia sobre a sua contabilidade.

A Eletrobras planejava investir R$ 13 bilhões neste ano, mas deve encerrar 2012 com um número menor que o esperado. A companhia também pretende manter o nível de investimentos, entre R$ 10 bilhões e R$ 12 bilhões, por ano, qualquer que seja a decisão com relação à renovação das concessões de energia elétrica proposta pelo governo.

Ontem, as ações PNB da Eletrobras fecharam o pregão da BM&FBovespa com alta de 1,54%, a R$ 13,81. No ano, os papéis acumulam perda de 44,01% O valor de mercado da companhia hoje é de R$ 14,4 bilhões.