Título: Terra agrícola atrai capital externo
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 05/04/2007, Agronegócios, p. B14

A aquisição de terras agrícolas no Brasil e em outros emergentes entrou no radar de grandes grupos financeiros de países ricos, que buscam no campo rendimentos atrativos no médio prazo.

É o caso do Calpers, poderoso fundo de pensão de funcionários públicos da Califórnia, que informou que já investiu US$ 140 milhões na compra de 22.980 hectares no Brasil e outros 16.196 hectares na Austrália.

A Pergam Finance, companhia de investimento sediada em Paris com US$ 1 bilhão em ativos, é outra que já lançou um fundo para investir em terras no Uruguai e na Argentina e agora examina a possibilidade de aquisições no Brasil.

E o fundo suíço Gaia Ressources, com US$ 350 milhões em ativos, busca aquisição direta também no Brasil e em países como Rússia e Ucrânia, diante da raridade de empresas cotadas em bolsa ou de fundos de investimentos no setor.

"O planeta financeiro redescobriu as terras agrícolas", repete Olivier de la Salle, analista do BNP Paribas, em Paris. Motivam os gestores de fortuna a perspectiva de que a melhora do nível de vida nos países emergentes, incluindo a China, vai acelerar o consumo de alimentos, ignorando excedentes agrícolas ou preços deprimidos.

Segundo Brian Webb, diretor da UBS AgriVest, no Texas, o rendimento histórico das terras nos Estados Unidos supera a inflação do país em mais de 5%. "As terras agrícolas nos EUA deram retorno positivo em 34 dos últimos 37 anos".

E a procura por biocombustivel elevou esse retorno, sobretudo nos EUA. A demanda de milho para etanol ampliou a perspectiva de plantio do grão, encarecendo os terrenos. Segundo a agência Bloomberg, a alta média do preço de terras chegou a 15% no ano passado. "Neste momento" o UBS AgriVest investe só nos EUA, diz Webb.

Debora Rockabrand, da Pergam Finance, acena com retorno de 15% ao ano, "em uma base conservadora", em cerca de três anos, para quem aplicar a partir de US$ 1 milhão no fundo Campos Orientales. Esse fundo foi lançado em 2006 e já captou US$ 65 milhões. O objetivo é comprar fazendas mal administradas no Uruguai e na Argentina, investir na modernização das propriedades e depois explorá-las.

"Começamos por esses países porque temos uma parceria com a Bellamar Estancias e porque o hectare é bem barato", afirma ela. Nos EUA, diz, o preço médio é de US$ 4 mil por hectare, enquanto na Argentina o valor chega a ser 70% inferior. A parceria já administra 120 mil hectares. Na medida em que captar mais dinheiro, examinará compras no Brasil.

Simon Lovat, do Gaia Ressources, nota que Rússia e Ucrânia também estão atraindo investidores privados porque o hectare da melhor terra não passa de US$ 400.

A Calpers, fundo com mais de US$ 230 bilhões em ativos, continua interessada no Brasil. O grupo já investiu nos Estados do Paraná e de Santa Catarina. Dos 22 mil hectares que comprou, 13.888 hectares são plantação de pinheiros. Além disso, a Calpers mantém parceria com a Hines Brazil para investir no desenvolvimento e na renovação de prédios industriais e escritórios para venda, em São Paulo e Rio de Janeiro. O fundo informou que se comprometeu com US$ 100 milhões nessa parceria.

O interesse por terras em países emergentes aumenta num cenário em que também a Europa ocidental sofre com salgados custos de produção, preços elevados dos hectares e subsídios em queda. Mas, de acordo com Olivier de la Salle, do BNP Paribas, pelo menos na França haverá mais investimentos em áreas florestais, uma vez que eles oferecem abatimento fiscal.