Título: Indústria vende mais em janeiro, mas prevê crescer menos em 2005
Autor: Patrick Cruz, Paulo Emílio, Sérgio Bueno, Ivana
Fonte: Valor Econômico, 07/01/2005, Brasil, p. A4

O ano de 2005 já começou na indústria. Muitos setores e empresas viraram o ano trabalhando. Outras, já reduziram o ritmo, mas poucas empresas estão paradas. Todas, contudo, já traçaram os planos para 2005: janeiro será mais forte que igual mês do ano passado enquanto na média do ano o crescimento será menor do que o de 2004. Mas será o segundo ano consecutivo de aumento de produção e vendas e as empresas pretendem crescer acima do crescimento total da economia, estimado entre 3,5% e 4,0%. Há segmentos muito aquecidos neste início de 2005. No ano passado, a produção de resinas aproximou-se de três milhões de toneladas, com aumento de 14% sobre 2003, e a expectativa da indústria do plástico é de que o crescimento em 2005 fique entre 7% e 9%, segundo o presidente da Polibrasil, José Ricardo Roriz Coelho, que também dirige o Sindicato das Indústrias de Resinas Sintéticas no Estado de São Paulo (Siresp). Consumidores de plástico, que tradicionalmente reduzem sua produção no final do ano, como a indústria automobilística e a de eletrodomésticos da linha branca, trabalharam com carga extra no fim de 2004, o que esvaziou os estoques dos produtores de resina. Segundo Coelho, a indústria costuma trabalhar com estoques para 40 a 45 dias de vendas, número que está pela metade em janeiro. "Sazonalmente, a indústria de plástico tem queda em janeiro e fevereiro, mas comparando com o ano passado, que já foi muito bom, vamos ter um 2005 forte", diz ele. Roberto Souza, diretor operacional da Bahia Pet, acredita ainda ser cedo para avaliar se as encomendas vão se manter fortes como no ano passado, mas diz que o momento é de consumo aquecido. A empresa, que produz pré-formas de garrafas de pet, utilizadas pelas indústrias de refrigerantes e água mineral, pretende ampliar a capacidade das duas unidades que mantém na Bahia - ambas já operam com capacidade máxima. Outro sinal forte do janeiro mais aquecido é a movimentação de cargas. Segundo Manoel Leite, diretor operacional do Rapidão Cometa, uma das maiores transportadoras do País, neste mês de janeiro a empresa deve movimentar cerca de 38,2 mil toneladas de cargas, um volume cerca de 22% maior que no mesmo mês do ano passado. "Boa parte das cargas que transportamos possuem alto valor agregado. Esta movimentação acima do mesmo período do ano passado aponta que o varejo já está reiniciando seu suprimento sem esperar pelo período pós-carnaval, época tradicional em que se verifica esta retomada", avalia. No setor de perfumes e cosméticos, as indústrias estão comemorando o crescimento nas vendas de Natal e as encomendas para reposição de estoque neste mês de janeiro. Na Água de Cheiro, o balanço das vendas superou a previsão de um aumento de 12% no Natal de 2004 em relação ao mesmo período de 2003. "Crescemos 16% em relação ao mesmo período do ano passado", contou o gerente de marketing da indústria mineira, Gustavo Jabrazi. O aumento das vendas, de acordo com Jabrazi, foi resultado da estratégia de focar em produtos com boa relação custo-benefício, como os estojos. "A rede de franqueados está eufórica e isto é um ótimo indício para este primeiro semestre", afirmou Jabrazi. Segundo eles, as encomendas dos franqueados para a indústria já estão 10% maiores neste início de janeiro em relação ao mesmo período de 2004, refletindo a necessidade de reposição dos estoques. Empresas gaúchas de autopeças, transportes e móveis esperam a manutenção de bons níveis de crescimento em 2005, mas menores do que os de 2004. O volume de encomendas é um dos motivos para o otimismo, pois algumas carteiras de pedidos estão até duas vezes maiores que na mesma época de 2004. Na Hyva, líder na fabricação de cilindros hidráulicos para implementos rodoviários e veículos comerciais, o faturamento deve crescer 17% este ano (foram 51% em 2004), para R$ 54 milhões, adianta o diretor Rogério De Antoni. Segundo ele, a empresa, que opera em Caxias do Sul (RS), já tem, em carteira, pedidos até a segunda quinzena de março. O normal para a época é um mês de encomendas. Apesar da largada mais acelerada, a curva de crescimento em 2005 não deve dar um salto como deu ao longo do ano passado. Segundo De Antoni, a expansão das vendas da Hyva no mercado interno no período deve alcançar 20%, ante 60% em 2004. A projeção de desempenho da Hyva segue na mesma linha do grupo Randon, também de Caxias do Sul e um de seus principais clientes. Conforme o diretor de relações com investidores, Astor Schmitt, em algumas linhas, os pedidos já chegam a quatro meses de produção, duas vezes superior à média histórica neste período do ano. O conglomerado produz de autopeças a implementos rodoviários e caminhões fora-de-estrada O fenômeno se repete na Marcopolo, maior fabricante de carrocerias de ônibus do país. A empresa está com 100% da capacidade de produção encomendada até março, suspendeu as férias coletivas de duas semanas que tradicionalmente concedia aos funcionários a partir de 23 de dezembro e estima uma receita líquida consolidada de R$ 1,74 bilhão em 2005, cerca de 17% acima de 2004. A principal incógnita para a maioria das empresas é quanto à cotação do dólar, por a desvalorização da moeda americana no fim de 2004 afetou a rentabilidade das exportações. O setor moveleiro gaúcho fechou 2004 com exportações próximas a US$ 290 milhões, segundo o presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Rio Grande do Sul (Movergs), Ivanor Scotton. Segundo ele, não é possível prever o valor dos embarques em 2005, pois a valorização do real pode tirar competitividade dos produtos brasileiros diante de concorrentes como a China. Em 2004, o mercado interno avançou cerca de 12%, para R$ 2,33 bilhões, e em 2005 as vendas domésticas devem subir mais 5%, prevê o empresário. Na Todeschini, fabricante de móveis modulares em Bento Gonçalves (RS), as vendas devem crescer de 10% a 12% este ano depois dos 18% de 2004, prevê o diretor comercial Rogério Francio. A empresa obtém apenas 3% de suas receitas com exportações, mas pretende elevar este patamar para 10% a 15% até 2010. No Paraná, o ano começou animado na Positivo Informática, que fabrica softwares educacionais e microcomputadores. Desde 2004, a empresa passou a fornecer para grandes redes de varejo do país e a produção de microcomputadores subiu de 2,4 mil em novembro de 2003 para 18 mil em novembro de 2004. A metade foi para o varejo. "Estamos no nosso melhor momento", afirmou o diretor da empresa, Hélio Rotenberg. Segundo ele, no final de dezembro as lojas começaram a ficar sem estoque e tiveram de fazer encomendas para atender a volta às aulas, período em que as vendas dos produtos de informática costumam aumentar. A empresa contratou 60 funcionários para a fábrica no final do ano e outros 30 estão sendo contratados em janeiro. A Papillon Indústria e Comércio de Embalagens, no Rio, está trabalhando a toda carga. "Janeiro deste ano vai ser melhor que o de 2004 que já foi melhor que o de 2003", disse Ângela Costa, presidente da empresa. A Papillon produz mensalmente 600 toneladas de embalagens de papelãoe esperar produzir entre 700 e 800 toneladas/mês em 2005.