Título: IBM financia mais de US$ 400 milhões a clientes no Brasil
Autor: Rosa, João Luiz
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2007, Empresas, p. B3

O americano John Callies lembra, na aparência, uma versão mais jovem de outro John: o ex-primeiro-ministro britânico John Major. Na conversa, ele também revela a habilidade diplomática que se esperaria de um chanceler. Diz, por exemplo, que não é muito diferente de nenhum outro executivo da IBM, embora ocupe uma posição única na "Big Blue" - a de principal executivo na área de financiamento. Nesse papel, Callies dirige uma organização, a IBM Global Financing (IGF), com US$ 34 bilhões em ativos e 125 mil clientes. O trabalho exige conhecer bem os produtos da IBM, mas boa parte de suas atribuições parece mais apropriada a um banqueiro: em vez de bits e bytes, ele tem de se preocupar como as taxas de juro e a volatilidade dos mercados financeiros ao redor do mundo.

Para conferir essas variáveis nos 40 países em que a divisão atua, Callies passa duas semanas por mês em viagens internacionais. "É a única maneira de saber o que está acontecendo em cada mercado e conhecer de perto as necessidades dos clientes", afirma o executivo, que está na IBM há três décadas. A abordagem varia de acordo com o país. "Em alguns temos bancos que funcionam como subsidiárias, em outros, não".

O Brasil está na primeira categoria. No ano passado, o Banco IBM, criado em 2004, registrou US$ 424 milhões em volume financiado no país, um aumento de 31,7% frente ao montante de US$ 322 milhões de 2005. O crescimento superou o do primeiro ano de operação do banco, da ordem de 29%.

A evolução não deixa de ser um reflexo do papel crescente que os negócios da IBM no Brasil tem assumido em relação ao desempenho global da empresa. No relatório do ano fiscal 2006, as vendas no Brasil aparecem com destaque e apresentam um salto de 19% sobre 2005, superior aos 16% da China. Segundo o relatório, a previsão é de que nos próximos quatro anos os mercados de tecnologia da informação do chamado Bric - o bloco que reúne Brasil, China, Índia e Rússia - crescerão mais de duas vezes a média mundial, criando uma oportunidade de negócio de mais de US$ 150 bilhões até o ano de 2010.

Na comparação com seus companheiros de Bric, Callies diz que o Brasil apresenta vantagens como um mercado financeiro mais confiável e maduro, principalmente em relação à China e à Rússia. Isso não quer dizer, porém, que as condições no país sejam perfeitas.

Numa pesquisa recente feita com 750 executivos de companhias em vários países, a IBM detectou que um dos principais fatores que inibem a inovação é a falta de recursos para investir e não a disposição de fazê-lo. As pequenas e médias empresas estão especialmente interessadas em obter acesso às novas tecnologias, diz Callies, o que levou a IBM a criar um sistema on-line e automatizado de crédito rápido. Em uma hora, afirma o executivo, é possível obter crédito. O sistema está disponível em 15 países e o limite fixado nos Estados Unidos é de US$ 300 mil.

No Brasil, o crédito previsto irá até US$ 200 mil, mas o sistema ainda não está disponível no país. A restrição, explica Joel Formiga, diretor superintendente do Banco IBM, é a falta de informações das empresas para a concessão de empréstimos. Nos EUA, agências de informação de crédito como Fitch e Dun & Bradstreet têm disponíveis, on-line, grandes bases de dados apoiadas nos balanços das empresas, um elemento essencial para reduzir os riscos de um sistema de financiamento automatizado. Já no Brasil, os dados são mais raros e parte das bases disponíveis não está on-line. "Assim que tivermos isso, traremos o serviço para o Brasil", afirma Formiga.

A IBM concede financiamento tanto a empresas usuárias como a parceiros de negócios, incluindo distribuidores de máquinas e software e integradores de tecnologia. No ano passado, um dos maiores acordos brasileiros foi um contrato de US$ 95 milhões, acertado com um cliente - a Embratel.

Ao contrário do que possa parecer, no entanto, a IGF não é vista apenas como uma maneira de estimular as vendas de produtos e serviços da IBM. Como as outras atividades da companhia, a organização dirigida por Callies tem concorrentes diretos - os bancos comerciais e os braços de financiamento de competidores como Hewlett-Packard (HP) e Dell - e tem como objetivo dar lucro. No ano passado, a divisão respondeu por um faturamento de quase US$ 2,4 bilhões em meio a uma receita total de US$ 91,4 bilhões.

No Brasil, além do Banco IBM, as atividades da IGF são reforçadas por um centro de serviços instalado no Rio de Janeiro. É o único do gênero criado pela companhia na América Latina e um dos cinco existentes no mundo. Os demais estão nos Estados Unidos (Atlanta), na Hungria (Budapeste), na Malásia (Kuala Lumpur) e no Japão (Okinawa).

Estabelecido em 2002, o centro do Rio emprega 500 pessoas e atende a empresas dos EUA e do Canadá no segmento administrativo, e da América Latina em áreas como crédito, preços, finanças e contabilidade. A previsão, diz Callies, é de que novas funções serão acrescentadas, com a ampliação do centro. "Nos próximos dois anos, a equipe no Rio deve aumentar", afirma. O fator limitador, adverte o executivo, pode ser a disponibilidade de pessoal.